* Por Lucas Montedonio

Nesta 43ª edição da São Paulo Fashion Week , cujo tema foi In-Pactos”, dois aspectos se mostraram fundamentais: o ajuste de calendário para que os lançamentos na passarela se aproximem do varejo e a preocupação, sempre que possível, de reduzir o timing entre apresentação e vendas para atender à realidade mais imediatista de um mercado impactado pela tecnologia da informação. Este novo scheadule da semana de moda mais importante da América Latina – agora em março e final de agosto -,revelou a importância de se discutir transformações de mercado a impactam o futuro. Momentos disruptivos abrem janelas de oportunidades para quem tem coragem de se reinventar, e é disso que a moda não só vive, como sobrevive. Por isso, ÁS abordou este tema ao levantar, juntos aos fashionistas, qual é o impacto a moda faz nas suas vidas e quais grifes nesta temporada foram capazes de deixar sua marca. Leia a seguir.

Vivi Orth preza pelo conforto: “A moda impacta diariamente e aquilo que se mostra por dentro aparece por fora. Muitos desfiles já me impactaram, mas teve um que fiz para o McQueen inspirado na Isabella Blow, quem admiro bastante e havia falecido há pouco, que foi de arrepiar. Quando o leigo vê a moda, o mais importante é o quesito da vestibilidade. Para quem entende mais a fundo, o olhar é um pouco mais amplo e é possível se expressar com mais profundidade”.

Se dizendo impactada por Alexander McQueen, a loura Viviane Orth é do tipo que usa jeans com camisa branca e fica chquérrima (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

O stylist Felipe Veloso dispara: “Impacto é tudo o que te tira da zona de conforto. Vestir-se é um veículo para se comunicar. Quando isto o faz sair do lugar comum, causa um impacto e gera uma mudança de comportamento, não só para quem está realizando, mas para quem está te vendo. A moda tem esta responsabilidade de estar sempre se renovando com essa ruptura de ver, criar, vestir, verbos que se relacionam diferente de uma maneira com a já estamos acostumados.” Exemplo? Ele conta: “Gosto de pessoas que tem um trabalho transverso, atemporal e de renovação. A Patrícia Viera é uma criadora. Ela diz que é muito mais uma artista de curtume do que uma estilista. É uma marca muito particular pois os tecidos não são comprados prontos, ela tem que desenvolver técnicas e mecanismos até o couro chegar aquele aspecto”.

Felipe Veloso ama o que faz: “É uma delícia poder trabalhar com a Patrícia Viera pela oportunidade de exercitar caminhos de uma linguagem que é tão técnica quanto artística”. (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

O editor de moda do site Lillian Pacce Jorge Wakabara vai fundo nas questões do comportamento e da comunicação:  “Os desfiles apresentados aqui tem alcançado relevância em relação às ideias não entendidas nas araras, mas compreendidas na passarela, onde é possível construir mais narrativas. Muitos estilistas hoje pedem liberdade de expressão, inclusive sexual, para serem quem são. Esta é uma resposta ao conservadorismo”,  Qual desfile mais te  impactou agora e porquê? “A GIG trouxe algo sobre o relaxamento, de se retirar de uma frequência muito alta de opinião. É essencial termos esses momentos de proteção contra o bombardeio de informação”.

Lilian Pacce sabe do que fala: “A moda tem a capacidade de impactar sim, porém poucos são os que conseguem. Mudar o rumo do mercado, gerar consequências relevantes é algo que quem tem feito brilhantemente é o Alessandro Michele, da Gucci. Num primeiro momento, gera uma estranheza e até mesma a rejeição. Depois vem o fascínio pois leva um tempinho para a gente absorver o novo.” E nesta edição? “Oscar Metsavaht da Osklen e Apartamento 03 trouxerem temas interessantes, com mensagens subliminares como liberdade e a escravidão aos preconceitos”.

