Carioca da Região Serrana, o estilista Hermes Inocencio mostra que é tenaz como convém a um taurino. Na contramão do mainstream, celebra neste domingo (17/12) os dois anos de sua loja com happening que avança pela calçada, ali mesmo em Ipanema. “Vou botar um red carpet feito urucum e mandar ver”, ameaça. A sunset party que começa às 16h apresenta sua nova coleção de alto verão, “Amazônia“, que ele faz questão de explicar: “Minha moda é viva, estampada, exuberante. Como a maior selva do planeta, que tem muita semelhança com o carioca way of life. Não revelo somente as belezas da mata virgem, fauna, flora, folhagens, mas denuncio a devastação, as queimadas, a exploração voraz do meio-ambiente, assim como acontece com a especulação nesse Rio que amo”, revela o moço de 49 anos. “Não foi assim por aqui, igualzinho à floresta? Vieram todos, usaram o Rio da Copa, das Olimpíadas e agora estamos ao deus-dará!”, protesta.

Menino do Rio, do viaduto de Madureira à croisette de Ipanema: estilista autodidata lança coleção neste domingo em frente à sua loja,que traz o doberman como logotipo: “Faço moda agressiva!”, confessa (Foto: Wagner Carvalho / Divulgação)
Na labuta desde 1994, Hermes não aposta na tradição. Não faz anúncio, não investe em campanhas rocambolescas com modelos famosos, não participa de semana de moda. É modesto, ao contrário da sua moda coloridésima, feita para causar da naite ao calçadão, para estar na pista. “Comecei aos 14 autodidata, aprendi a costurar com minha mãe e, quando desisti de ser modelo, caí no estilo participando de eventos alternativos de novos criadores: Mercado Mundo Mix, Babilônia Feira Hype, a feirinha daqui do Galeria Café“, comenta apontando para além da esquina, onde fica o clube gay que atrai locais e turistas com festas como a Treta.

Arara babadeira: fama de Hermes Inocencio entre o público gringo e gay que frequenta as imediações da icônica Farme de Amoedo, em Ipanema, se consolidou com sua participação na feirinha do Galeria Café, reduto da turma LGBT (Foto: Reprodução)

O ator Roberto Birindelli é um daqueles héteros famosos que costumam dar uma conferida nas coleções de Hermes Inocencio. Seu estilo efervescente tropical segue o percurso exuberante de outros criadores de moda masculina cariocas, como Simon Azulay, Luis de Freitas, Beto Neves (Complexo B) e os atuais queridinhos do segmento na mídia, Thomas Azulay e Patrick Döering, da The Paradise. Com um detalhe: Hermes assume que faz moda para inglês ver. De preferência, gay… (Foto: Wagner Carvalho / Divulgação)
“80% do meu público é gringo e gay”, revela o designer, que agrada em cheio aqueles turistas que batem ponto no Rio de novembro a março, fazendo da Cidade Maravilha a tal fama do melhor destino gay do mundo da qual a atual prefeitura parece querer se desvencilhar. “Minha moda é agressiva, é para causar, fritar, hypar, sensualizar. Nem sempre os brasileiros entendem isso. Rebolam no pancadão, depois esquecem e fazem a egípcia. Estrangeiro é bem-resolvido, assume o que gosta e se identifica comigo porque só faço um verão que eles não têm”, dispara Hermes com uma verborrágica metralhadora exocet que causaria inveja à Kátia Flávia, a antiheroína da música de Fausto Fawcett.

Superpop: irmão da apresentadora Luciana Gimenez, Marco Antonio Gimenez posa com camiseta de Hermes Inocencio que traz estampado um ícone gay de outrora acima do bem e do mal: (Foto: Divulgação)

Super colorido, mega printado e sempre ultra blaster verão, o estilo de Hermes Inocencio é, segundo o próprio estilista, para quem não tem medo de ser feliz, seja homo ou hétero… (Foto: Reprodução)
“Sabe aquela frase final de “…E o vento levou”, em que o Capitão Butler (Clark Gable) manda um shade para a Scalett O’Hara (Vivien Leigh): ‘Frankly my dear, I give you a damn’? [francamente, querida, não dou a mínima para você]. “Então, estou me lixando para a moda da TV. Gosto do estilo autêntico, da rua, da vida, da praia. É por isso mesmo que acabei me tornando amigo dos figurinistas. Algum tempo depois que comecei, havia uma turma que me gongava, dizia que eu fazia moda para o Agostinho (Pedro Cardoso em “A Grande Família“). Não é que a arte imitou a vida e minhas criações acabaram incorporadas ao guardarroupa do personagem?”, ri.

Barraca de frutas: campanha da nova coleção de Hermes Inocencio, que tem como modelo o ator Paulo Lessa, foi clicada na feira livre da General Osório, pertinho da loja (Foto: Divulgação)
Foi justamente nesse autêntico percurso de esnobar o star system que Hermes Inocencio acabou conquistando os famosos, como Toni Garrido, Sergio Marone, Bruno Garcia e Chay Suede. “Acredito que eles vejam meu trabalho como uma moda sincera. Misturo o sportswear com a alfaiataria e impregno tudo de muita estampa. Sou assim, faço moda para mim mesmo, embora venda algumas peças que eu não vestiria”, revela em verve quase psicanalítica.

Chay Suede (à esq.) posa ao lado de Hermes Inocencio (à dir.) vestindo uma de suas criações: designer que afirma não se render ao sistemão, no fundo, fica contente quando percebe o reconhecimento dos famosos (Foto: Wagner Carvalho / Divulgação)
E termina citando um de seus clientes-celebs mais fieis, Alexandre Nero: “Ele volta-e-meia está aqui ou pede para a mulher, a Karen [Brustolin] passar. Ele se empolga com o que for mais over, até porque tem cabeça libertária, é músico também. Quando a arara está muito básica, só falta gritar: ‘Pô, Hermes, isso não é você!”.
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