É tempo de cantar! Aos 46 anos, uma autêntica representante da nova geração madura – Nádia Figueiredo – anda encarando corajosamente novos desafios, pronta para brilhar no cenário musical brasileiro. Explica-se: mineira radicada no Rio, a artista, que foi modelo nos anos 2000, viajou pelo mundo e depois enveredou pelo canto lírico, está aproveitando a renovação trazida pelo pós-pandemia para se firmar no palco com trabalho popular que celebra a autenticidade brasileira. Depois de anos de presença no bel-canto, a moça, que fez o maior sucesso na última edição do São Paulo Fashion Week (SPFW) com performance flamenca arrebatadora que impressionou os frios corações fashionistas, acaba de lançar o primeiro single de novo álbum todo cantador em português pela Liboo, selo da inglesa Virgin Records: “Isto aí, o que é?“, hit brasuca do bamba Ary Barroso que já foi entoado por gente de todos os calibres, de Caetano Veloso aos Novos Baianos, passando por João Gilberto. E, para marcar essa nova etapa da sua jornada artística, escolheu o majestoso Cristo Redentor como cenário para o videoclipe, ainda em fase de finalização. “Foi massa! Como curto moda, cor e luz, não me fiz de rogada, iluminei o Rio lá de cima, em visual caliente laranja como o sol”, brinca!

Na transição do lírico para o popular, dublê de modelo e cantora Nádia Figueiredo lança novo single.
Na base do Cristo Redentor, mas voando nas alturas: no Rio, a mineira Nádia Figueiredo dá arrancada na rota para consolidar sua passagem do canto lírico à MPB. (Foto: Divulgação)

Nascida em Belo Horizonte, com uma voz excepcional, timbre afiado e um talento soprano inigualável, não é a primeira vez que Nádia se aventura pelo vasto universo da Música Popular Brasileira. A cantora conta como já vinha ensaiando esses passos: “Já pretendia migrar para esse segmento, pois o lírico tem público muito restrito no Brasil. Pouco antes da pandemia, lancei um álbum pela Biscoito Fino, “Meu idioma é o amor“, mas logo veio a loucura da covid-19. Tudo paralisou. Preferi me recolher e aproveitar o o isolamento para depurar as ideias. Saí fortalecidíssima”, afirma a moça, cuja carreira lírica já havia conquistado a admiração de nomes como o cantor Daniel, com quem compartilhou turnê em Portugal, o maestro Eugene Kohn, conhecido por seu trabalho com Andrea Bocelli, e a diva do bel-canto, Anna Netrebko, espécie de Maria Callas da atualidade.

Nádia Figueiredo consolida a passagem do canto lírico à MPB .
Beleza visceral: Nádia Figueiredo costuma arrebatar corações pelos palcos por onde passa. (Foto: Divulgação)

A cantora destaca sua profunda conexão com a riqueza cultural brasileira, revelando que o novo repertório (ainda não inteiramente finalizado) é composto apenas por faixas em português, depois de ter passado anos cantando em outras línguas, umas estranhíssimas para os ouvidos brasileiros, como russo, esperanto, hindi, hebraico, latim e inuíte – idioma dos esquimós da Groelândia e partes do Canadá e Alaska.

Neste novo trabalho que já tem quatro faixas gravadas, a exigente Nádia conta com a colaboração de gente fina, elegante e sincera como Jurim Moreira, baterista que acompanha Chico Buarque, o baixista André Vasconcellos, o gaitista e harmonicista Gabriel Grossi e o arranjador e pianista Eduardo Faria, que também exerceu a função de produtor musical do projeto. “Uma turma de feras”, dispara revelando seu orgulho pelo squad que a acompanha nessa nova aventura musical.

Na transição do lírico para o popular, dublê de modelo e cantora Nádia Figueiredo lança novo single.
Desprendimento e jeito atirado que despertam a admiração: Nádia Figueiredo posa com a russa radicada em Viena Anna Netrebko no Sala São Paulo. Há cerca de um mês atrás, em agosto, a determinada Nádia não titubeou: a convite da artista, pegou o avião para conferir a montagem de “Il Trovatore”, de Verdi, no Teatro Colón, em Buenos Aires, surpreendendo todos nas coxias pela forma carinhosa com que foi recebida, na companhia de ÁS, por Netrebko na última récita da temporada, pouco antes de embarcar para outra apresentação em Dubai. (Foto: Divulgação)

No entanto, esse novo álbum não é a primeira empreitada através da qual Nádia Figueiredo se cerca de talentos de primeira grandeza para um mergulho musical. “Meu idioma é o amor” (2019) contou com a colaboração de gigantes da MPB, tipo Gilberto Gil, João Donato e Max Wilson, além do pianista João Carlos Assis Brasil. E foi além: em uma das faixas, faz dueto com o mexicano Plácido Domingo Jr., filho de um dos maiores tenores de todos os tempos e amigo que amealhou primeiro em conversas pela internet e, depois, nas suas andanças pelo mundo. Nádia é assim: se joga para valer, embora saiba fazer tudo tranquilamente como boa mineirinha. Sua amizade com Domingo Jr. já lhe rendeu até uma viagem à Amazônia, na companhia dele e sua esposa, para conferir, na floresta de esmeralda, um exclusivérrimo concerto de Plácido Domingo, o pai. Nádia é dessas: do mundo.

