Se a vida fosse um bar, a noite dessa quinta-feira (12/9) seria o Negroni da semana. O drinque italiano ressuscitado, que voltou à moda, representa hoje o climinha de vida boa & badalo geral que marca o Rio de outrora e que nós, cariocas, queremos resgatar. Recuperar, apesar do contexto regado a sabores bem mais amargos que a bebida, como o naipe de governantes haters da cidade e aquela turma bitter que adora detonar a urbe, vinda de todos os flancos. Felizmente, a Cidade Maravilha resiste racée como Xuxa e Monique Evans. A élégance dribla a decadence. Bom, mais o élan que a élégance, é verdade. E Copacabana sobrevive prometendo voltar a ser princesinha do mar em era de concorrência acirrada que vai de Kate Middleton às exemplares da Disney. Na convergência de interesses, a nova coleção da The Paradise, grife dos frenéticos Thomas Azulay e Patrick Doering, e o novo hotel-fetiche do pedaço, o Fairmont Rio de Janeiro Copacabana – que traz na alvenaria o ousado desejo de ser o epicentro fashion na cidade – uniram forças para celebrar a pré-primavera em desfile-show/badalo/performance, se beneficiando da temperatura caliente de uma dupla efeméride: os 40 anos da Yes, Brazil – label do pai Thomas Simão Azulay, marco da moda brasileira – e da carreira de Xuxa Meneghel, cuja trajetória se mescla à da brand que dominou os anos 1980/90. Valeu? Super!

Mata Hari da moda: Xuxa seduz o publico no espetáculo da Paradise que homenageou os 40 anos da Yes, Brazil no Rio (Fotos: Fotosite / Divulgação)
Na Babel neo new wave do Rio, Cavalli ficaria passado. Nesse encontro do animal print com a efusiva geometria oitentista, ganha a exuberância carioca. Leia-se o ménage decotão/cabelão/pernocas de fora. No agito das quatro décadas da Yes, não há espaço para o vovó revival de Miuccia Prada. Elle Fanning aqui teria que ser Claudia Ohana e Juliana Paes, destaques na front row dos shipadíssimos Thomas & Patrick: podem até nem usar estampa, mas têm que explodir.

Façanha: Juliana Paes exala exuberância de branco num desfile em que ser exótico foi sinônimo de envergar o duo cor & print (Fotos: Felipe Panfili / Divulgação)

No couro: Claudia Ohana foi highlight na plateia vip do desfile da Paradise / Yes, Brazil (Fotos: Felipe Panfili / Divulgação)
Foi noite de atitude: na passarela plural, no backstage, na plateia bacanuda que foi de Gloria Maria a Beth Pinto Guimarães, de Lenny Niemeyer a Dudu Bertholini, de Claude Troisgros a Zazá Piereck, de João Vicente a Romulo Arantes Neto, do voluptuoso Leo Belicha à beldade ashanti Mari Calazan, de Andrea Natal aos irmãos Metsavaht (Felipe e Thomas), da azulíssima Lan Lan à louríssima Marta Ceribelli (que começou seu percurso na Yes), passando por criaturas que fizeram os oitenta da label, como o coreógrafo das panteras Zé Reinaldo (da patotinha de Monique), a promoter Tânia Caldas, o produtor de moda Marcello Borges (que produzia os primeiros desfiles da marca), o braço direito (esquerdo e pernas também) de Simão Firmino, o cabeleireiro Caetano Gusmão, o beauty artist Mauro Brêttas, o fashion designer Paulo Zyngier – o Paulette, super ainda na ativa. Rio-Babilônia para Nabucodonosores de todas as tribos.
Confira que passou pelo Fairmont Rio (Fotos: Bruno Ryfer e Felipe Panfili / Divulgação):
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Xuxa estreou na passarela aos 18 num desfile da grife. Para ela, sua parceria com Yes, Brazil! desemboca justamente na questão da atitude. Questionada sobre sua dobradinha plena de it com a Yes ter antecipado o tsunami das super modelos mais super estilistas que varreria o planeta quase dez anos depois (Naomi, Linda Evangelista, Claudia Schiffer versus Gianni Versace, Lagerfeld, Mugler etc.), Xuxa não soube verbalizar, mas deu conta da rota: “Eu e Luiza [Brunet] fugíamos do padrão; éramos mais cheinhas. Por isso não fazíamos muita passarela. Mas Simão privilegiava a atitude. Preconizou a diferença, a diversidade. Assim, me fiz na grife. Mas tinha também o seu caráter generoso. Quando precisava de um look diferente, ia lá e ele me dizia: ‘Vai lá na arara e pega o que você quiser’. Minha primeira calça rasgada foi de lá”.

