*Por Alexandre Schnabl e Lucas Montedonio

A temperatura abafada, a ameaça de chuva, a alta temperatura africana, o contexto econômico atual do Brasil, o talento nato de Lula para ganhar o Prêmio Shell de ‘Melhor Ator’ e as recentes trapalhadas da turma da política por si só já justificariam o despertar de fortes emoções na noite desta última segunda-feira (7/3), durante a sessão VIP da comédia “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos – o musical”, já em temporada carioca no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon. A obra, baseada no livro de Jeffrey Lane – e por tabelinha no filme que transformou o cineasta espanhol Pedro Almodóvar em celebridade -, tem música de David Yazbek e foi adaptada no Brasil por Miguel Falabella após assistir à montagem londrina.

O encenador, que tem andado preocupado com os rumos do país e da cultura, agora sob a ameaça da interrupção do patrocínio promovido pela Rei Rouanet, se mostrava nitidamente inquieto, se esforçando para canalizar seu lado zen para a dupla função de lidar com o frenesi da imprensa e o assédio dos convidados, entre eles as muitas celebridades que foram prestigiar o amigo, todos insistindo em tirar uma deliciosa casquinha sélfica com o multi artista.

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Com Marisa Orth (em cima, á esq.), Juan Alba (ao centro à esq.), Stella Miranda (ao centro à dir.) e Helga Nemeczyk (embaixo à esq.) à frente, “Mulheres à beira de um ataque de nervos” estreia no Rio após o sucesso da temporada paulista (Foto: Zeca Santos)

Pronto para exibir sua cria no palco,  o sempre cordialíssimo Falabella parecia prestes a cuspir marimbondos para todos os lados, se deixando possuir pelo nervosismo diante dos espectadores que chegavam e depois lotaram os 926 lugares da casa. Tudo a ver com o tema da noite, mas pura bobagem porque, afinal, o musical é delicinha e o trio de atrizes à frente da cena – Marisa Orth, Stella Miranda e Helga Nemeczyk, que interpretam os papeis que foram respectivamente vividos no cinema por Carmen Maura, Julieta Serrano e María Barranco – é pura ebulição, todas prontas a soltar lava pelos poros como se fossem um incontrolável vesúvio feminino.

Neste misto de júbilo e tensão, ÁS saracoteou pelo red carpet como se fosse uma indomável abelha ziriguidunzeira com a missão de apurar o que realmente deixa o mulherio à beira de um chilique daqueles. E mais: como um quiprocó nervoso não é exclusividade delas, mas também propriedade deles, a pergunta exigiu dos rapazes uma pronta solução: “Que fazer para apaziguar a irritabilidade latente de uma criatura de saia? E que fique bem claro: não se deve considerar nas respostas deles nenhum marmanjo escocês vestindo kilt, diga-se de passagem. Confira!

Contagiando todos com seu humor, a impagável Lady Francisco aponta o elenco composto de colegas de profissão e destaca que o trabalho de equipe de fundamental para a harmonia geral de um espetáculo. “O problema do ator é ser sempre muito simpático, né? Só isso já faz a gente vir prestigiar. E cá entre nós, já andamos à beira de um ataque de nervos o dia inteiro, então vamos assistir o que elas fazem para copiarmos aqui fora!”, gargalha, toda didática. Okay, Lady, meu amor, mas vamos lá: não dissimula, o que te tira do sério? Ela não se faz de rogada: “Atualmente, é testemunhar a loucura na qual nosso país se encontra. Como sempre fui ativista política desde guria, estou participando demais destes acontecimentos nacionais e sofreeeeendo pelas tabelas! Fico muito ansiosa! Tenho 81 anos e penso nos meus filhos, netos e aí por aí vai. Como é que vai ser viver nesse país?” E indo imediatamente para outra direção, como se fosse uma louca digna de explodir, a veterana dispara sua metralhadora verborrágica: “Ah, põe aí: coisa que me tira do sério é quando maltratam um animal, seja ele qual for. Viro um leão!”.

