Como cuidar bem do planeta? Como saber o que precisa ser feito para preservar a Terra – e/ou o Rio – no dia a dia mundano, no cotidiano corriqueiro? Qual o meu, o seu, o nosso quinhão para evitar que o planeta se transforme num imenso lixão? Bom, certamente há muito o que fazer, antes mesmo que o foguete de Elon Musk aterrisse nas areias vermelhas de Marte, decretando o início da civilização espacial dos multibilionários desprovidos de empatia, enquanto meros terráqueos sucumbem sob um mar de esgoto. Pensando nisso, ÁS andou circulando pelos corredores da Glocal Experience, no Rio, para apurar o que ainda pode ser feito para evitar que o mundo despenque ladeira abaixo. Confira!

Quem passa pela Glocal Experience nota, logo de cara, uma turma animada envergando blusas verdes. Sua presença contagiante inspira os passantes. São integrantes do programa de educação ambiental Ambiente Jovem, que não passa incólume. Embuído de espírito investigativo, ÁS não resistiu. Puxa papo para saber do que se trata e descobre que o projeto promove ações e oficinas para jovens entre 16 e 24 anos – além de oferecer uma bolsa-auxílio mensal de 500 reais -, através do apoio do governo. Bacanudo. Dentre os meninos, o estudante Kauan Santana (18) topa contar o que acha que carece num Rio onde falta muita coisa: “Educação ambiental nas escolas, além do fortalecimento de políticas públicas voltadas ao meio-ambiente”, opina com a firmeza de um Ailton Krenak. “Um exemplo disso pode ser o reaproveitamento da água do ar condicionado ou o plantio de mudas, e assim por diante”, completa a colega Indiana Peixoto.

Grupo Ambiente Jovem no Glocal Experience
Kauan Santana e Indiana Peixoto posam ao lado dos colegas do programa Ambiente Jovem, pelos corredores da Glocal Experience. (Foto: Ana Beatriz Lyra/Ás na Manga)
Aliás, o próprio Ailton Krenak passou pela Glocal Experience neste sábado (16/07)! (Foto: @glocalexp/Instagram/Reprodução)

Magnética, a apresentação de Mana Bernardes e Marcelo Jeneci sustenta a atenção de quem se preocupa com um planeta melhor. Puro deleite. Após o show de acordeon do músico, a moça dá um tempo na sua fala poética para enveredar por um papo reto: “Acho que toda grande cidade é um pecado em si na sustentabilidade. A gente tinha que criar aldeias, ter lugares menores, reforma agrária… A própria estrutura urbana já é avessa à sustentabilidade porque é impraticável ter tanta casa, tanto carro, tanta gente. A natureza não comporta isso”, dispara Mana, 40, com a filha rara no colo.

Mana Bernardes performando no Glocal Experience
Êxtase natureba: Mana Bernardes performa ao som do acordeon de Marcelo Jeneci. (Foto: Ana Beatriz Lyra/Ás na Manga)

Para o chef Rodrigo Sardinha, 37, do Refettorio Gastromotiva, há muito o que fazer para preservar, mas o ponto de partida é a forma de emitir a mensagem: “Precisamos aprender a nos comunicar sobre a questão da preservação. Existem questões de comunicação, sabe? A gente peca na linguagem que usamos para distribuir a informação para a grande massa. A galera da classe média alta já é muito engajada, mas quando você pega a turma das outras camadas, complica. É preciso ter paciência mesmo… Às vezes, você está falando, por exemplo, sobre não jogar uma caixinha de um produto qualquer no chão da rua, mas as pessoas não querem nem saber. Saca, é tudo questão de linguagem. Se você chegar num tom didático, de ensinamento, até rola porque o discurso não deve ser corretivo. Mas tem gente que já pega pesado, já vai dando o toque de forma super agressiva. Isso não rola. Entendo que, para essas pessoas, só ver o lixo descartado já é, por si só, cansativo, frustrante. Mas é necessário expandir a visão. O interlocutor que está poluindo o planeta pode não ter tido acesso à educação. a nenhuma prática consciente. Carece de compreensão para que possa ser atingido…”

Rodrigo Sardinha no Glocal Experience
Rodrigo Sardinha, Refettorio Gastromotiva, marcou presença na Glocal Experience. (Foto: Ana Beatriz Lyra/Ás na Manga)

Durante o bate-papo na arena de diálogos, Mariana Ferreira, 39, se inclina. Analisa, concentrada, uma lista numa folha de papel, enquanto resume, num cavalete, as ideias discutidas no talk showConsciência social e ambiental também começa no prato“. Para ela, o mal maior é o descarte: “É fundamental redobrarmos a preocupação com o lixo. Mais reuso e menos geração de lixo. De todos os tipos, inclusive de comida. O que eles falaram sobre alimentação [na mesa redonda] é muito importante. Temos que pensar nessa alimentação principalmente nas escolas, universidades.”

Mariana fazendo mapa mental no Glocal Experience
Mariana Ferreira transformou ideias de um debate em infográfico. (Foto: Ana Beatriz Lyra/Ás na Manga)

Oxe, o que é isso? O performer Francesco D’Ávila, 30, chama a atenção na área aberta da Glocal Experience com seu mini terrário para lá e para cá. Ele veio em missão. Explica que age como se recebesse um alerta vindo de um futuro distópico. Sci-fi boy, manda a braba: “Salvem o ar! A atmosfera vai ficar completamente degradada. Vamos precisar de máquinas para respirar”, vaticina apavorado.

