A São Paulo Fashion Week é cultura. Por isso mesmo, o evento costuma abrir seus tentáculos para além das salas de desfile. Nesta edição, um dos destaques é a exposição “À Flor da Pele“, que registra em 150 imagens o modo de se registrar a figura feminina nas últimas décadas através da fotografia de moda. Significativo se considerarmos que a própria evolução da sociedade moderna, no âmbito da história da comunicação, se intensificou no século 19 com o surgimento e a consolidação de uma nova imprensa feminina que alçava a mulher ao posto de ícone master da sociedade de consumo. Com esse olhar antropológico, ÁS compareceu no badalo de inauguração na noite desta quarta-feira (21/10), na Praça das Artes, em São Paulo, para trocar um plá esperto com o mago das lentes Bob Wolfenson, um dos curadores – ao lado de Helio Hara e Ricardo Feldman – dessa relíquia, posta de pé com o patrocínio da C&A.

No vernissage, o trio por trás desse registro da mulher: da esquerda para a direita, Ricardo Feldman, Bob Wolfenson e Helio Hara (foto: Ali Karakas e Ricardo Cardoso / Divulgação)
De divas dos anos 1970 – como a musa Leila Diniz, Danusa Leão, uma Susana Vieira pré-fase “bota para quebrar”, Betty Faria no auge do “Bye Bye Brasil” e até Gloria Kalil e Costanza Pascolato na flor da juventude –, passando por bombshells arrasadoras tipo Sandra Bréa (tipo vedete ou quase chacrete, e seminua) até criaturas performáticas como Rita Lee e Elke Maravilha, a expo se divide em módulos temáticos com sugestivos nomes como “Fetiche” ou “Flagrantes”. E inclui até uma fotografia de Luiza Brunet de cabelos curtinhos, com um frescor que até lembra a época em que sua imagem era uso capião de Humberto Saade e sua Dijon.

Luiza Brunet: eterna modelo-celebrity acima do bem e do mal, a matogrossense posa para as lentes de Daniel Klajmic (Foto: Divulgação)

Bem-nascida: Costanza Pascolato exala seu savoir-vivre sob o olhar privilegiado de Lew Parrella (Foto: Divulgação)
Nomes – ou grifes do registro chique – como Gui Paganini, Murillo Meirelles e André Vainer contracenam com gente bacana que se tornou lenda num passado nem tão remoto, como Luiz Carlos Barreto, Marisa Alvarez Lima, Antonio Guerreiro, Paulo Garcez, Bubby Costa, Sérgio Jorge e Zé Antonio Moraes. Tudo material do vasto acervo da revista s/n°, editada por Wolfenson e Hara e que este ano completa uma década. É Bob quem fala: “Sempre privilegiamos o resgate de gente fina, elegante e sincera que fez a história da fotografia acontecer no país. É natural que possamos agora migrar das páginas da nossa publicação para as paredes de um espaço cultural”, comenta, lembrando que completam o timaço artistas do calibre de Otto Stupakoff, Rochelle Costi e até OsGemeos e os Irmãos Campana.

Pérola brazuca: o trabalho de bambas como Otto Stupakoff é resgatado pelo trio Wolfenson, Feldman e Hara nessa mostra (Foto: Divulgação)

“A menina sem sal”, obra de OSGemeos, é parte integrante da exposição “Á Flor da Pele” (Foto: Divulgação)
Sobre a banalização das imagens nessa era de reprodutibilidade sem fim, o fotógrafo dá a deixa: “Tem coisas boas e ruins. Nunca se produziu tanta foto quanto hoje. Temos muito lixo circulando e muita gente péssima, com trabalhos sem a menor qualidade ou relevância. Mas existem muito mais oportunidades hoje e surge a toda hora profissionais ótimos, talentos que não teriam chance ou acesso na época da fotografia analógica, dos negativos, dos cromos, antes do digital. A Era da Comunicação democratizou o meio para o bem e para o mal”.

O estilo moderno de Jacques Dekequer é resultado da fornada de talentos que surgiu na virada do milênio, já sob a ótica da fotografia digital (Foto: Divulgação)
Na expo, estão retratos de Giselle Bündchen, Leticia Sabatella, Fernanda Young, Fernanda Montenegro, Shirley Mallmann, Fernanda Torres, Fernanda Lima, Camila Pitanga e Cynthia Howlett (as quatro últimas fotografadas durante a gravidez), estilistas históricos como Dener e Clodovil, além de baluartes de Hollywood como Marlene Dietrich e Marylin Monroe.

Primeira top brasileira da leva dos anos 1990 a fazer sucesso no exterior, Shirley Mallmann mostra o seio para Tiago Molinos (Foto: Divulgação)
E, numa mostra onde se vê imagens de 20, 30 ou 40 anos sem nenhuma interferência digital na edição ao lado de produções contemporâneas retocadas ao extremo, Bob Wolfenson também estabelece os critérios que levam o olhar de um universo ao outro: “Tudo tem sua beleza e as mulheres estão aí para provar isso. Se o Photoshop é um recurso que facilitou, estilizou e idealizou a produção de imagens e de sentidos a partir do excesso de tratamento, criando uma estética própria e hiperrealista, por outro lado, observar todas essas mulheres geniais imortalizadas nesses cliques sem qualquer ajuda de recurso além da maquiagem e da luz prova o quanto esses corpos eram fabulosos. Os corpos estão contextualizados no período ao qual eles pertencem. O ‘ontem’ e o ‘hoje’ são patamares diferenciados do espetacular”, enfatiza. No mais, Bob destaca, entre tantos mitos expostos nus e crus, quem lhe chama atenção nessa mostra: “Leila Diniz. Que mulher fabulosa!”

“Dorothée”, de Sergio Jorge, revela mulheres de uma fase em que o espetáculo fotográfico ainda não se condicionava às camadas de layers (Foto: Divulgação)
No agito de abertura, a mostra contou com uma fauna diversificada, mas intelectual, todos curiosos para conferir de perto esse panorama do feminino: o diretor criativo do SPFW Paulo Borges, Graça Cabral, o designer Humberto Campana, o diretor de cinema Alexandre Chalabi, o crítico gastronômico Josimar Melo, o secretário Municipal de Cultura Nabil Bonduki, o artista plástico Ucho Carvalho, o galerista André Milan e demais celebridades de outros universos compareceram ao evento.
Confira quem passou por lá (Fotos de Ali Karakas e Ricardo Carodos (Divulgação):
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Serviço
Exposição “À Flor da Pele“
Curadoria Bob Wolfenson, Helio Hara e Ricardo Feldman
De 22 de outubro a 20 de novembro de 2015
Visitação de segunda a sábado de 10h as 20h, domingos de 10h as 18h.
Entrada franca
Praça Das Artes – av. São João, 281- centro – São Paulo
Próximo às estações Anhangabaú e República do metrô
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