Lino Villaventura é danado! Em meio às discussões sobre os mecanismos que abreviam o processo entre a apresentação das coleções nas semanas de moda e a necessidade de tempo para dar conta da qualidade de uma moda autoral perene e qualificada como slow fashion – cujo ápice é a própria São Paulo Fashion Week abolir a designação das estações e passar a funcionar como plataforma de lançamentos que mal saem da passarela já estão à venda -, o estilista, que pela própria natureza de seu trabalho provavelmente não vai se render nunca ao see now, buy now – resolveu entrar nessa discussão transformando sua habitual performance em ponto de partida para levantar essa lebre dentro de um outro percurso da cadeia produtiva: a comunicação.

Alicia Kuczman embarca na cena teatral de Lino Villaventura na apresentação desta sexta-feira (29/4) na SPFW N41 (Foto: Marcelo Soubhia / FOTOSITE / Divulgação)
Ao invés de uma passarela tradicional, o designer verteu a Sala Casa das Canoas da SPFW em um estúdio fotográfico no qual as modelos, ao invés de um longo percurso, paravam no set para serem clicadas pelo fotógrafo de moda Miro sob os olhares da plateia, que podia observar a roupa e ao mesmo tempo se deleitar com suas poses teatrais diante das lentes. Ora, se a questão hoje diz respeito à redução do trajeto entre produção industrial, exibição no desfile e chegada às araras, por que não dar conta também da diminuição do trajeto entre o catwalk e a sessão de fotos para a campanha?
“Meu teatro está mantido. Só me preocupo com o minutinho que o Miro terá para clicar cada top dentro de uma sessão fotográfica que é show ao vivo”, questionava um entusiasmado Lino no backstage antes de o desfile começar, enquanto mostrava a beleza criada por Marcos Costa com produtos da linha “Aquarela“, da Natura.
Bobagem. Quem conhece Miro sabe que o bamba é tão rápido quanto seguro. Suave perde e quem já não se surpreendeucom ele chegando no set após a cena estar armada para dar cabo das imagens? Três simples cliques, sem alarde, já garantem o resultado de uma obra de arte.
Por isso mesmo, ÁS perguntou ao mestre após o desfile desta sexta-feira (29/4): “Então, quantos cliques para garantir ‘that shooting’ nesse contexto? Deu tempo, né?”. Com sua simplicidade, ele não titubeou: “Ah, uns oito ou dez! Gisela (Porto), quantos mesmo?”, procurava confirmar com sua esposa jornalista. “Ah, uns oito”, respondia ela.
Como sempre, Lino Villaventura não se rendeu a tendências e apresentou – conforme havia prometido no seu desfile da Villaventura no Minas Trend há três semanas – um desdobramento. Evolução daquilo que mostrou na passarela em Belo Horizonte. As bandagens engessadas com inscrições que encobriam os calças, pernas e braços agora sobem pelo corpo e se desdobram em adereços fantasiosos de cabeça envolvendo as modelos, daquele tipo que só o designer sabe inventar.
Figuras espaciais? Releitura de damas góticas? Freiras cibernéticas? Definir não importa; o que Lino quer é provocar, suscitar a imaginação de quem vê suas loucas montagens. ÁS prefere acreditar que está assistindo a uma reinterpretação intuitiva das reverendas madres do clássico sci-fi “Duna“, de Frank Herbert, que foi às telas em 1984 sob a batuta de David Lynch.
No estúdio montado na SPFW, dois paineis com tecidos negros amassados formam fundo infinito com o chão de cimento e servem de moldura para criaturas mágicas – na pele de Talytha Pugliesi, Renata Kuerten, Mariane Calazan, Marina Dias, Sheila Baum, Goan Fragoso, Ariane Norbel, Alicia Kuczman, Mahany e Isabel Hickmann – se encarregam de deixar o público extasiado com sua presença, enquanto os cliques de Miro são projetados imediatamente em um telão onde ficaria a boca de cena de um desfile tradicional.
No final, o designer dá a deixa e conta com exclusividade ao ÁS: “Vou transformar as imagens em uma exposição”.
Em tempo: o make up artist Marcos Costa criou uma pele perolada e sobre as bocas e queixos salpicou uma faixa em sombra colorida. O resultado final ficou tão artístico quanto uma performance de Lino pode ser. E remete ao visual oriental futurista da Rainha Amidala (Natalie Portman), de “Star Wars: a ameaça fantasma“.
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