Blefe. Essa é a sensação do público em geral, que esperava apresentações memoráveis de artistas como Beyoncé na 58ª edição do Grammy Awards, que tomou conta de Los Angeles nesta noite de segunda-feira (15/2) televisionado para o mundo inteiro. Foi mais caída que anjo que se rebela contra o Todo Poderoso a maior celebração da música pop global que deu a Taylor Swift os prêmios de ‘Melhor Álbum do Ano’ e ‘Melhor Álbum de Pop do Ano’ pelo seu 1989“, concedeu ao rapper Kendrick Lamar cinco estatuetas das suas 11 indicações e ainda celebrou Uptown Funk“, de Mark Ronson e Bruno Mars, como ‘Melhor Gravação do Ano’. Nada de novo no front num ano morno, em que até as apresentações de artistas no palco – o grande atrativo para quem fica acordado até tarde assistindo ao evento pela TV – foram mais mornas que sexo entre mórmons.

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Grande ganhadora do Grammy 2016 – ao lado do rapper Kendrick Lamar -Taylor Swift vai precisar de estante nova para acomodar todos os prêmios na sala (Foto: Reprodução)

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Música & moda no Grammy 2016: Em modelito coral e fúcsia que lembra Saint Laurent Rive Gauche, Taylor Swift revela pernocas assanhadas neste look do Atelier Versace (Foto: Divulgação)

Pelos comentários nas redes sociais, tudo ficou bem aquém da expectativa. As bees, que esperavam uma apresentação avassaladora de Beyoncé – após o factoide da semana passada no Super Bowl, quando ela resolveu investir na persona política para chamar atenção – tiveram que se contentar a pop star de branquinho nada básico e cabelo louro & liso preso para trás numa aparição bem comportadíssima, quase no final, para anunciar o ‘Melhor Álbum do Ano’. Ué? Não é ela quem defende a causa dos negros? Pois bem, quando entrou em cena estava tão asséptica, tão establishment, que poderia ter sido confundida com Scarlett Johansson ou Charlize Theron, de tão loura. Ou com Xuxa.

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Sharon Stone? Mariana Ximenes? Ellen DeGeneris? Ué, não é Beyoncé que defende a causa negra em apresentações bombásticas no Super Bowl? E esse visual de branca bon chic bon genre, meu bem? (Foto: Reprodução)

Beyonce performs during the halftime show at Super Bowl 50 between the Denver Broncos and the Carolina Panthers at Levis Stadium in Santa Clara, California on February 7, 2016.

Exata uma semana antes da celebração do Grammy 2016, Bey apresentou no intervalo do Super Bowl seu novo trabalho – “Formation” – cheio de referências que evocavam o black power, inclusive o figurino preto total inspirado no look do grupo extremista Os Panteras Negras. É, o mundo dá voltas… (Foto: Reprodução)

À exceção das homenagem feita a B. B. King e da presença de Lady Gaga em cena para evocar a figura genial de David Bowie, ambos mortos neste último ciclo, os números musicais foram burocráticos e faltou showbiz. O Rei do Blues ganhou tributo à altura com The Thrill is Gone nas vozes de Chris Stapleton, Bonnie Raitt e Gary Clark Jr. Fez valer a noite.

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Tocando B. B. King sem parar: com imagens do mestre projetadas ao fundo, Chris Atapleton, Binnie Raitt e Gary Clark Jr. deram cabo da melhor apresentação da noite no 58 Grammy (foto: Reprodução)

Valeu também a homenagem a Lionel Ritchie, visivelmente emocionado na plateia e depois no palco, com o rosto inchado e preenchido por intervenções botulínicas que felizmente não lhe tiraram toda a expressão, mas que o deixaram com a aparência de um Fofão versão black. Em cena, artistas como Demi Lovato (que entoou o hit Hello“), John Legend, Luke Bryan e Meghan Trainor lhe prestaram a devida reverência com All Night Long, que ainda contou com uma palinha do próprio. Okay, gostosinho para a turma que tem mais de 45. Na plateia, era possível ver o mulherio pós-balzaca que investiu no tomara que caia se controlando para não levantar o braço no ritmo e dar bandeira com a pelanca.