Rainha dos marmanjos: embalada pelo som da Blitz, Xuxa levou ao êxtase a plateia que assistiu o desfile da Paradise no Fairmont (Fotos: Felipe Panfili / Divulgação)

Diversidade étnica: um timão de homens e mulheres de tipos bem brasileiros compôs o casting do show da The Paradise, como a modelo Izadora (à esquerda). “Fico feliz com o reconhecimento tardio dado recentemente às profissionais da passarela que fogem do padrão clássico europeu. Grifes como a de hoje, que privilegiam nosso biotipo negro ou mestiço são importantíssimas nesse momento de retrocesso. Incluir é preciso”, afirma a moça (Fotos: Fotosite / Divulgação)
Thomas completa: “Eram outros tempos. Nos oitenta, as pessoas se vestiam para ficar diferentes, se destacar. Hoje, os departamentos comerciais mandam na criação. Tudo fica pasteurizado, as pessoas se produzem para estarem iguais”.

Da esquerda para a direita, Patrick Doering, Xuxa Meneghel e Thomaz Azulay (Fotos: Bruno Ryfer / Divulgação)
O desfile foi show. Mas durou uma hora. Se o timing extrapolou e faltou um Fellini para comandar o puteiro nessa Satiricon tropicalista, com muitos momentos de vácuo na catwalk, pouco importa. O evento foi epíteto da tal atitude que a Rainha dos Baixinhos destacou. Deu frisson no umbigo, fez o pensamento girar. E ainda se firmou como moda-comício, reforçando o papel que o mundinho fashion – quem diria! – anda ocupando como vanguarda comportamental na cena política desde a temporada passada. É estilo-palanque para reagir à mesmice, à atual onda conservadora que faz os eighties parecerem os loucos anos 1920.

Índio quer apito: Evandro Mesquita fez questão de lembrar que os anos 1980 representaram um sopro de transgressão em oposição à caretice reinante atual (Fotos: Felipe Panfili / Divulgação)

Metralhadora cheia de mágoas: Jonathan Azevedo abriu o verbo para entoar Cazuza no desfile de verão da Paradise (Fotos: Fotosite / Divulgação)
Na geleia geral da The Paradise, Evandro Mesquita convocou cariocas para darem uma blitz na caretice. É realmente bem melhor passar um weekend com você do que com Crivella, amor. E Gilberto Gil, ao lado dos Gilsons, reforçou que quanto mais purpurina melhor. São tempos de Geração Z, quando é normal homem se maquiar. “Que bom!”, deve ter pensado na plateia a dupla que divide com Thomas e Patrick o pódio do amor homoafetivo na moda: Carlos Tufvesson e André Piva, ambos serelepes. Por isso, xô masculinidade sóbrio-burguesa industrial, salve o rococó! Não foi à toa que Pepeu Gomes mandou ver tanto nos acordes de guitarra quanto no seu homem feminino.

Fechando o desfile da Paradise, Gilberto Gil ressaltou o papel da Yes, Brasil nos anos 1980, “Quando a moda era pura expressão para quem frequentava o palco” (Fotos: Fotosite / Divulgação)
Nesse realce à la Gil, a palavra de ordem era causar. Cada um fez o que quis, mas todo mundo queria ofuscar a loura Xuxa. Bom, tentaram. Ela, nem aí, enveredou pelo bronze. Orange is the new black, deve ter elucubrado. Portando uma tez Cebion digna de super heroína da DC (Hello, Starfire!), ela se entregaria no papo com a imprensa: “Pensei em como me prepararia para o desfile. Aí lembrei que pegava muito sol na época. Fui à praia”.