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Lady Francisco não admite a situação geral de penúria do Brasil, muito menos o mau trato aos animais. Vira leoa que ruge! (Foto: Zeca Santos)

Aos 48 anos, o querido Tuca Andrada é rápido e rasteiro na resposta: “Sou adepto da prática das mãos firmes!”. Ops, como assim, Tuca?!? “Ué, uma revigorante massagem, visando restabelecer o equilíbrio do corpo e mente de uma mulher estressada. Tem coisa melhor para relaxar uma mulher?!”, dispara o bonitão. Mas, aonde, Tuca, aonde? E em quem? “Aí você descobre na hora. Onde estiver tenso. Se for bem feita, é o suficiente”, disfarça, deixando no ar se o contato pele a pele sugere ou não segundas intenções…

Outrora galã da TV e atualmente com divertidissímo papel em Pé na cova, Marcelo Picchi hoje se dedica também à vida de missionário da Igreja Messiânica (que frequenta há 39 anos), visitando pacientes em hospitais do Rio. Por isso, saca de técnicas para apaziguar o interior. “Minha religião me ensinou a cuidar mais do meu corpo e da minha mente”, revela, indo além ao sugerir como não ser refém da própria irritabilidade: “Sou adepto e recomendo a meditação transcendental. E digo mais: uma boa refeição pode tranquilizar uma mulher nervosa, especialmente as afrodisíacas. Relaxa que é uma beleza”, não deixando claro se entra maracujá no menu.

Multidisciplinar nas áreas de Arte Dramática e História da Arte, Edwin Luisi esbanja simpatia e ensina sua técnica para promover o bem estar feminino através do verbo: “Creio que elogiar. Qualquer pessoa é suscetível a grandes elogios e recebê-los dá mesmo aquela acalmada”, simplifica.

Tuca Andrada, Marcelo Picchi e Edwin Luisi

Trio de bambas na arte de acalmar uma mulher: da esquerda para direita, Tuca Andrada, Marcelo Picchi e Edwin Luisi (Foto: Zeca Santos)

Experiente atriz de musicais adaptados da Broadway, como “Chicago” e “Hairpray”, a exuberante Danielle Winits acerta no look, levando o mulherio à loucura com vestido dourado escolhido a dedo para a ocasião. Questionada sobre o que a tira do sério, a louraça belzebu dá um “stop” para pensar um pouco e emenda: “Não gosto de passar frio. Por mim, seria primavera o ano todo”, idealiza menosprezando as outras estações, sem dar muita bola para o calor abafadão. Faz sentido. A moça é mesmo um vulcão.

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Danielle Winits em golden stravaganza: apesar dos efeitos do El Niño, a moça perde a estribeira com o frio avassalador (Foto: Zeca Santos)

Arlete Salles sempre ilumina qualquer ambiente com sua presença. Extrovertida, ela não tem a menor dúvida sobre o que não suportar: “Engordar. Isso me tira do eixo! E digo por todas as mulheres, viu!?!”. Toda sorriso, a diva ainda aproveita para apresentar o filho, tipo corujex.

Arlete Sales

Ícone da dramaturgia brazuca, Arlete Salles prestigia o amigo Miguel Falabella em “Mulheres à beira de um ataque de nervos” e assume: “Ganhar uns quilinhos me deixa louca da vida!” (Foto: Zeca Santos)

Ao ser questionado sobre qual técnica utilizaria para relaxar uma lady, Miguel Falabella é abrangente, mas visceral: “Tudo!”. E, tão tenso quanto a Pepa (Marisa Orth) do musical, mas muito menos histriônico, encerra ali mesmo, cambiando sua atenção para o cigarro, possivelmente solução para acalmar os ânimos na grande estreia. Compreensível. Afinal, num Brasil com conjuntura tão difícil como a atual, o artista precisa carregar o peso da responsabilidade de empreender, além de todos os compromissos que o ofício da profissão já traz em si. Fica tranquilo, Miguel. Todo mundo já sabe tudo o que você toca vira ouro. Quem sabe a sugestão de Marcelo Picchi de praticar meditação não sirva como ferramenta para segurar as pontas?

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Relaxa, Miguel: espetáculo é sucesso, diversão garantida com elenco de primeira, produção impecável e figurino deslumbrante. Parabéns, “loura má” à beira de um ataque de nervos! (Foto: Zeca Santos)

Com destaque no elenco de “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, Helga Nemeczyk acredita que “a falsidade e a falta de fidelidade lhe deixam como uma louca capaz de rompantes imprevisíveis”. Passional, essa sagitariana com ascendente em leão e lua em escorpião certamente é o tipo de personagem da vida real com quem um homem jamais deve brincar, a menos que sua principal paixão seja flertar com o perigo. Para quem duvida, ÁS recomenda um teste: provocar a loura e deixar uma mala de roupas de grife na casa da moça, ao lado de uma tesoura de desossar frango…

