A 7ª edição da ArtRio, que abriu para o grande público nesta quinta-feira (14/9), está bombando. ÁS foi conferir de pertinho a maior feira de arte do país, agora repaginada em novo local, a Marina da Gloria, com vista deslumbrante para a Baía de Guanabara. Entre agitos e belezuras, a Globo resolver lançar por lá a próxima novela das 18h, “Tempo de Amar“, com a presença do diretor Jayme Monjardim e parte do elenco. E, entre artistas plásticos, marchands, celebrities e a turma que ama a livre expressão, ÁS aproveitou para apurar o que eles pensam sobre um assunto de relevância que tem ocupado espaço na mídia, o qual, por coincidência, transita na mesma esfera do evento carioca: o polêmico cancelamento, essa semana, da exposição pelo Santander da exposição patrocinada em Porto Alegre, “Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira“, após o MBL pressionar a instituição financeira alegando pornografia. Enquanto empresa privada, cabo ao banco cancelar uma expô que foi levantada com dinheiro da renúncia fiscal? E arte deve ou pode ser censurada? Por quem? E, na opinião dos entrevistados, o que seria mesmo pornográfico no Brasil de hoje? Confira as respostas!

Da esquerda para a direita, o diretor Jayme Monjardim, sua esposa Tania Mara e Tony Ramos celebram na ArtRio o status de arte da nova produção da Globo,“Tempo de amar”, cujas chamadas andam encantando a audiência pela qualidade visual (Foto: Murillo Tinoco / AGi9 / Divulgação)
Homem por trás da ArtRio e à frente de muita coisa boa que acontece na Cidade Maravilha, o empresário e agitador cultural Luiz Calainho é terminante contra qualquer repressão às artes: “Cultura não se censura. É arte. É expressão. É reflexo dos povos. Isso não existe; limitar arte é retrocesso!”

Luiz Calainho celebra o sucesso da 7ª edição da ArtRio em casa nova, a Marina da Glória, e afirma que é terminantemente contra o cancelamento da exposição do Santander ou qualquer espécie de repressão da criação: “A arte é livre; é o domínio da liberdade” (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Curadora do Joia Brasil, Anna Clara Tenenbaum acredita que não deve haver censura às artes, embora ela concorde que um possível crivo possa ocorrer dentro de casa: “Numa exposição, num filme de cinema, nunca. Vai quem quer. Se você é favorável ao conteúdo daquilo que está sendo apresentado, perfeito. Se não, simplesmente não vai. Agora, aquilo que é exibido na televisão ou que está na internet pode ser passível de censura sim, porque é importante selecionarmos o que entra espontânea e aleatoriamente em nossos lares, de acordo com a forma como criamos nossos filhos”.

Stylist, produtora, curadora e também mãe, Anna Clara Tenenbaum não admite censura à exposição “Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira“, mas pensa que dentro de própria casa os pais podem e devem exercer uma seleção daquilo que deve ser visto ou não pelos filhos enquanto forem crianças (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Para Jayme Monjardim, que passou parte da vida desfrutando da cultura na Europa, “não é cabível qualquer tipo de censura às artes. Nem é preciso perguntar. Não pode nunca existir esse tipo de picote. O viés da arte é transformar, arrancar o público da realidade. Zero de censura!”.

Prestes a estrear “Tempo de amar” na TV com o seu preciosismo cênico habitual, o diretor Jayme Monjardim é pungente em relação ao cancelamento da exposição do Santander em Porto Alegre: “Arte não pode nunca ser censurada!” (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Ao lado de Paloma Danemberg (cento) e de Duda Pereira (à dir.), a promoter Patricia Brandão é enfática: “Pornografia é pegar todo dia o jornal ou assistir ao noticiário na TV e ver as manchetes. Isso é pornô, do tipo que somos obrigados a engolir”, arremessa!