Cenoura bronze: Xuxa Meneghel fechou o desfile da Paradise num lookinho jeans carregado no label design (Fotos: Fotosite / Divulgação)
Na rebarba, lacrou uma Monique Evans potrancona das boas: rechaçou o assédio crush do louro de dreadlock para lascar beijo épico na namorada, confirmando que é ideia de jerico acreditar ser possível atrasar a evolução confiscando gibis em feira de livro. A fila anda sem camisinha literária de plástico preto.

Cara de má & memorabilia: uma Monique Evans avantajada irrompeu a passarela da Paradise usando um par daquelas botinhas brancas da Yes que faziam sucesso há mais de 30 anos (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Após rodar para lá e para cá num catwalk nervoso, Monique Evans protagonizou o amasso da noite, pondo a Paradise em rota de colisão com o pensamento fundamentalista xiita do governo Crivella (Fotos: Fotosite / Divulgação)
Seu ex Pedrinho Aguinaga, por sua vez, mostrou que homem mais bonito do Brasil não tem idade. Na contramão, Carla Barros e Luciana Silva (aquela que sapecou beijo na Madonna em “Justify My Love“) provaram que Cazuza estava erradísssimo: o tempo para, sim!

Boniteza: no camarim, Monique Evans reencontrou o ex-marido e pai do seu filho Pedrinho Aguinaga. Há quase 40 anos, os dois formavam o casal-sensação do Brasil (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Pedro Aguinaga exala belezura madura no desfile de 40 anos da Yes, Brazil,by Paradise (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Luciana Silva foi destaque no show que a Paradise armou para apresentar coleção inspirada na Yes, Brazil (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Carla Barros continua batendo um bolão. No desfile da Paradise, ela exibiu sua eterna boa forma, impressionando os convidados (Fotos: Fotosite / Divulgação)
Walter Rosa desconstruiu o bate-volta instituindo o Bob Marley walking. Por sua vez, Pablo Moraes foi evidência de que a dupla cara de safado & abdômen-tanquinho continua provocando suadouro. E, dos tops da atual geração, Bárbara Cavazotti, Isabel Hickmann e Gabriel Sihnel fizeram a ponte entre passado e presente.

Duas gerações: Barbara Cavazotti (esq.) e Isabel Hickmann (centro) posam no backstage da Paradise com Walter Rosa ao fundo. Ao lado de Paulo Zulu, ele foi o grande top masculino do Brasil nos anos 1990 (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Como quem não quer nada: mais tarde, na passarela, Walter Rosa inauguraria um novo estilo malemolente de desfilar. Tipo arrastar de pernas no calçadão. Será que pega? (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Alguém chama a Baby aí! Pablo Moraes incorporou o menino do Rio no desfilão da Paradise no Fairmont (Fotos: Fotosite / Divulgação)
Mas, não deu para ninguém: convenhamos, black is beautiful. Maior que a Amazônia, a biodiversidade da The Paradise foi soberana, com a veteraníssima Veluma deixando claro que a moda se beneficia muito quando perde o superego: não teve quem a igualasse! Teatral, operística, carismática, barroca e diferentona. Essa lenda, da mesma cepa de Elke, introduziu às novas fornadas de fashionistas a passarela-happening dos anos 1970/80, quando apresentação hypada de roupa incluía atitude-poesia. Na trilha, rolava de “Bat-Macumba” a “Twiggy Twiggy”, do grupo japa Pizzicato Five. Precisa desenhar?
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10 pequenas pérolas da Yes que coleção da The Paradise reeditou e você precisa saber (Fotos: Fotosite / Divulgação):

