Sem humor, não dá. A HQ “A origem do Mundo – uma história cultural da vagina ou a vulva vs. o patriarcado“, da escritora sueca Liv Strömquist, e que já foi editada em mais de 25 países, serviu de inspiração para o espetáculo “A origem do Mundo“, que acaba de estrear no Rio. Arrebatada pelo contato com esse anárquico libelo feminista, a atriz, apresentadora e escritora Luisa Micheletti foi tomada pelo desejo de adaptá-lo para o teatro e expandir essa didática bem-humorada e instigante de Liv Strömquist para o público brasileiro. Na esteira, a atriz faz duplinha com Julia Tavares e a direção fica por conta de Maria Helena Chira.

Após aclamada temporada em São Paulo — tendo recebido cinco estrelas do jornalista e membro APCA, Miguel Arcanjo , a peça chega ao Teatro Glaucio Gil, em Copacabana, para uma curta e disputadíssima temporada, na qual as atrizes encaram com humor diferentes linguagens teatrais e recriam passagens importantes da história, questionando nomes como Freud, Sartre e até mesmo a NASA em relação ao que foi dito sobre a vulva e a vagina. Após a estreia na última quinta-feira (7/9), a peça se estende até o dia 29 deste mês.

A peça “Origem do Mundo” estreia curta temporada no Teatro Glaucio Gil (Foto: Divulgação)

RINDO DOS EQUÍVOCOS, EXALTANDO AS VERDADES

O livro — e a peça —, cheio de informações de potencial interesse pouco difundidas, destaca fatos como a tardia descoberta de que o clitóris, bem mais que um “pequeno ponto”, é um órgão complexo com cerca de dez centímetros. Ou ainda o episódio da sonda Pioneer, lançada pela NASA em 1972, que enviava a supostos alienígenas representações dos seres terrestres com ilustrações que exaltavam o pênis masculino e nada mostravam da genitália feminina.

O livro coloca em xeque até mesmo pensamentos equivocados de figuras luminares como o psicanalista Sigmund Freud (1856-1939) e o filósofo Jean-Paul Sartre (1905-1980): o primeiro, por ter disseminado a tese de que haveria duas formas distintas de orgasmo feminino, o vaginal e o clitoriano; o segundo por ter estabelecido uma afrontosa analogia da genitália feminina com um “buraco”. Absurdos históricos como estes são levados à cena de forma irônica e bem humorada pelas atrizes.

A peça “Origem do Mundo” estreia curta temporada no Teatro Glaucio Gil (Foto: Divulgação)

“A ausência da tal ‘linha’ que define a vulva continua firme e forte em bonecas, manequins e ilustrações, indicando que a genitália feminina mais se aproxima de ‘nada’ do que de ‘algo em si'”, explica Luisa Micheletti. Julia Tavares completa: “Queremos furar bolhas, falar não só para as mulheres, porque isso é algo urgente. E o humor é a melhor forma de fazer isso, porque podemos dizer coisas duríssimas e divertir ao mesmo tempo. Ninguém quer sair de casa só para apanhar”.

A peça “Origem do Mundo” estreia curta temporada no Teatro Glaucio Gil (Foto: Divulgação)

A MONTAGEM

A montagem investe num jogo que imprime o ritmo frenético das HQs, com direito a duas paródias musicais assinadas por Luisa e Julia —  uma inspirada num clássico de Zezé Di Camargo & Luciano e outra no tema do musical Os Miseráveis, de Claude-Michel Schönberg. O cenário é composto por pilhas de livros que representam variados elementos. Mesmo se concentrando na comicidade, a peça, assim como o livro, também produz momentos de grande densidade, como explica a diretora: “Esse é o tipo de dramaturgia que não se encerra nunca. O texto é muito vivo, se ajusta ao discurso conforme tudo acontece.

O livro tem essa estrutura de informar, de dar os dados em meio à coisa sarcástica, em meio à momentos de porrada. O misto das duas coisas será pontual pra que as pessoas voltem para casa e pensem mais profundamente sobre o que viram”, conclui Maria Helena. Vale a ida ao teatro!

A peça “Origem do Mundo” estreia curta temporada no Teatro Glaucio Gil (Foto: Divulgação)

Serviço:

A Origem do Mundo

Local: Teatro Glaucio Gil

Endereço: Praça Cardeal Arcoverde, S/N, Copacabana – RJ

Datas: de 07 a 29 de setembro

Horários: quintas e sextas às 20h

Valores: R$60 e R$30 (meia)

Bilheteria: a partir das 16h

Vendas online: https://funarj.eleventickets.com

Duração: 60 min

Classificação: 16 anos

Gênero: comédia

Capacidade: 100 lugares

Acessibilidade: sim

*Por Andrey Costa

Foto destaque: Divulgação

Sobre o autor

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Manauara autoexilado no Rio, encontrou refúgio na palavra através da Escola de Comunicação da UFRJ até ser seduzido pelo poder da imagem no curso de Design de Moda da Estácio. Além de dar expediente como editor-assistente no Ás na Manga desde 2016, cuidando das editorias de moda, música e arte, também dá conta de um brechó online chamado MEU MEU, fruto da facilidade de garimpar preciosidades fashion. Por isso, não se surpreenda ao encontrá-lo mergulhado nas araras das lojas do eixo Rio-São Paulo ou com cara de enfezado em algum café de livraria, rascunhando matérias/transcrevendo entrevistas, pois é assim que ele alcança a plenitude dos prazeres terrenos.

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