Da esquerda para a direita, Patricia Brandão, Paloma Danemberg e Duda Pereira no coquetel que celebrou a próxima novela das seis, “Tempo de amar”, na ArtRio (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Laila Duvivier estuda filosofia na UFRJ e é fotógrafa nas horas vagas. Diante da instalação de Ismael Monticelli, ela é tão categórica quanto as cores da obra do artista são vivas: “Arte não pode ser censurada. O que é verdade, o que é expressão nunca é pornografia. É reflexão. E reflexão não pode ser considerada pornografia. O público no Brasil ainda padece de ausência de olhar artístico, se resume a um modelo de arte ‘padrão Ipanema’, de arte degustação, easytasting”.

Aos 19 anos, a estudante de filosofia Laila Duvivier acredita na total liberdade de a arte se expressar, “sem o jugo de ‘tribos xiítas’ que veem o mundo de forma fundamentalista” (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Narcisa Tamborindeguy é a alegria em pessoa, mas também reflexiva em seu joie de vivre. Sem perder a fleuma, ela considera “um absurdo” a censura à exposição: “Arte pode ser feita para incomodar. Se você não quer sentir incômodo, não vai a exposição, mas não priva quem quer de poder frequentá-la e questionar a vida através dela”. E vaticina: “Tem que ter cabeça e entender as engrenagens do mundo”.

Narcisa Tamborindeguy deu ar de sua graça, prestigiando a ArtRio nesta noite de quinta, com aquele sorrisão que é seu logotipo (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
A joalheira Silvia Furmanovich montou um lounge aberto na ArtRio. Diante da vista espetacular da Baía, ela senta na cadeira criada pelo namorado Ary Perez e filosofa, entre brincos e colares de uma coleção inspiradíssima na Índia. Sintonizadíssima com o prana – energia vital que permeia o cosmo – ela vai direto ao ponto: “Considerar arte pornografia? Num país como nosso? Incoerência. Se fosse, então o carnaval com as mulheres peladas seria. Arte é livre expressão”.

Dotada de inegável savoir vivre, a joalheira Silvia Furmanovich transformou a aérea aberta da ArtRio em sua terrazza. Ali, ela exibe suas criações e ainda reflete sobre o momento atual: “Arte é livre expressão. Censura reacionária não cabe” (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Ao lado de de Cassio Gabus Mendes e Bia Correia do Lago, Tony Ramos considera qualquer censura à arte “um sintoma de que a liberdade de expressão precisa ser pensada e garantida pelas instituições públicas. A arte é naturalmente questionadora, essa é a sua maior condição. Não precisa ser unânime, deve suscitar questionamentos- até esse dessa semana – e esse é seu terreno. O cancelamento é incabível e até a supressão de uma mostra como essa é um alerta para a reflexão”.

Tony Ramos celebrou a próxima novela das seis, “Tempo de amar”, em evento cenográfico armado na ArtRio ao lado Cássio Gabus Mendes e Bia Correia do Lago (Foto: Murillo Tinoco / AGi9 / Divulgação)
Yolanda Figueiredo sabe conciliar sua doçura interior com a contundência do seu visual. E esse aspecto ela também traz para suas opiniões, trazendo leveza de espírito às opiniões firmes: “A coisa está pegando fogo. Esse ano é de saturno. Quem não está na linha, esse planetinha cobra. Mas, isso tudo é bom porque leva a uma limpeza, põe tudo na linha. O país passa por isso, nós em nossos percalços e até polêmicas como a do Santander têm a ver. É tempo de limpeza”.

Ao lado do aquário que energiza as joias submersas da filha Yara, Yolanda Figueiredo faz uma prece pelo Brasil e pede que seja aplacada a intolerância de gente como a turma que protestou contra a expô sobre a diversidade sexual do Santander (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Agripina Candido se vê como uma mulher trans. Moradora de Niteroi, a estudante da Escola de Belas Artes da UFRJ acredita que a retirada da exposição queer pelo Santander é um erro: “É iniciativa privada, mas feita com dinheiro de lei de incentivo. O nosso dinheiro. Então o banco não deveria abrir mão daquilo que ele economizou com a grana dos impostos, até porque ele tem quem o oriente antes de resolver patrocinar um projeto cultural”. E finaliza, tendo a obra de Edi Cavalcanti ao fundo: “Falta tato. Vivemos num Brasil de pseudo inclusões. Aqui mesmo, na hora de entrar no evento, o segurança quis que eu fizesse a revista na fila dos homens…”

