Diferente do Oscar, Globo de Ouro, Emmy, da Croisette em Cannes e de outros badalos internacionais, festa de cinema no Brasil é quase black tie. Afinal, para os cariocas divididos no Festival do Rio entre a noite de gala, red carpets e sessões especiais, predomina a diversidade e o dress code se torna apenas elemento de trocadilho para falar da informalidade natural da urbe. Desde quando o evento começou, na noite desta quinta-feira (1/10), ÁS tem circulado pelos diferentes agitos a fim de conferir a badalação.
Entre o tapis rouge de do documentário “Chico-Artista brasileiro”, de Miguel Faria Jr., e a festa de abertura, na The Week, passando pelas diversas mostras e os concorridos workshops do Rio Market na bela sede do festival, na Avenida Rui Barbosa, ÁS procura investigar o momento atual. Gancho para tanto não falta: o ciclo de cine noir mexicano que o evento contempla é tempero perfeito para uma pergunta que não quer calar: afinal das contas, qual poderia ser o nome de um filme que espelhasse o contexto do Brasil de hoje? Bom teve quem se aproveitasse da tal mostra latino-apimentada para se apropriar de nomes dignos de dramalhão hispânico, alguns impublicáveis. Confira!
Avassaladora não apenas pelo decote e cabelão, mas pela sensualidade natural que lhe cabe, a atriz e escritora Suzana Pires solta sem dó, nem piedade: “O Sofrimento de Maria”. A moça ainda brinda o ÁS com interpretação belíssima e deliciosamente engraçada de como seriam as primeiras cenas do filme. “Um monte de brasileiras se f$#@¨& e ralando para pagar a conta de luz no fim do mês”, ilustra.
Mas Suzana não é a única. Quem também enxerga o filme-síntese do Brasil atual como um drama da Vênus sofrida é a diretora executiva do evento Ilda Santiago que sugere “La diosa arrodillada”, clássico que será oferecido aos cinéfilos nesta tarde de sábado (3/10) e que depois tem reprise na próxima sexta-feira (9/10). Para quem não sabe, a tradução literal do título em espanhol é “A deusa ajoelhada”. É, faz sentido. Ilda explica: “Porque somos deusas, mas estamos na TPM”.

Suzana Pires e Ilda Santiago: mulheres à beira de um ataque de nervos num Brasil do caos (Foto: Ana Colla)
Confira abaixo o trecho de “La diosa arrodillada” (Reprodução):
No périplo para descobrir o nome adequado para esse suposto filme pós-retomada, ÁS encontrou de tudo. Houve quem evitasse discorrer diretamente sobre o tema, como a cantora Miúcha, saindo pela tangente, mas atribuindo o apagão à falta de criatividade: “Ih, não sou boa nessas coisas”.
Mesmo argumento foi dado, naturalmente, pelo ator Antonio Pitanga, que prefere dizer que também não estava inspirado para criar um nome. Mas ÁS encontrou um verdadeiro braquiossauro do cinema brazuca – o produtor Luiz Carlos Barreto, o Barretão – que, ao contrário dos dinossauros, já sobreviveu a muitos meteoros econômicos e continua na ativa. Para ele, o filme do Brasil agora é uma comédia: “É mais cômico do que dramático”, diz. Não chega a arriscar um título, mas proseia sobre os vários Brasis que ele já conheceu, arriscando: “Estamos repetindo vários episódios que aconteceram de forma muito pior em outros tempos, é quase uma série. O Brasil é um país autista!”

Antônio Pitanga (dir.) ao lado do filho Rocco (esq.): Brasil atual lhe tirou inspiração (Foto: Ana Colla)
O cineasta Zelito Viana não está nada otimista: “Tragédia anunciada”. Da mesma forma a atriz Antônia Fontenelle – pura ostentação no red carpet com direito até a assistente a tira-colo para segurar a cauda do vestido – dispara o derrotismo: “Para ficar bem dramalhão mexicano você traduz para o espanhol depois esta frase ‘Estamos fodidos?’”.
Já o gerente de cultura do Oi Casa Grande, patrocinador do evento, Roberto Guimarães, prefere direcionar o foco para o evento mesmo, disparando o enorme nome do sua película imaginária: “El Mondo passará, Brasil passará, pero el festival viverá”. Com direito a sotaque latino…
Quem fecha essa enquete com o esplendor que lhe cabe é Betty Faria, estrela de tantos longa-metragens como “Bye Bye Brasil“. A atriz faz questão de mostrar que idade é sinônimo de beleza peculiar, assumindo cabelos branco-acinzentados e um decote em renda guipure no longo preto. Escolada, ela valoriza o detalhe na hora da foto, retirando a echarpe da frente e mostrando um colo de responsa, muito mais digno que maracutaias de políticos com empreiteiras. E, se não chegou a sussurrar um título específico para o país, deixa uma pergunta no ar: “Que nome de filme pretendemos dar ao Brasil? Penso que seria um daqueles filmes da Atlântida, dos anos 1950 com todos aqueles apetrechos, palhaçadas e papagaiadas”, brinca. Faz sentido…
Leia o artigo do ÁS sobre a mostra de cinema mexicano no Festival do Rio e confira abaixo as fotos exclusivas de Ana Colla daquela gente bonita, elegante e sincera que anda circulando pelo badalo, cujos cliques inspiram o ÁS a criar legendas dignas de película mexicana – uma brincadeira, of course!
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