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Grammy 2016: Com a cara inchada, Lionel Ritchie dá um “hello” para seu velho público e mostra que ainda tem fôlego para uma “all night long”, nem que seja para uma “three times a lady” (Foto: Reprodução)

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Frenético com a homenagem, o astro de outrora se antecipa a Demi Lovato e companhia no palco da 58ª edição do Grammy (Foto: Reprodução)

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Curiosamente, com as intervenções estética na face, Lionel Ritchie evocou outra criatura midiática do passado – e contemporânea sua – o Fofão, emblema mór de “A Turma do Balão Mágico” (Foto: Reprodução)

Lady Gaga se esforça. Sem dúvida, a moça tem vozeirão. Canta para caramba. Mas surgiu numa época em que ser original é mais um esforço de mídia do que realidade. No tributo a David Bowie, Gaga abriu o gogó e mandou ver. E contou com a ajudinha extra dos visagistas para reproduzir no make visuais icônicos do camaleão do rock. Sua tropa de choque de publicitários, claro, torce para o povo ter mordido a isca e considerá-la a partir dessa associação tão versatilmente mutante quanto o astro inglês. Se eles conseguirem emplacar essa visão, bingo! Mas, convenhamos, existe um cânion entre um e outro e também entre as maneiras de fazer sucesso. Um transformava sua presença magnética e atitude em estilo imediato a ser copiado; a outra se utiliza da moda para turbinar a imagem. Ainda assim, foi bacana. A projeção morphe que ia mudando a maquiagem no close da estrela foi bem feitíssima e sua entrada em cena, de cabelos vermelhos e funcionou o modelito glam glitter branco que reproduzia o figurino do britânico. A não ser por um porém: tirando a roupagem bowieana, Gaga ficou parecendo Vivienne Westwood indo a uma festa à fantasia trajada de Elvis.

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Tributo a Bowie: Lady Gaga assume ares de camaleão do rock no visual e solta o gogó tentando levar aquele plá com o Major Tom (Foto: Reprodução)

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Salada de aranhas marcianas: apesar da ótima interpretação da cantora, o controle de terra esqueceu de informar ao Major “Gaga” Tom que Elvis não morreu (Foto: Reprodução)

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Antes da celebração, Lady Gaga já havia dado indícios no red carpet de que poderia mesmo misturar as bolas no palco. Afinal, não é nada fácil emular David Bowie, tarefa difícil até mesmo para a trupe de stylists da estrela. O resultado? Bom, digamos que Vivienne Westwood deve adorar uma saladinha de cenoura vitaminada com muito betacaroteno… (Foto: Reprodução)

Confira abaixo a presença de Bowie através da presença de Lady Gaga no Grammy 2016 (Reprodução):

Em sua atual fase “bom moço platinum”, Justin Bieber ganhou seu primeiro Grammy por Where Are U Now na categoria ‘Melhor Gravação de Dance’ (ao lado de Skrillex e Diplo) e levou a tiracolo o irmão menor Jaxon, de seis anos, para mostrar que é um artista família. Os publicistas do cantor devem ter se esmerado nessa estratégia para levantar a sua imagem, mas o caçula fez cara de marrento a noite toda e só não estragou o conceito porque, nessa idade, se ele (Jaxon, não Justin) fizer xixi no red carpet todo mundo vai achar bonitinho. Resta esperar agora o moleque crescer, mostrar a bunda, tatuar o corpo e incorporar o modelo de cueca da Calvin Klein. A geração da próxima década pode vir a agradecer.

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“Sai, seu mala!”: não adianta, é genético. Se Bieber resolve aposentar a verve bad boy para dar espaço ao visual “príncipe Disney em modelito Tom Ford”, agora é vez do irmaozinho Jaxon fazer caras e bocas, com aquele ar de tédio de quem foi criado no frio do Canadá (Foto: Reprodução)

Confira abaixo a dupla de irmãos no red carpet (Reprodução):

O número musical de Justin também foi calminho e os comentários na web se referiram mais à gostosura do Galinho Chciken Little do que ao seu talento.

A noite, foi mesmo de Taylor Swift, que parece estar destinada a ocupar o lugar que antes pertenceu à Virgem Maria nos píncaros do céu: macérrima e de top cropped e hot pants com prolongamento de saia com cauda, a moça estava chique, mas preferiu exalar o aroma de boa moça, comemorando a vitória de colegas do métier como quem celebra o niver. E ainda fez discurso “carapuça” politicamente correto para Kanye West nenhum botar defeito. Tudo lindo. Só um porém: como alguém tão boazinha assim pode ter ficado a cara da Anna Wintour na produção?

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O diabo canta Taylor: vai dizer que a estrela não ficou a cara da editrix master de todos os tempos no Grammy 2016? (Fotos: Reprodução)