Para a dupla dinâmica Jorge Wakabara e Lilian Pacce, causar impacto é algo que se situa entre se desacelerar do excesso de informação e modificar a moda através de novos rumos (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

Irreverente, Dudu Bertolini une o útil ao agradável: “Quanto mais a moda reunir os valores que você pretende passar para o mundo, maior é o impacto. Podemos focar na sustentabilidade, na tecnologia e ainda no desejo de que o mundo seja livre e que cada um possa ser uma versão melhor de si mesmo. Além da roupa, é essencial pensar no propósito”, ressalta. E quem traz esse tipo de trabalho em sua opinião? “O trabalho da Amapô é forte, diferente, bem feito e carrega uma mensagem por trás “.

“Moda é um denominador antropológico do mundo”, releva Dudu Bertholini, que aponta a criação da Amapô como impactante (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

Mais conhecido como apresentador do televisivo Esquadrão da Moda, Arlindo Grund tem visão ampla sobre a moda. O moço acredita que o grande impacto nos dias atuais é principalmente financeiro: “A onda do momento é a proposta do see now, buy now. Desde as últimas duas temporadas, essa é a grande mudança que está impactando a moda. Quando o consumidor vê uma peça que o agrada, quer adquiri-la imediatamente. E qual grife o impactou mais nesta SPFW? “A Two Denim mostrou uma modelagem incrível e, para seu público-alvo, o importante é se identificar com o estilo, com os materiais. Pessoalmente, gosto de me vestir diferente, misturar alfaiataria com esportivo, usar algo que não está na moda. A palavra é causar”, entrega.

Arlindo Gründ observa que o sistema do “see now, buy now” é a grande novidade que anda impactando a moda (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

Editora de moda da revista Marie Claire, Larissa Lucchese tem mente aberta: O ponto diferencial principal desta edição é a diversidade no casting. Para mim, este é um grande impacto que gera uma mudança incrível. Importantíssimo que esteja acontecendo agora. Obviamente existe a questão da cota, mas agora virou estilo”, celebra. “E qual o desfile desta edição que mais te impactou?”, pergunta ÁS. “À La Garçonne foi absurdo por tudo. A trilha, os looks, a edição de moda, a beleza. Impecável”.

Larissa Lucchese ensina: “A grande sacada atual é a diversidade de biotipos na passarela, algo muito relevante” (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

Namorada do galã Cauã ReymondMariana Goldfarb desencana: “Não sou uma pessoa que segue tendências. Mas ter um carinho na hora de se arrumar é super importante. A mensagem ou referência que você quer passar para o outro é traduzida no vestir-se.” E qual o impacto que a moda em sua vida? “Esta é a primeira vez que venho no fashion week. O que mexe comigo é a união do vintage com o moderno.

Mariana Goldfarb confessa sem entrgar o jogo, muito menos aquilo que lhe impacta: ‘Não sou neurótica com relação a moda” (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

Big boss da SPFW, Paulo Borges compartilha a definição do tema da semana de moda: ” nossa ideia do impacto vai além da exibição do desfile. O foco aqui é promover novos tratados, novas colaborações, visando um projeto para o futuro. Sempre que assisto a um desfile, me emociono pois acompanho o esforço e desenvolvimento de cada profissional envolvido”. E, questionado sobre como o estilo agrega no indivíduo, esclarece: “A grande efervescência da moda está exatamente nesse momento em que se revela uma nova ideia. Não tenho dúvidas de que, quando as pessoas assistem a um fashion show pela primeira vez, seja pela internet, tevê ou ao vivo, rola uma energia, uam carga emocional que age sobre o espectador.

