Um evento plural como a São Paulo Fashion Week é marcado pela renovação de marcas. Se algumas grifes são tradicionais no line up desde as primeiras edições, é natural que, pela própria evolução do mercado, alguns estilistas dêem vez a outros que despontaram nesse meio tempo. Evolução do mercado ou seleção natural. Nem sempre importam os motivos da renovação, mas é fato. Com os novos ventos que sopram em prol de uma maior agilidade na conexão entre lançamento e vendas, novos talentos surgiram nesta 43ª edição do evento.
Além de Fabiana Milazzo, egressa do Minas Trend, da TIG (ex-Tigresse), que apresentou coleção glacial over-oitentista em seu début, e das marcas que se exibiram no Projeto Estufa, grifes como Alexandrine por Batista Dinho, A.Niemeyer, Atelier Sissa e Two Denim (ou 2DNM) fazem parte da turma de novatos na passarela da SPFW.
Entre peças soltas ou volumosas em (muito!) branco, turquesa e terrosos, a A.Niemyer vai da tundra siberiana aos desertos gélidos e fiordes escandinavos para apresentar uma moda gostosa, confortável e luminosa, repleta de fibras naturais, sobretudo lã. É estilo da melhor qualidade pronto para ser usado com flats por quem curte se sentir à vontade, tem tutano no cérebro e não admite panicats embaladas à vácuo contaminando o imaginário da moda.
Jeans na passarela é que nem lingerie. Se for básico, não vira show no catwalk, a não ser que a marca prefira por de pé um circo, como é o caso da Victoria’s Secret. Mas, tendo o denim como matéria-prima, que espetáculo de produto é a 2DNM, que fez um dos melhores desfiles da edição.
Obviamente, a marca não primou pelos modelitos básicos. Viajou na macarronada a partir do jeans, trabalhando com várias lavagens de delavê, acrescentando muito algodão branco, malhas mescladas e sarjas em cinza, grafite, marrom militar & bege. Nas formas, referências peruanas. E ainda aprontou com patches e se esbaldou com tricôs. Em destaque, hoodies, jaquetas, camisas com sobreposição de pelerines, amarrações, babados em cascatas e toques vitorianos. A salada deu certíssimo!
Ex-booker da Way, Dinho Batista sonhava ser estilista quando veio para São Paulo, mas se tornou coach de tops e tem na manga o afeto delas. Assim, não era difícil imaginar que lacraria naquilo que manda muito bem: convocou as amigas modelos Emanuele de Paula, Cintia Dicker, Michele Alves, Fernanda Tavares e Carol Ribeiro para engrossar o casting do seu desfile de estreia.
Mas, quem imaginou que tudo ficou por aí se enganou em gênero, número e grau: o moço, com o empurrão da poderosa Alexandra Fructuoso (à frente da marca de roupas de festa Alexandrine), criou uma coleção de vestidos e alfaiataria bacanudos, com transparências e fluidez na qual a vedete é um trabalho de tressê de fitas danado da breca.
Com um plus: a cartela de gamas secas – preto, cinza e off white iluminados por um verde maçã – se encarrega de reforçar essa postura fashion de quem, apesar de ter demorado quase duas décadas para realizar um desejo, viu de perto as coleções de todo mundo. Taí: como estilista, Dinho é fruto de tudo aquilo que passou pelas suas mãos no backstage, como um glutão que, de tanto saborear quitutes de primeira, virou chef de cuisine.
Low profile, chegada às estampas e com um jeito descontraído que lembra a moda carioca, a Sissa, de Alessandra Affonso Ferreira (ex-Isolda) nasceu ano passado e tem QG no Itaim Bibi paulistano. Ela estreou na SPFW en petit comité – apresentação-instalação no atelier em Pinheiros, com modelos de estátua vivas defronte a cortinas feitas com biscoito de polvinho. E fez bonito. Cheia de referências étnicas, ela vasculha o Irã, Àfrica e Bahia para dar cabo de uma moda descompromissada, agradável e fresca que, se não é original, é muito bem-feita e tem lá sem público.
Caftãs, listras, folhas e florais exóticos aproximam a grife de gente na mesma vibe como Alessa, Farm e Adriana Barra, mas por que não? É lifestyle e mais alguém nessa verve é sempre bem-vindo! ÁS também amou os macacões com faixas na cintura e o print de calango.
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