Revival versão luxo: a estampa que recicla o print da Yes, Brazil ganha versão paetizada! (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Hey,eighties! O verão da Paradise aposta numa penca de pochetes. Faz sentido: o item da Yes virou clássico da moda, e os rapazes adoravam levar o seu sobre os lookinhos estampados ou atrelados às calças baggy nos badalos da Zona Sul carioca, como o Baixo Leblon e a boate gay Papagayo, na Lagoa (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Quando Zé Carioca vira arara! O irreverente papagaio criado por um Walt Disney inspirado pelos cariocas foi print e programação visual, durante um bom tempo, das coleções da Yez, Brazil. Tudo a ver: Simão Azulay sabia beber da fonte da Tropicália surgida alguns anos antes, em conexão direta. Os silks em policromias fizeram a história da label na mesma proporção que, hoje, são as impressões digitais da Paradise a isca para atrair uma clientela exuberante ávida por festar (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Label design: o exagero dos anos 1980 aterrissou na programação de produto e as peças da Yes eram over, sem medo, carregadas de patches e etiquetas. Esse New Wave Barroco definia um público destemido pronto para causar, aliás, usando um termo da época, arrebentar a boca do balão. A nova coleção da Paradise reedita esse glam (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Ao lado da Company e da Mesbla, a Yes, Brasil fazia parte da trinca de maiores clientes da Plastock, fábrica de aviamentos, capas de agenda e chaveiros em PVC injetado instalada em Petrópolis, na Serra Fluminense, sob o comando de dois argentinos – Willy Palmer e Paco Arias – e uma carioca, Regina Carandina. Patrick Doering e Thomaz Azulay fizeram certinho o dever de casa, recriando, na Paradise, essa rota da decoração de produto hightech em voga nos oitenta (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Harmonia de opostos: solar, a programação visual laranja da Yes, Brasil foi concebida para acender o jeanswear, outra linha que fazia sucesso nas araras. Eram tempos em que as grifes gringas, como Diesel e Guess, mal eram conhecidas por aqui e o índigo da Yes ocupava o nicho dos modernos. No kit vip da The Paradise, os meninos incluíram uma versão do famoso chaveiro em PVC injetado da brand que fez história, só que, dessa vez, fininho (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Calçados da hora: a Yes, Brazil era famosa pelos pisantes bacanudos, numa época em que os calçados masculinos no Brasil eram mais caretinhas que vendedor de livros mórmon. As opções, limitadíssimas. Simão Azulay, ao lado de Paquito e Marta Ceribelli, fez história ao dobrar fornecedores e inventar soluções criativas, driblando o contexto enxuto do mercado. A Paradise conseguiu evocar esse aspecto na nova coleção (Fotos: Fotosite / Divulgação)
Fivelas em metal personalizadas: o cinto com o logo de unicórnio da Paradise rememora os cintões da Yes com aviamentos exclusivos que eram vendidos a preços nada módicos para artistas e consumidores dispostos a abrir a carteira para lacrar na identidade (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Botinha da Xuxa: a Yes era o principal fornecedor dos pisantes que a Rainha dos Baixinhos usava para hipnotizar o público-mirim do lendário do Xou da Xuxa, na tv Globo. Mas Simon Azulay não era o único. Havia o shoe designer Fábio Barbosa – com suas madeixas descoloridas e animal print capilar à la João Knorr – cujo ateliê ficava num casarão instalado na esquina das Ruas Jardim Botânico e Maria Angélica, pertinho do Teatro Fênix, onde a atração era gravada. Nos finais de semana, na Boate Papagaio, os dois estilistas disputavam quase no tapa os clientes fashionistas, da turma gay aos héteros moderninhos (Fotos: Fotosite / Divulgação)

Dessa vez, a Paradise incluiu boots da Melissa na edição de moda do desfile. Boa sacada; afinal, a Yes sempre exalou modernidade, privilegiando materiais tecnológicos em suas coleções (Fotos: Fotosite / Divulgação)
Confira abaixo a coleção da Paradise que homenageia os 40 anos da Yes, Brazil (Fotos: Fotosite / Divulgação):
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