2016 não foi um ano tão pródigo assim para a gastronomia carioca. Não pela qualidade, mas pela crise. Várias casas fecharam as portas. Entretanto, a economia (pelo menos no setor) demonstra querer dar a volta por cima. Já era a hora. A aposta são as casas de comida descomplicada a preços razoáveis, a maioria tendo como peça de resistência os grelhados. Em Ipanema, abriu uma extensão na Zona Sul do Garnizé Galeto & Chopp onde antes ficava o Mio – restaurante de frutos do mar cuja marca era um aquário com um tubarãozinho sapeca – e, mais recentemente, uma filial do Entretapas (uma dos bons restaurantes do Rio que foi a nocaute com a recessão, snif!). Uma rua além, a Churrasqueira Rio já é sucesso. Como se não bastasse, ali pertinho, o Astor deu uma boa renovada no menu e, não longe dali, no Shopping Leblon, a Brasserie Mimolette também mexeu no cardápio. Pelas beiradas, o Bar e Restaurante Urca continua sendo uma pedidaça. Além de um dos melhores pasteis de carne do Sistema Solar, acaba de lançar mais uma versão “prato na canoa” da salada de Bacalhau ao Grão, ou seja, a opção pocket. Pocket? Bom, dá para dois, se nenhum dos comensais for chegado a uma churrascaria do tipo “pague um bife e coma um boi”.

Asinha tailandesa no Garnizé (Foto: Rodrigo Azevedo / Divulgação)

O Garnizé é o caminho das pedras para quem ama um bom galinho chicken little. Na animadíssima, coloridíssima e babadeiríssima Farme de Amoedo, a galeteria se fincou e – tomara! – dali não sai. Ao que parece, a casa entendeu que tipo de estabelecimento hoje é perfeitinho para ocupar o espaço, que até pouco tempo andava sendo chamado de caveira de burro. Amplo, bem-iluminado e convidativo, trocou o tubarão confinado no aquário pelo franguinho esparramado nos pratos, a preços bacanudos.

Asinha tailandesa no Garnizé (Foto: Rodrigo Azevedo / Divulgação)

Tem de todos os tipos, grelhadinhos, uma belezura: tradicional, com molho tailandês, italiano, à parmegiana, aos quatro queijos e o que mais der na telha, sempre servidos em duas opções de tamanho que se afinam com o grau do apetite e a profundidade do bolso. Generosas, as meias-porções saem a partir de R$ 12, como as asinhas de frango assadas na brasa. Já sua versão tailandesa, com drumetes e temperadas com molho picante e mel, ficam a R$ 15. Dá para se lambuzar de boa. Já as porções inteiras saem a partir de R$ 37,90 a simples (frango dessossado no tempero garnizé), mas ÁS vai logo avisando: vem bastante comida. No fundo, é mais jogo a turma pedir várias meias-porções e todo mundo encara um pouco de tudo, tá bom, monamur?

Frango na brasa do Garnizé Galeto & Chopp: opção popular para arrebatar a clientela carioca que anda com o bolso espremido (Foto: Rodrigo Azevedo / Divulgação)

Imperdíveis: o arroz de brócolis (meia porção R$ 10,90, inteira R$ 17,30), as batatas fritas prussianas (ou gaufrettes, se você estiver na vibe de dar pinta afrancesada, meia R$ 9,70, inteira R$ 15,90), farofinha de ovos dos deuses (mesmos preços da batata) e uma polenta crocantérrima (meia R$ 7,50, inteira R$ 11,90), tenra na medida certa. Sem falar num molho de maionese bacanudo que lembra aquele que Mama Ás na Manga mandava ver nos anos oitenta, verdadeiro curingão dos almoços dominicais em família, mas esqueceu a receita com o passar dos anos, sem que nenhum valete de copas seja capaz de reaver-lhe as memórias.

Frango Atropelado: opções de prato completo, com guarnições inclusas, são oferecidas pelo Garnizé Galeto e Chopp (Foto: Vitor Faria / Estúdio Semente /Divulgação)

Para adoçar, vale cair no básicão: lascas de banana caramelada, finíssimas, com sorvete de creme ou um potinho de brigadeiro que é cartada certa. E, como nesse tipo de cardápio não poderia faltar, o tradicionalíssimo pudim de leite (R$ 5,50) é ótimo e pode anotar: tem os tais furinhos! No mais, os drinques são ótimos!