Mas não é só isso. Francesco é uma voz plural! O intrépido nem para, segue ácido em sua crítica ao egoísmo humano: “É geral. É uma falta de cuidado real com a natureza. A gente não se enxerga mais como parte do meio-ambiente”. E continua no seu libelo pró-Terra, mergulhando fundo na Baía de Guanabara: “Ela é tão importante para a cidade, uma das maiores baías do mundo e completamente poluída, recebendo dejetos de todos os esgotos. Então, começa por aí, na prescrição de serviço público de qualidade para todos, porque sustentabilidade também é isso, né? A maior parte da população ainda não tem acesso a saneamento básico de qualidade.”

Com direito a máscara para respirar e tubo de oxigênio, o performático Francesco D’Avila dá o tom da Glocal Experience, posando em frente à onda de sucata, obra de Eduardo Baum (Foto: Ana Beatriz Lyra/Ás na Manga)

As pinturas da artista urbana Cibelle Arcanjo, 29, são destaque na Glocal. Mal termina de pichar um dos paineis do evento, vai logo destacando uma interessante iniciativa que viu em Maricá, no Estado do Rio: “Eles estão fazendo por lá uma coisa muito legal que é por de pé uma horta comunitária pública”. E enfatiza pausadamente, mas estupefata esse caminho das pedras: “Comida. Na rua”, para se aprofundar no conceito: “E se promovêssemos o plantio de árvores frutíferas pela cidade, hein?”.

Responsável na Glocal por transformar em arte o painel que exibe a meta ODS 2 de desenvolvimento consciente da ONU – fome zero e agricultura sustentável – a grafiteira Cibelle Arcanjo aposta nas hortas comunitárias. (Foto: Júlio César Guimarães/Divulgação)

Diante da imensa onda de restos de garrafas e latas usadas, que virou cenário instagramável na Glocal, a entusiasmada Cibelle convoca para o produtor cultural Eduardo Baum, 31, responsável por essa instalação-denúncia. Já na nossa fita, o moço paulista patina em relação ao Rio, mas é cirúrgico em sua visão mais generalizada: “O Brasil está com uma moeda de ouro nas mãos, que é a nossa Amazônia. É a questão-cerne da sustentabilidade. Já a Mata Atlântica, existe em vários lugares, incluindo aqui e em São Paulo, mas precisa igualmente de cuidado. O que elas têm em comum? Bom, se a gente não souber lidar com a preservação das nossas florestas, não só o mundo vai perder o tal pulmão – que, aliás, é uma informação mentirosa -, como o Brasil também vai deixar escapar uma ótima oportunidade para se desenvolver.”

Solidariedade ecosistêmica: Cibelle Arcanjo e Eduardo Baum posam para o ÁS. (Foto: Ana Beatriz Lyra/Ás na Manga)

Responsável pela obra de arte que sintetiza a determinação da ONU ODS 9 – Indústria, Inovação e Infraestrutura, o grafiteiro carioca Airá Ocrespo, 40, bate na tecla da conscientização: “O Rio está vacilando em relação à questão da educação. E também na inclusão dos cidadãos nesse projeto da construção de uma vitrine de sustentabilidade”, se referindo à postura do prefeito Eduardo Paes em relação ao meio ambiente. “Em dezembro, por exemplo, a prefeitura anunciou que pretendia oferecer incentivos fiscais para empresas que possuíssem projetos de neutralização de carbono, que podem chegar a 100% do ISS. Bom, mas ainda somos bem pouco conscientes dos nossos papéis, daquilo que é possível fazermos na prática para que essa premissa da prefeitura vire realidade. É vital educarmos os carioscas e informarmos a população sobre essas metas.”

Diante do totem da ODS 9, Airá Ocrespo manda ver no painel, com direito a personagem blasê com oclão. (Foto: Júlio César Guimarães)

Produtora cultural, cantora e apresentadora, Paola Valentina Xavier , 36, joga nas onze. Topa até participar de enquete. Novata na função arauto, á a responsável por anunciar os palestrantes e músicos que sobem no palco da Glocal. Por isso, fica feliz com a oportunidade de pisar no pódio da opinião: “Sabe, primeiro a gente precisa de conscientização – que é o que acontece aqui nesse evento -, para poder então abrir os olhos, começar a pensar nessa mudança que se faz urgente. Não temos mais tempo”, afirma, para prosseguir: “É essencial que o poder público foque no alerta e no respeito ao meio-ambiente o máximo possível deixarmos um futuro mais promissor para aqueles que estão chegando aí. Já destruímos tanto. Se continuamos destruindo, não sobra nada!”

Paola posa ao lado de cubo artístico no Glocal Experience
Listra sobre flores: Paola Valentina Xavier posa diante do painel de Dolores Esos (Foto: Ana Beatriz Lyra/Ás na Manga)

*Por Ana Beatriz Lyra

Foto destaque: “Onda do futuro”, obra de Eduardo Baum. Por Ana Beatriz Lyra para Ás na Manga.

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