Mestre do showbiz no carnaval, Joãozinho Trinta disse certa vez que uma escola de samba precisa vir impecável, mas que o abre-alas e o carro final precisam ser geniais, pois o público guarda o impacto da abertura e o grand finalle. Estava certo. Nesta SPFW, o primeiro e o último desfile tornaram este segundo dia (segundo? Bom, o primeiro foi somente o show da Animale) de evento inesquecível. Com uma coleção bombástica e inspiradíssima, Alexandre Herchcovitch abriu a maratona e apresentou em sua À La Garçonne peças poderosas, onde o costumeiro apreço por uma alfaiataria impecável e a predileção pelo streetwear trouxeram à tona uma das melhores fornadas do designer nos últimos tempos. Misturando shapes e rendas vitorianas com camisetas e otras cositas vindas do universo esportivo, o estilista pintou e bordou na sua boa forma habitual, transformando t-shirts em vestidos com renda e vertendo jaquetas e moletons em peças de luxo, com direito a maxi pinturas e aplicações de naja, raposa e leão.
Seu repertório de mais de vinte anos de trajetória está todo ali, sem perder o frescor: flores românticas usadas de forma seca, camuflados irados, itens militares, misturinhas de materiais levados da breca, como prene com malha e renda. Tudo em sobreposições de dar água na boca, trabalho de um colaborador habitual de Alexandre, o stylist Maurício Ianês.
Agora, sem ter um grande grupo por trás, o designer retoma as rédeas de quem se fez em ateliê, produzindo quase artesanalmente em parceria com gente grande que serve como base: a alfaiataria é da tradicional Colombo, as camisas da Humberto Pascuini, as camisetas da Hering, os tênis da Converse, as bijoux do Hector Albetazzi. E por aí segue a vida.
Em destaque, jaquetas bombers e perfecto, macacões (sim, sempre! Alexandre ama e a gente também!). E ÁS ficou de queixo caído com os looks dos homens, alguns com suéter mais calça cropped e sapatos oxford com meias coloridas. Precisa dizer mais? Sim, precisa! Como resistir a trilha vintage, com hits de Lady Gaga, Rihanna, Beyoncé e Britney, tudo à capela? Bom, a música escolhida de Brit foi “Piece of Me“, e quem negaria tirar de Alexandre ao menos uma casquinha nessa apresentação incrível?
Fechando a noite, a estreia na passarela da LAB, abreviação de Laboratório Fantasma, selo musical do rapper Emicida criado inicialmente para lançar novos talentos do hip hop. Uma coleção impressionante, de gente grande, que tem tudo para seguir a trajetória de outra marca que se consolidou na moda a partir da música: a Cavalera.
Emicida cria as peças em parceria com o irmão Evandro Fióti e, desde o início do Laboratório, já sentia a necessidade de estender sua mensagem para a roupa através de uma linha de camisetas. Bom, agora o negócio tomou rumo e eis a LAB, com direção criativa de João Pimenta: com uma coleção basicamente em preto, branco, vermelho e prata, peças com sobreposições da hora – em montagens inspiradíssimas a cargo de Thiago Ferraz – revelam um desenvolvimento de produto sofisticado, com ótimos jogos de prints e predomínio de hoodies ao longo da apresentação. Tudo com ótimos truques de styling, do tipo que levanta a coleção, mas não precisa esconder nadinha.
O tema? Bom, com tanta peça street boa, ÁS ia até esquecendo: um cruzamento entre Oriente e África que trouxe até quimono para o catwalk. Tudo descomplicado, em materiais facinhos como malha, moletom, algodão e brim, mas cheios de bossa.
Em tempo: Se À La Garçonne apostou nos famosos All Star, a LAB abusou da parceria com a Reebok. Tênis icônicos da marca, dos anos 1980/90, foram vistos na passarela, com destaque para o Perfect Split, de 1983, agora redesenhado em parceria com Kendrick Lamar.
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