Linguicinha bacana: seguindo a tradição do aperitivo em casas como o Braseiro da Gávea e o Galeto Sat’s, o Garnizé também oferece a iguaria na brasa na a módicos R$ 5, a unidade (Foto: Rodrigo Azevedo / Divulgação)

Ah, ÁS esqueceu de mencionar um detalhe importante: para quem é viciado na linguicinha esperta do Braseiro da Gávea, o Garnizé traz uma ótima rival, de pernil, assada na brasa com molho de azeite e cebola, a módicos R$ 5. Mas, não é só lá que esses adoráveis embutidos de boa cepa andam se proliferando que nem porquinho da índia: na rua seguinte à Farme, Vinícius de Moraes, outra linguiça tem se sobressaído: a da Churrasqueira Rio, crocante por fora e macia como a cútis de Babe, adorável suíno atrapalhado das telas. Vale.

Bom astral: o ambiente agradável da Churrasqueira Rio vem em sintonia com o churrasco comfort (Foto: Divulgação)

Aliás, a casa localizada onde já existiram o Allons Enfant, de Olivier Cozan e o Grand Cru, é outra charmosa alternativa para quem se delicia com comida sincera a preço honesto. A carne é de primeira, das opções de boi angus à versão regional com carne de sol, capaz de fazer Luiz Gonzaga sair da tumba para dar uma beliscadinha. Super vale o 3 em 1, que traz picanha, alcatra e maminha no mesmo corte, com aproximado de 600g a 700g, acompanhada de pão com alho, farofa e vinagrete. Dá para duas a três pessoas comerem muito bem, caso nenhum integrante da patota seja fã de Fabiana Karla.

Painel do dublê de grafiteiro e DJ Felipe Guga -queridinho dos modernos – adorna uma parede na Churrasqueira Rio (Foto: Divulgação)

No mais a mais, os salgadinhos (do tipo que se encontra em qualquer churrascaria) não são borrachudos, o ambiente é descontraído e a parceria com a Cervejaria Antuérpia rende boas opções para quem quer embarcar num cerva mais leve, sem pretender estufar o estômago. Filial carioca da  matriz de Juiz de Fora, na labuta desde 1987, a casa ainda conta com um painel bonito do Felipe Guga, logo na entrada, que funciona como backdrop para aquela selfie esperta.

Por falar em cervejinha, o Bar e Restaurante Urca lançou uma blend exclusiva que, além de suave, tem programação visual premium. Com ares de quem poderia ter estudado design gráfico na EBA, Rodrigo Gomes, da casa, contou o périplo para por em cena essa pequena pérola aquática amarela, a BR.U.39, criada em parceria com a Bohemia: “Nunca fizemos cerveja, mas curtimos o que é bom. Fomos preciosistas. A turma das artes visuais comeu um dobrado porque queríamos o rótulo com cara dessa atmosfera praiana cheia de charme que é a Urca. O projeto foi e voltou até ficar certo!”, conta todo orgulhoso. Detalhe: o amargor que fica na parte posterior do céu da boca já faz valer a bebericada.

Cerveja B.R.U. 39, criada pelo Bar e Restaurante Urca em parceria com a Bohemia (Foto: Manoela Brasil /Divulgação)

Ideal para acompanhar quem quer saborear a Salada de Bacalhau ao Grão (R$ 26) na mureta, que vem na sequência dos pratos volantes que vêm sendo lançados há pouco mais um ano. Na onda natalina, a delicinha simplesinha traz desfiado o típico peixe das festas de fim de ano, em versão salada com grão de bico e azeitonas pretas.

Na canoa: a Salada de Bacalhau ao Grão dá continuidade aos clássicos do Bar e Restaurante Urca que são servidos em porção individual na mureta (Foto: Manoela Brasil /Divulgação)

Também na orla e localizado onde por décadas funcionou um clássico da boemia praiana do Rio, o Barril 1800, o paulista Bar Astor atualmente se orgulha de ter caído no gosto da turma local e também ser carioca da gema. Para resgatar a tradição do ponto, por que então não reciclar pratos que fizeram a alegria da cidade, muito antes de a gastronomia da cidade ser sacudida por José Hugo Celidônio e, depois, Claude Troisgros e Laurent Suaudeau? Dessa forma, Marcelo Tanus botou a mufa para queimar, renovando o cardápio nessa pegada.

