* Por Flávio Di Cola, direto de Roma

Certa vez, o diretor de cinema e teatro Franco Zeffirelli definiu Piero Tosi como um mágico porque ele trazia “o passado de volta ao presente”. Atrizes e atores se diziam literalmente tomados pelo personagem a partir do momento que vestiam os seus figurinos – evidentemente fascinados pela qualidade única das suas criações sob o ponto de vista artístico, artesanal e evocativo de tempos passados e que podem ser apreciadas até hoje pela filmografia de diretores como Visconti, Fellini, Pasolini, Bolognini, De Sica, Zeffirelli ou Liliana Cavani, entre tantos outros.

Piero Tosi da os últimos retoques no visual de Claudia Cardinale no set de “O Leopardo” (1963). O figurinista considerava o corpo da atriz maravilhosamente maleável para suportar o small size dos corpetes autênticos de época (Fonte: Divulgação)

Felizmente para o grande cinema, o legado de Piero Tosi continuará vivo através de centenas de alunos que tiveram o privilégio de seguir desde 1988 seus cursos no Centro Sperimentale di Cinematografia, a mais antiga escola de cinema da Itália.

Em seus 75 anos de carreira, Piero Tosi (hoje com 91 anos) acumulou praticamente todos os principais prêmios cinematográficos. Seu olhar meticuloso e rigoroso continua sendo o paradigma máximo e quase inatingível na concepção dos figurinos para a tela  (Fonte: Divulgação)

Parte do resultado da incansável dedicação de Tosi em 28 anos de ensino pode ser apreciada na exposição “Piero Tosi, Esercizi sulla bellezza. Gli anni del CSC 1988-2016”, dedicada aos melhores trabalhos de várias gerações de pupilos das quais emergiram talentos, hoje premiados, como os figurinistas Massimo Cantini Parrini (“Dogman”, 2018), Daniela Ciancio (“A grande beleza”, 2013), Andrea Cavalletto (“Os campos voltarão”, 2014) e Andrea Sorrentino (“O Grande Hotel Budapeste”, 2014, figurinista-assistente).

A exposição “Piero Tosi, Esercizi sulla bellezza. Gli anni del CSC 1988-2016” reúne dezenas de figurinos de época criados e confeccionados pelos alunos que estiveram sob a supervisão direta de Piero Tosi durante seus cursos no Centro Sperimentale di Cinematografia (CSC), fundado em Roma, em 1935 e uma das mais antigas escolas de cinema do mundo. A foto de entrada da exposição começa com a icônica imagem de Tosi ajustando um dos figurinos de “O Leopardo” (1963) para Claudia Cardinale (Fonte: Divulgação)

O Palazzo delle Esposizioni, joia da arquitetura neoclássica italiana, localizada bem no centro de Roma, entre as Termas de Diocleciano e o Mercado de Trajano é a sede da mostra (Fonte: Divulgação)

Zeffirelli também acha que Tosi é “um dos últimos representantes de um mundo que não existe mais”. Talvez o diretor florentino tenha razão no sentido de que toda uma geração de cineastas europeus ou americanos – como Coppola e Scorsese – que incorporaram em suas obras a inigualável expertise da escola italiana de figurino, cujo representante exponencial é Piero Tosi, já parou ou vai parar de filmar um dia. Entretanto, pelo que se pode constatar na mostra do Palazzo delle Esposizione, muitos filmes das novas gerações de diretores ainda poderão ser inseminados com o DNA de Piero Tosi através dos seus talentosos e ativos descendentes.

O LEGADO DE PIERO TOSI NAS MÃOS DOS SEUS MELHORES ALUNOS

Em entrevista concedida ao site do jornal La Repppublica, reproduzida acima, o figurinista e ex-aluno de Tosi no CSC, Andrea Sorrentino, explica que a ênfase dos cursos do mestre são os figurinos para espetáculos históricos, em especial o período de 1600 a 1890. Na galeria a seguir, ÁS selecionou alguns dos trabalhos em exibição que provam que a herança perfeccionista de Piero Tosi está preservada através de novas gerações de figurinistas (Fonte: Divulgação)

Piero Tosi, Esercizi sulla bellezza. Gli anni del CSC 1988-2016”(Fonte: Divulgação)

Piero Tosi, Esercizi sulla bellezza. Gli anni del CSC 1988-2016” (Fonte: Divulgação)

Piero Tosi, Esercizi sulla bellezza. Gli anni del CSC 1988-2016” (Fonte: Divulgação)

Piero Tosi, Esercizi sulla bellezza. Gli anni del CSC 1988-2016” (Fonte: Divulgação)

Piero Tosi, Esercizi sulla bellezza. Gli anni del CSC 1988-2016”(Fonte: Divulgação)

UMA DELICADA IMERSÃO NO MUNDO DE PIERO TOSI

Este vídeo nos conduz pelos corredores da belíssima exposição sobre a atuação pedagógica de Piero Tosi nos cursos de figurino do Centro Sperimentale di Cinematografia embalado nos acordes do adagietto da 5ª sinfonia de Gustrav Mahler que Luchino Visconti escolheu para pontuar o esplêndido e melancólico ocaso da belle époque europeia. Confira (Fonte: video.reppublica.it)

AO MESTRE COM CARINHO

Ao longo dos últimos 28 anos, Piero Tosi consagrou-se ao ensino da arte do figurino – sobretudo o cinematográfico, na CSC-Scuola Nazionale del Cinema, que integra o complexo da Cinecittà, em Roma. Como todo professor preocupado com o aperfeiçoamento dos seus alunos, ele frequentemente perguntava-se se a maioria deles tinha vocação para essa arte. Muitas vezes, em sala de aula, irritava-se com a falta de ousadia, de criatividade ou de foco de muitos jovens matriculados nos seus cursos. O documentário a seguir, gravado em 2007 e com legendas em inglês, nos coloca em classe junto com Piero Tosi, sem disfarçar seus momentos de impaciência e mau-humor (Fonte: Reprodução)

O TARDIO RECONHECIMENTO DA ACADEMIA DE HOLLYWOOD

Em fins de 2013, Piero Tosi foi finalmente homenageado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood com um Oscar honorífico – o único conferido a um figurinista –  pelo conjunto de sua obra, após cinco indicações a Melhor Figurino. Sua primeira nominação para a cobiçada estatueta foi por “O Leopardo” (1963), obra-prima de Visconti e que mudou completamente o estatuto do figurino no cinema contemporâneo ao ter levado a culminâncias nunca atingidas o culto pela credibilidade histórica e pelo material autêntico como critério de reconstrução histórica na tela.

No vídeo abaixo, Claudia Cardinale discursa em nome de Tosi durante a homenagem de 2013, em Los Angeles, lembrando como foi “torturada” pelo figurinista e pelo diretor de “O Leopardo”: em nome da autenticidade histórica ela usou um corpete autêntico de 1860, cuja antiga usuária era dotada de uma cinturinha de menos de 50 cm, padrão para as donzelas aristocráticas da época, o que exigiu uma completa transformação na sua maneira de andar, dançar e agitar as mãos. Cardinale lembra: “Minha cintura era tão pequena que Alain Delon quase podia enlaçá-la completamente com as suas duas mãos” (Fonte: Reprodução)

 Serviço

Piero Tosi, Esercizi sulla bellezza. Gli anni del CSC 1988-2016

Até 20 de janeiro no Palácio das Exposições, Roma.

Mais informações: https://www.palazzoesposizioni.it/pagine/mostre

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