Ainda vivendo numa época em que ser trans vem na frente do fato de estudar arte, Agripina Candido questiona a finalidade do uso do dinheiro público numa mostra como a do Santander. Para a moça, se a expô foi montada com incentivos, não pode ser interrompida sob protesto de uma parcela local da sociedade, mesmo o banco sendo privado (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Ruiva como gengibre – ou páprica, tanto faz -, a bela Maria Eduarda Carvalho está no elenco de “Tempo de amar”. Com os cabelos incandescentes, mas a alma lépida, ela opina equilibradamente: “Arte é ponto de vista. O que devia ser considerado pornográfico é nossa classe política. Ao seu lado, a avó bonitona Laura Carvalho Santos faz coro: “Pouca vergonha não é arte. É a arte de roubar dinheiro”.

Na ArtRio, Maria Eduarda Carvalho e sua avó Laura Santos dão seu parecer sobre o cancelamento da expô patrocinada pelo Santander em Porto Alegre: “Nossos políticos e´que deviam ser censurados. São mais pornográficos que um filme da Ilona Staller, a Cicciolina” (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Expondo no Joia Brasil uma coleção que traz sodalitas, safiras e ágatas, a jewel designer Yrys Albuquerque discorre sobre o incidente em Porto Alegre como uma alegoria ao Brasil de hoje: “Falta sensibilidade, inteligência. Pornografia é grosseiro; nudez e sexo expostos como arte nunca!”.

Yrys Albuquerque é joalheira de mão cheia e não acredita na possibilidade da arte ser pornográfica” (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Luiz Monken (à esq.) é artista e Claudio Cadeco Pinto (à dir.) está no time da Galeria Inox, na ArtRio, mas antes de qualquer designação, é amante da arte e da vida. Ele afirma: “Perversão são todas as respostas que Lula deu a Moro nessa semana”. O amigo completa: “A mostra do Santander não é inadequada; repulsivo é o que está fora do contexto, a moral, a política”.

Na ArtRio, o artista plástico Luiz Monken e o galerista Claudio Cadeco Pinto, da Inox, pausam na aérea aberta da ArtRio dentre os siris-instalação de Ary Perez para refletir sobre o Brasil de hoje (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Irmãs geminianas com apenas três anos de diferença, Isadora e Isabela Lira se entretêm com o som provocado pelos dedos da pianista Erika Ribeiro. Em uníssono como se fossem gêmeas, elas mandam na lata, quase num recital: “Nossos governadores são no mínimo, soft-porn. Cabral, Garotinho, Pezão… Essa rapaziada devia ser censurada, estraçalhada, trancafiada a pera e maçã!”

Vulcânicas, a artista digital Isabela Lira (à dir.) e sua irmã Isadora aplacam sua lava enfurecida contra a censura à arte no Brasil observando Erika Ribeiro impregnar o ambiente da ArtRio com a partitura de “Amor Simples”, de Alexandre Gouveia. Se um dia a bela amansou a fera, hoje é a música que inebria as belas, que são terminante contra a retirada da exposição patrocinada pelo Santander e a favor do recolhimento dos políticos corruptos. Na cadeia! (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
Direto do Instituto Zuzu Angel para a ArtRio, Lucia Acar e Ceci Kremer preferem ser bem-humoradas diante do absurdo do cancelamento da exposição sob alegação de transgressão pornô. “Dinheiro na cueca é altamente pornográfico”, diz Lucia. “Bibi Perigosa com fuzil no horário nobre da TV é mais”, rebate a amiga.

Saracoteando pela ArtRio, as amigas Lucia Acar e Ceci Kremer consideram grana malocada em underwear e a glamorização de bandida traficante nas novelas os verdadeiros fenômenos expoentes de um Brasil pornográfico. “Nunca uma exposição de arte que apresenta um panorama da diversidade sexual”, afirmam (Foto: Anderson Pontes para Ás na Manga)
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