Dani Acioli reproduz mulheres e curte falar com o além. Explica-se: a artista plástica recifense, 41 anos, começou a desenhar ainda criança e tem predileção por mulheres lânguidas, criando formas como iemanjás e abaporus à la Tarsila. São seres esguios de trompa, talhados na tinta, unidos pela introspecção e pelo afeto, geralmente em efeito que lembra xilogravura. Agora, ela expõe na Cidade Maravilha, no Espaço GaleRio, a mostra Trama: diálogos com Zuzu“, na qual apresenta obras inspiradas na estilista Zuzu Angel.

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Dani Acioli: mostra de desenhos que parecem xilogravura traça um paralelo na dor, brutalidade e minúcia entre o trabalho da artista e a brasilidade de Zuzu Angel (Foto: Helder Ferrer / Divulgação)

A convite da Prefeitura do Rio de Janeiro e numa parceria entre o EixoRio e o Instituto Zuzu Angel, ela exibe o resultado dessa pesquisa feitos a nanquim sobre  papel amarelo, na qual procura evocar o delicado trabalho artesanal da designer que preconizou a moda brasileira num estilo único que até hoje influencia, direta ou indiretamente, marcas de sucesso como a Farm.

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Dani Acioli: artista recifense chegada aos rabiscos na pele procura traçar no papel a dor de Zuzu Angel ao lado do mesmo apreço pela valorização do regionalismo que a estilista mineira radicada no Rio possuía  (Foto: Helder Ferrer / Divulgação)

Vibrante, ela filosofa, falando do seu trabalho: “Somos teias, recortes, enlinhados e vamos nos tecendo, cravando em carne viva na pele. Somos um conjunto de marcas, de emendas que fazemos ao longo do nosso caminho. E temos beleza por isso”, vocifera, com a  mesma intensidade com que tenta emular no papel aquilo que lhe inspira na trajetória da carioca morta em 1976.

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Mulheres doloridas em vaginas: feminilidade bruta é matéria-prima para os desenhos de Dani Acioli inspirados por Zuzu Angel (Foto: Helder Ferrer / Divulgação)

No resultado, Dani Acioli procura estabelecer um paralelo entre as minúcias do seu processo criativo e a explosão da brasilidade em Zuzu, a primeira a cunhar universalidade no artesanato brasileiro vertido em moda. O tempo do bordado e das tramas tecidas artesanalmente encontra similaridade na forma com que desenha, como se estivesse “cavando” o papel numa xilo.

Tudo muito visceral, mas na opinião da moça, bem feminino: “É necessário falar das mulheres, da nossa dor, nossa nossa força. Nosso prazer é calado, cortado, tolhido desde que a gente nasce. Nós nascemos e vivemos com regras. Neste mundo, a gente se rasga e está se parindo constantemente, sempre com muito esforço. Para se colocar, a gente quebra meio mundo. Então, essa delicadeza está próxima à do parto, que também é bruto”. Daí, óbvio, o excesso de alusão às formas vaginais preenchidas com figuras como figas ou faces sofridas.

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“Trama: diálogos com Zuzu”: exposição de desenhos de Dani Acioli, no Rio, traça um paralelo entre a regionalidade do trabalho da autora e o aspecto artesanal do legado da estilista assassinada pela ditadura militar (Foto: Helder Ferrer / Divulgação)

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“Trama: diálogos com Zuzu”: exposição de desenhos de Dani Acioli, no Rio, traça um paralelo entre a regionalidade do trabalho da autora e o aspecto artesanal do legado da estilista assassinada pela ditadura militar (Foto: Helder Ferrer / Divulgação)

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“Trama: diálogos com Zuzu”: exposição de desenhos de Dani Acioli, no Rio, traça um paralelo entre a regionalidade do trabalho da autora e o aspecto artesanal do legado da estilista assassinada pela ditadura militar (Foto: Helder Ferrer / Divulgação)

E, como o mundinho dos artistas costuma ser cenário à parte, Dani ainda apresenta na expo carioca dois objetos: um relicário de madeira contendo um desenho bordado em cima de renda renascença tingida de preto, e outro em alto relevo, talhado a laser, no qual faz referência à matriz da xilogravura (feita em madeira), uma das referências visuais da carreira da artista, embora nunca tenha talhado de fato.

Serviço:

Exposição Trama: diálogos com Zuzu

Espaço GaleRio – Rua São Clemente, 117 A, Botafogo, Rio de Janeiro – ao lado do Metrô Botafogo.

Em cartaz até 26 de agosto de 2016.

De segunda a sexta, das 10h às 18h.

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