Nome francês, sabor brasileiríssimo: o Frango Assado L’Amis Louis é carro- chefe dentre as novidades com sabor retrô do Bar Astor (Foto: Carol Gherardi / Divulgação)

Para começar, o frango à milanesa com complemento de batata palha, ervilhas e arroz maluco, tipo à cubana, é somente chamariz para mostrar que a casa fez certinho o dever de casa, bateu o tambor e trouxe do além pratos simples de uma outra época, enterrada pela gastronomia da era dos chefs e que sobrevive hoje apenas em bares de praia, casas espanholas ou portuguesas tradicionais servidas por garçons com roupa de pinguim ou em moteis cuja libidinagem ao vivo anda ameaçada pela pornografia online, se mantendo mais à custa do almoço executivo –  leia-se medalhão ao molho madeira com arroz à piemontese, brochete com arroz à la grega e frango a Kiev – que em função das acrobacias sexuais de hóspedes furtivos.

Para inglês ver e amar: Torta de Carne e Tutano, no Astor (Foto: Carol Gherardi / Divulgação)

O novo frango do Astor não é exatamente uma brastemp, mas é generoso como seus antecessores nos restaurantes das antigas, abrindo espaço para outras criações mais convidativas. Tudo é bem servido, como em outros tempos. Como não amar a English Pie (R$ 49), torta típica de pub inglês aditivada com a injeção de um tutano no osso? A massinha de empada da base é de esfarelar deliciosamente na boca. Ja o Ovo imperfeito (R$ 28), é perfeição que vem na companhia de cremosa fonduta de queijos – entre eles o boursin de cabra (amo) – e pimenta-do-reino. O Steak Diana (R$ 55) também vale quanto. Ou melhor, não pesa, custa R$ e vem com batatinhas coradas e um arroz levado da breca numa panelinha de cobre à parte.

Steak Diana: boa surpresa entre os novos velhos achados do Bar Astor (Foto: Carol Gherardi / Divulgação)

Deixando as carnes de lado e caindo de boca nos frutos do mar, ÁS rezou, comeu e amou o Camarão à grega (R$ 75/ R$ 139) que, na versão do Astor, leva camarão e queijo empanado no espeto, arroz à grega e batalha-palha feita na casa, com crustáceos grandões da melhor qualidade, tudo simples. Tipo coma e lamba os beiços.

(Foto: Carol Gherardi / Divulgação)

Já o Salmão defumado (R$ 43) evoca aquele tempo em que o peixe alaranjado ainda não era a figurinha fácil do Brasil pós-Era Collor. Ele vem com crème fraîche, mini alcaparra, gema ralada e cebola roxa, para o cliente combinar como preferir. Interatividade, meu bem. Mas, quem ama esse peixe não deve deixar de provar o melhor: o Club sandwich (R$ 39) arrasa no salmão defumado, ovo pochê, abacate, cebola roxa e maionese de raiz forte, tudo no brioche tostadinho. Digníssimo, assim como sua versão vegetariana, o Falafel burger (R$ 31), com homus, tahine verde, salada de pepino, tomate e cebola roxa.

Club Sandwich na base do salão defumado: recriação do lanche com cara dos anos 1960 é uma das melhores opções da nova fornada de acepipes do Bar Astor criadas por Marcelo Tanus (Foto: Carol Gherardi / Divulgação)

Sanduíche de Falafel, do Asor: sanduba classicão repaginado pela onda veggie (Foto: Carol Gherardi / Divulgação)

Tartar de salmão, do Bar Astor: besteirinhas descomplicadas para alegrar o estômago e resgatar a memória afetiva da clientela (Foto: Carol Gherardi / Divulgação)

Na ala das sobremesas, vale encarar os classicões: novidades pero no mucho que fizeram a alegria de gerações, tipo o Profiterole (R$ 19) com sorvete de creme, calda quente de chocolate, chantilly e amêndoa, que éenooooorme! E o Sundae Astor (R$ 19), com sorvete de creme, calda de chocolate, farofa e chantilly. Mas ÁS prefere mesmo a Cheesecake com calda de frutas vermelhas (R$ 21), leve, aeradinha, quase com mesma consistência de um genuíno New York Cheesecake, só que desce mais suave. Imperdível.