HELGAAA

Passional com um pica-pau, a estonteante Helga Nemeczyk é do tipo que só não perde a linha quando sai do sério porque, amadurecida, “sabe que um dia pode voltar a precisar manter relações com o pobre mortal que lhe provocou”. Ainda assim, a moça fulmina com o olhar… (Foto: Zeca Santos)

Isabel Fillardis é puro carisma. E definitiva beleza étnica. Virtudes não lhe faltam, e ela pode até perdoar, mas não esquece: “Sabe nego, o que me deixa muito desapontada é a ingratidão. Falsidade também. Me dá vontade de por as mãos na cadeira e chacoalhar a criatura, pois você sabe quando uma pessoa está mentindo. Isto me enlouqueceeeee! Mas, acredito que desvios no caráter possam ser transformados. Por isso, sempre mantenho a fé nas pessoas. Que falhas sirvam de lição e ajudem a nos aprimorarmos”, finaliza, bem Poliana.

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Negritude no ápice: com as madeixas na vibe afro beauty, Isabel Fillardis é do tipo que fica eriçada com a mentira alheia (Foto: Zeca Santos)

Depois do estrondoso sucesso na TV e no cinema de “Os 10 Mandamentos”, o ator Júlio Oliveira conta que já começaram as gravações da segunda fase, que promete ser um sucesso ainda mais vibrante. E vai além: além da passagem de 38 anos na produção televisiva, o rapaz afirma que o projeto do musical de “Os 10 Mandamentos” já está engatilhado. Quanto a aplainar o mar revolto da alma feminina, ele declara com uma dica simples: “Atenda indiscutivelmente a todos os favores que ela te pedir. Sem hesitar, porque ela vai querer muita atenção”, discorre o candidato a Don Juan lolito. E completa, filosofando na macarronada: “Se não fazemos o que elas querem por bem, acabamos fazendo por mal.  Logo, é mais fácil ceder de primeira”.

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Com vários musicais no currículo e candidato a ser escalado para um papel na versão sacolejante de “Os 10 Mandamentos”, o bonitinho Júlio de Oliveira sabe bem como esfriar a batata quente de uma mulher (Foto: Zeca Santos)

Estudante de artes cênicas, mas já na profissão, a ruiva Goreth Simarandesco conta estar em processo de ensaio do espetáculo “Coração de Van Gogh”, com estreia para setembro. E o que deixa essa lolita bufando, sem paciência, com vontade de arrancar os cabelos, como num arroubo do pintor holandês que, num rompante, acabou cortando a própria orelha? “Vou dizer uma coisa bem simples e outra mais séria: tenho muita alergia, sabe, daí fico estressadíssima quando estou escovando os dentes e espirro. Nossa! Eu fico mesmo looooouca!!!! Coisa para o dia inteiro”, vocifera descompensada. E logo ri, admitindo o excesso: “Eu sei, é muito bobo. Mas, rola, sabe.. Mas, algo que também me deixa à beira de um ataque de nervos é conviver com o mau humor alheio. E o meu também, né? De um modo geral, sou de lascar”. Okay, meu bem, é enquete, não é psicanálise…

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Goreth Simarandesco sofre com espirros durante a higiene bucal. Ótima oportunidade para praticar paciência budista e não permitir que seu mau humor se alastre aos quatro ventos, em que contamine a dentina (Foto: Zeca Santos)

Rainha núbia do Baixo Egito, Adriana Bombom é pura simpatia, mas ai de quem provocar a moça. Por exemplo: quando alguém pega no seu celular… “Entrar na minha intimidade sem minha permissão, aaaaaah, fico loucaaaaa! Principalmente com namorado que tem ataque de ciúme e acha que tem o direito de xeretar minhas mensagens, seguir cada postagem, quem comentou ou curtiu alguma coisa. Stalkear não! Vai lavar uma louça, né, meu bem!”

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A estonteante Adriana Bombom não admite namorado stalkeando suas mídias sociais, nem vasculhando seu celular (Foto: Lucas Montedonio)

* Nascido na cidade imperial de Petrópolis, o pianista amador ganhou o mundo ainda adolescente quando fez intercâmbio nos Estados Unidos. Nessa época sua terceira visão despertou e o moço se entregou ao budismo tibetano. Pura estratégia para dominar a vaidade interior. Estudou comissaria de bordo, mas preferiu o jornalismo e, hoje, entre retiros espirituais com rinpoches, encontros com lamas e entrevistas espevitadas, o sagitariano usa sua vocação para o tietismo como contraponto à eterna busca do santo nirvana.

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