A presença de Lino Villaventura no line up de um evento de moda é algo que sempre desperta atenção. No caso da sua estreia na edição inverno 2016 do Minas Trend, a curiosidade estava voltada para duas questões: como ele, que faz roupa de luxo de maneira tão peculiar, se inseriria dentro do contexto do maior evento de moda festa do país? Manteria sua identidade ou se renderia, de alguma forma, aos cânones comerciais do salão negócios? E, afinal, se sua proposta agora é mostrar uma roupa mais comercial do que as coleções desfiladas na SPFW, em que direção ele seguiria enquanto criador? Bom, Lino é Lino e sempre surpreende. Não foi diferente dessa vez, quando abriu o segundo dia de desfiles.

Para quem esperava mais do mesmo – naturalmente dentro de uma suposta simplificação de acabamentos para baratear custos e viabilizar uma segunda linha – o estilista já tem logo a resposta na ponta da língua, como quando conversou com o ÁS no backstage: “Não é nada disso. Não simplifiquei nada, nem estou necessariamente me rendendo a propostas mais acessíveis em função de crises econômicas, muito menos abrindo mão do meu DNA. Não ponho minha roupa de festa em estande no salão de negócios do MT porque o que faço é muito diferente, óbvio que tem mais valor agregado e custa mais. Quem quer a minha roupa já vem direto”, esclarece. E completa: “Como também a proposta daquilo que está agora na passarela continua não vindo de nenhuma tendência; a inspiração continua dentro de mim. Não se trata de um caminho linear tipo ‘vamos fazer uma segunda linha mais em conta para ganhar dinheiro’. Claro que todo mundo quer faturar e eu também. Mas o conceito aqui é trazer do meu inside um outro percurso na elaboração das peças, mais casual sim, mais usável até de dia, mas um exercício que impregna o resultado com a minha essência de sempre”.

Aroma sessentinha: com Daiane Conterato no meio, a trinca que abriu o desfile de Lino Villaventura no MInas Trend parecia até imagem clássica da Rhodia - Inverno 2016 (Foto: Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Perfume sessentinha: com Daiane Conterato no meio, a trinca que abriu o desfile de Lino Villaventura no Minas Trend parecia até imagem clássica de show da Rhodia (Foto: Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Uma coleção essencialmente em preto e branco, jovem, a partir de três looks com aroma sixties, alvoroçou o público que pode perceber na edição, do início ao fim, uma evolução de peças mais “dia” para outras “mais de festa”, que tinham como base a camisaria. Claro que esse conceito de uso “dia” ou “noite” vai vir da própria personalidade de quem usa e de como a cliente entende o seu estilo pessoal. Algumas peças são absolutamente polivalentes e ÁS, numa epifania criativa, consegue até imaginar quem usaria este ou aquele item sob a casualidade da luz do sol ou num badalo noturno: “Hum, esse look tem tudo a ver com a chiquetude andrógina da Barbara Paz. A cara da Mayana Moura, essa montagem! Esse vestido é a cara da Solange Meneghel, irmã da Xuxa, ela vai amar…” E por aí vai!

Lino Villaventura no Minas Trend - Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend - Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend - Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend: o print optical localizado na coleção inverno 2016 vestido… (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

...E a referência do desfile de verão 2011na SPFW que inspirou a estampa (Foto: Reprodução)

…E a referência do desfile de verão 2011, do estilista, na SPFW, que inspirou a estampa (Foto: Reprodução)

A novidade mesmo vem do fato de a camisa de cambraia ser a linha condutora de todo o desfile. Camisas, chemises e chemisiers trabalhados com toda a pompa no repertório do artista – bordados, aplicações, pregas, nervuras, barras elaboradas, richelieu e repuxados típicos – ganham ares de item exclusivo e as possibilidades de uso se estendem para várias situações. Coisa rica para gente com bom gosto e personalidade ímpar, que faz este jornalista se lembrar dos tempos de coordenador de moda, quando viajava para Paris na virada dos anos 1990 e ficava enebriado com a Le Garage, uma fantástica marca só de camisaria bacanuda. Pois é, o desfile de Lino foi assim: inteiramente novo, sem perder o sangue azul, mas também provedor daquela sensação prazerosa de resgatar as emoções agradáveis de um passado remoto. Como o crítico de gastronomia do desenho animado “Ratatouille” (Pixar), que recupera memórias da infância quando saboreia o prato preparado pelo ratinho…

Lino Villaventura no Minas Trend - Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend - Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend - Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend - Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend - Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Lino Villaventura no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto: Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Claro que, ao longo do desfile, os looks vão se sofisticando, ganhando mais aplicações e os curtinhos viram midi e vão aumentando de comprimento até chegar à sequência de longos no final. E essas montagens do ápice até se aproximam daquele visual de um desfile clássico de Lino na SPFW, mas como menos elementos de styling, daqueles que causam a estranheza-conceito típica de passarela. Aí é que está o charme: esperar duas semanas ainda para ver o que ele vai mostrar em São Paulo e sentir a continuidade de caminho, se houver. É possível que haja, afinal. E são essas possibilidades de nuances que tornam a obra de Lino Villaventura tão valiosa.

Em tempo, um detalhe com direito a risos no camarim: Lino manda na lata “Pois é, não dava para por cabeças fenomenais nas modelos, daquelas que eu amo de carteirinha, rs! Mas não resisti, pelo menos uma faixa tive que por na cabecinha das tops…”

Lino Villaventura Minas Trend - Inverno 2016 Foto : Marcelo Soubhia/ FOTOSITE

Alicia Kuczman e a faixa usada como elemento de styling no 1º desfile de Lino Villaventura no Minas Trend (Foto : Marcelo Soubhia/ FOTOSITE / Divulgação)

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