Na transição do lírico para o popular, dublê de modelo e cantora Nádia Figueiredo lança novo single.
Cenas de backstage: ao lado de bambas como Gil, Donato e o produtor musical Guto Graça Mello, Nádia Figueiredo posa para selfie durante as gravações de “Meu idioma é o amor”. (Foto: Divulgação)

Apesar do jeitinho atirado, nada em Nádia Figueiredo é gratuito. Com formação em Comunicação Social e pós em Artes Cênicas, a morena deu seus primeiros passos na carreira musical ainda criança, soltando a voz nos corais escolares do colégio de freiras onde estudava, deixando as religiosas em polvorosa com seu gogó afiado. Quase Noviça Rebelde versão brasuca, só que sem o hábito. Logo, ganharia o apoio delas participando de festivais estudantis. Com a ajuda da mãe, da avó e da madrinha, que lhe deu seu primeiro violão, era danadinha, apesar de, no início, ter a resistência do pai à carreira: autodidata, estudava trancada no quarto as revistas de cifras compradas em bancas de jornal, chegando a tocar realejo na contramão das amigas adolescentes que levavam uma vida mais baladeira.

Nádia Figueiredo consolida a passagem do canto lírico à MPB .
Com João Donato, morto recentemente, Nádia hipnotiza a plateia da Sala Grande da Cidade das Artes, Rio, com “A Paz”, de Gilberto Gil. (Foto: Divulgação)

Mas, com a carreira de modelo explodindo, acabou deixando de lado o sonho de cantar. Afinal, Novo Milênio, vida nova. Com a cabeleira poderosa que lhe rendia contratos para campanhas na indústria cosmética e muitos trabalhos em publicidade, passando pela vitória em um concurso no Caldeirão do Huck de ‘Mãe Mais Bonita’, se dividia entre Brasil, México e Chile firme na arte de modelar, mesma época em que, com seu filho pequeno, conheceu o segundo e atual marido Renato. Entretanto, tudo aquilo que fica encubado, uma hora explode. Aos poucos, na década passada, foi caindo de cabeça novamente na música, através do canto lírico, com a valiosa preparação vocal de Mirna Rubim e Vera do Canto e Melo.

Nádia Figueiredo consolida a passagem do canto lírico à MPB .
Mergulho para levantar voo: desde a pandemia, Nádia Figueiredo vem migrando das partituras operísticas para a Bossa Nova. (Foto: Divulgação/ Ricardo Penna/ Agradecimento Aline Rocha)

O aspecto global do repertório lírico, que oferece libretos ambientados nos mais diferentes lugares, foi fundamental. Nádia expandiu horizontes. “A música me fez gostar de História e Geografia”, afirma a cantora, que se declara entusiasta do gênero crossover, que mistura pop, clássico e world music, estilo que ganhou o planeta pelas vozes da irlandesa Enya e a canadense Loreena McKennitt, além de grupos como o espanhol Elbosco, e projetos musicais populares dos anos de 1990, como Enigma.

Nádia Figueiredo consolida a passagem do canto lírico à MPB .
Gogó na terrinha: em passagens pelo Coliseus de Lisboa e o do Porto, Nádia Figueiredo faz dueto com o sertanejo Daniel. (Foto: Divulgação)

“Já me autoproduzi com faixas que celebram essa vertente, infelizmente muito erudita por aqui. Tem público pequeno na terra do pancadão”, comenta Nádia, referindo-se às faixas lançadas por seu selo Opera Lounge Music, que funde elementos clássicos com música eletrônica e pode ser encontrado no YouTube com videoclipes bem produzidos. “Meu amor pela História me levou a prestar homenagem aos povos”, acrescenta.

Nádia Figueiredo consolida a passagem do canto lírico à MPB .
Cabelão de comercial de xampu, sorriso Colgate, pele de pêssego e talento a dar com o pau: em ritmo intenso nos últimos meses, Nádia Figueiredo vem gravando as faixas de seu segundo álbum, o primeiro pós-pandemia. (Foto: Divulgação/ Ricardo Penna)

Recentemente, Nádia Figueiredo alcançou o improvável: fez a primeira fila do desfile da Santa Resistência chorar, durante o SPFW, no final de maio, com interpretação apaixonada, na passarela, do clássico flamenco “Zorongo Gitano“, de Federico Garcia Lorca, como parte da abertura do desfile da Santa Resistência, em coreografia de André Vagon, acompanhada pelo violonista Fabio Nin e o bailarino Renato Marques. Figuras tarimbadas dos desfiles como o jornalista e apresentador Arlindo Grund, a top model Marina Dias e a repórter da Marie Claire Kizzy Bortolo, foram enfáticos. “Fiquei areepiado”, disse Arlindo, enquanto Kizzy admitiu ter chorado. Geralmente associada a vozes graves típicas desse gênero espanhol, a interpretação apaixonada de Nádia foi considerada o “Momento Mais Marcante” da 51ª edição do evento, de acordo com uma votação popular realizada pelo site G1 que lhe conferiu 95,03% dos votos. Prova do quanto Nádia, cuja trajetória é riquíssima tanto no repertório quanto na reinvenção, pode acabar se tornando, quem sabe, um emblema de empoderamento maduro.

Confira a apresentação bombástica de Nádia Figueiredo no último SPFW (Divulgação)
Nádia Figueiredo consolida a passagem do canto lírico à MPB .
Rubra paixão: Nádia Figueiredo deixa o público fashionista atônito na abertura do desfile da Santa Resistência”, do SPFW, com o clássico “Zorongo Gitano”. (Foto: Divulgação)

Serviço:

Confira já “Isto aí, o que é?” nas plataformas digitais!

https://virginmusicbr.lnk.to/IstoAquiOQueE

* Por Amanda Gomes

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