Porção generosa: profiterole do Bar Astor é avantajado e percorre a atual premissa da casa de recuperar pratos simples, de ampla aceitação, que foram desaparecendo dos cardápios em função das invencionices gastrô na Era dos Chefs (Foto: Carol Gherardi / Divulgação)

Não são só as comidinhas que ganharam repaginada no Astor. Localizado no fundo, quase como um tesouro, o Sub Astor também teve sua carta de drinques revisitada. Entre os ingredientes, o hoje onipresente gim e angostura. Confira abaixo os favoritos do ÁS: 

Caju amigo: o Bijoux Caju (R$32), do Astor,  impressiona pelo  visual, mas é delicinha. Inclui gim, limão taiti, falernum, vermute bianco, lúpulo amarillo e Mocororó (Foto: Tomás Rangel / Divulgação)

Victorian Frizz: um dos sucessos do Sub Astor criados recentemente pelo mixologista Fabio laPietra, drinque leva gim, licor de yuzu (fruta cítrica originária do leste asiático), sherbet de abacaxi com lúpulo amarillo e club soda (Foto: Tomás Rangel / Divulgação)

Para fechar, vale a menção à Brasserie Mimolette, que oferece pratos da gastronomia gaulesa a preços bacanas e agora tem menu assinado pelo estrelado chef Elia Schramm, ex-Laguiole. A dupla à frente do business, Leonardo Rezende e Gustavo Gill, já têm expertise com a gastrô afetiva a preços baratos, com a rede do Botequim Informal, talvez uma das melhores quando se trata de casa que buticaliza o velho espírito de boteco carioca. Na brasserie, a proposta foi resgatar aqueles pratos que se come trivialmente em Paris, nem sempre encontrados por aqui. Ou que até se encontram, como o Tartare de Saumon (R$ 35), mas que numa saboreada na Cidade Luz, tornam o petisco mais charmoso. Aqui, ele vem em cubos de salmão da Patagônia com creme wasabi, pepino agridoce e gergelim tostado, servido com batata prussiana.

Salmão defumado da Brasserie Mimolette: peixe que virou moda no Brasil desde os anos 1990 é uma das vedetes das casas cariocas na hora de revitalizar o menu na base da simplificação acessível (Foto: Divulgação)

Dentre entradinhas, massas, risotos e sandubas, sobressaem nos pratos principais, o Peixe Bouillabaise (filé de peixe do dia grelhado, legumes provençais com o molho que dá o nome, R$ 65) e o Arroz de Cordeiro (paleta de cordeiro assada com especiarias, desfiada, arroz basmati, coalhada de hortelã e cebola crocante, A R$ 66, digníssima).

Brasserie Mimolette: arroz de cordeiro da casa evoca aqueles pratos orientais comumente encontrados no Quartier Latin, em Paris  (Foto: Divulgação)

Bouillabaise na Brasserie Mimolette: peixe com o molho que dá nome ao prato é novidade que persegue a simplicidade à la française no bistrô do Shopping Leblon (Foto: Divulgação)

Para terminar o manjar bleu-blanc-rouge, a casa oferece uma autêntica Tarte Tatin (torta de maça e sorvete de nata) a R$ 23 e um bom Creme Brûllée a R$ 19. O preço dessas sobremesas nem é tão em conta assim, mas o sabor justifica.

Tarte Tatin da Brasserie Mimolette: sobremesa típica é equiparável ao exemplar que costuma ser servido em outra casa de culinária francesa do Rio e São Paulo, o Le Vin (Foto: Divulgação)

Em tempo: acabou de abrir no Casa Shopping uma filial do Galli, típico exemplar da culinária easy eating, com grelhados, saladinhas e chope artesanal. A casa faz um barulho enorme em lugares como o Shopping Tijuca, atraindo uma clientela fiel.

Serviço:

Astor

Av. Vieira Souto, 110, Ipanema.

Tel.: (21) 2523-0085.

Capacidade: 200 lugares.

Horário de funcionamento: Segunda a quarta, das 18h à 1h; Quinta, das 18h às 02h; Sexta, das 13h às 3h; sábado, das 12h às 3h; Domingo, das 12h às 22h.

C.c: todos. C. d.: todos.

Manobrista.

www.barastor.com.br

Brasserie Mimolette

Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – Leblon.

Tel: (21) 2529-2614.

Capacidade: 78 lugares.

Horário de funcionamento:

Todos os dias das 12h até 00h.

Cc: Visa, Master, Diners. Cd: Todos. CR: Sodexo e Visa Vale.

Churrasqueira Rio

Rua Vinícius de Moraes, 130 – Ipanema

Tel:(21) 3689-1009.

De segunda a domingo, das 11h à o último cliente.

Capacidade: 10 lugares.

Cc: todos. Cd: todos.

www.churrasqueirajf.com.br

Garnizé Galeto & Chopp

Rua Farme de Amoedo, 52 – Ipanema.

Tel: (21) 2287-8173.

Capacidade: 130 lugares.

De segunda a domingo, das 12h à 0h.

Cc: todos. Cd: todos.

www.garnize.com.br

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