Paulo Borges acredita no impacto que as imagens geradas em um desfile proporcionam a audiência (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

Daiane Conterato entende o ponto principal da questão: “Esta indústria movimenta a vida de tanta gente, gera emprego. A modelo, o criador, a maquiadora e até a camareira são impactados, pois trata-se da vida e do ganha-pão deles. Dependendo do que conseguimos mostrar, as pessoas que não entendem, não gostam de moda e acham tudo uma besteira também acabam impactados de outra forma. Depois que virei modelo comecei a ficar mais ligada, passei a me importar com o visual. Sou libriana!”. E quais grifes causaram uma reação diferente na moça? “Fiz Animale, EllusA Niemeyer e Vitornio Campos. Cada um deles em trouxe uma emoção diferente e é isso que me encanta”.

Daiane Conterato vê a possibilidade de desfilar para vários estilistas uma maneira de ampliar impactos, com cada show causando emoções diferentes (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

Estilista da LAB, Evandro Fióti vê como objetivo de sua coleção a necessidade de passar uma verdade: “O maior impacto é contar nossa história. Mais uma vez, reproduzimos na passarela nosso ambiente único e nossa forma de ver o mundo. Essa visibilidade é boa porque todo mundo curte de ser visto, mas nem todos tem acesso a uma boa roupa. Assim, a narrativa é o que mais vale, pois o exterior não é o mais importante”, elucida.

Evandro Fióti sublinha como essenciais as percepções que as narrativas da moda podem causar no público (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

Editrix power da Vogue Brasil, Daniela Falcão acredita no fator imediato de criar desejo como algo primordial: “Uma amiga me mandou uma mensagem após o desfile da Two Denim dizendo ‘quero tudo’. Acho que este é o maior primeiro impacto que um desfile pode gerar. Depois, o repertório de imagem é construído sobre aquilo que é retrato do seu tempo. Após ler um release, somos convidados a entrar dentro da cabeça do estilista e entender todo o processo criativo proposto”, revela.

Para Daniela Falcão, “A moda serve para definir o estado de espírito de cada pessoa e o estabelecimento do desejo de consumo, movimentando a cadeia produtiva, é algo considerável” (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

Editora de moda da Elle, Susana Barbosa acredita que hoje está cada vez mais difícil impactar a audiência de modo geral. “Quem consome uma marca busca uma causa, uma voz. De outra forma, você se torna apenas mais um. A moda está passando um pouco por esta crise. Se o estilista não tem muito claro na cabeça aquilo o que ele quer comunicar além da roupa, acaba caindo em um espaço de pouca relevância”, filosofa. E nesta edição, quem a surpreendeu mais? “À la Garçonne já vem com uma história implícita que é o reuso da roupa e houve todo um contexto sexual. O desfile da Ellus também fez um statement ao trazer uma das modelos com os mamilos de fora, gerando impacto acerca de questões que são tabus femininos, como nudez ou conteúdo impróprio”, finaliza.

Segundo Susana Barbosa, “Os desfiles que lembramos são aqueles que expressam algo muito além da moda” (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

Considerado referência brasileira em roupas sociais masculinas, Ricardo Almeida é enfático: “Já tenho uma linha de trabalho conhecida, então complemento com ideias novas. É super importante as pessoas no meio da moda se informarem bastante para desenvolverem o olhar. Informação causa impacto. Por exemplo: misturar um paletó com uma camiseta é chegar a um resultado que vai gerar um impacto. É inegável que quando alguém se preocupa em agregar conteúdo de informação aseu estilo, isto valoriza sua imagem para muito além do vestuário em si”.

Ricardo Almeida observa a importância de adquirir informação como processo para ser impactado constantemente (Foto: Gabriel Barrera / StudioRGB para Ás na Manga)

* Nascido na cidade imperial de Petrópolis, o pianista amador ganhou o mundo ainda adolescente quando fez intercâmbio nos Estados Unidos. Nessa época sua terceira visão despertou e o moço se entregou ao budismo tibetano. Pura estratégia para dominar a vaidade interior. Estudou comissaria de bordo, mas preferiu o jornalismo e, hoje, entre retiros espirituais com rinpoches, encontros com lamas e entrevistas espevitadas, o sagitariano usa sua vocação para o tietismo como contraponto à eterna busca do santo nirvana.

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