* Por Alexandre Schnabl e Lucas Montedonio (**)

Desmatamento, queimadas, exploração clandestina dos recursos e descaso com a natureza. Pulmão verde do planeta, a Amazônia padece de cuidados e, por isso, foi realizado nesta quinta-feira (19/11) o Grito Pelo Planeta, no Museu do Meio Ambiente, em pleno Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Aberto ao público e lotado, o evento que reuniu encontros, palestras e debates chancelados pelo Instituto-E e o Espace Krajcberg – em colaboração com parceiros franceses e brasileiros –alertou a opinião pública e governantes sobre a importância da proteção à Floresta Amazônica, às vésperas da Conferência das Nações Unidas por um Acordo Mundial sobre o Clima (COP-21), que acontece em Paris entre 1º e 11 de dezembro. Dada a relevância do assunto – e a presença iluminada do artista plástico e ativista Frans KrajcbergÁS esteve presente e bateu um papo exclusivo com ele e outras personalidades engajadas na questão, como o empresário de moda Oskar Metsavaht, a atriz Cristiane Torloni e a documentarista Paula Saldanha sobre a preservação da natureza no país e também sobre a catástrofe ambiental causada pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), neste último dia 5/11, assunto que pôs novamente o Brasil sob os holofotes mundiais. Confira!

Com danos possivelmente irreversíveis para a Bacia do Rio Doce, a mancha de lama que pode ser tóxica já percorreu mais de 500 quilômetros, compromete o abastecimento de água de meio milhão de pessoas residentes na região e deve inviabilizar a vida natural e o cultivo no seu entorno, mas, apesar da gravidade da situação, a presidente Dilma Rousseff lançou decreto que transforma em desastre natural essa tragédia causado pelo homem. Investigar é preciso e, por isso mesmo, é valiosa a opinião isenta de quem esteve presente no Grito Pelo Planeta. Krajcberg tem opinião contundente: “Os deslizamentos dizimaram muitos seres da natureza. O que aconteceu em Mariana foi bastante grave.  Os cientistas não param de gritar: nosso planeta esta respondendo às más escolhas feitas pelo homem. Gravíssimo e não podemos fechar nossos olhos para essa tragédia.”

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Nem a plaquinha com as consoantes de seu complicado sobrenome trocadas tirou o brilho da presença magnética do artista plástico e ativista: Franz Krajcberg pede um minuto de atenção para a questão da preservação da Floresta Amazônica, enquanto a documentarista Paula Saldanha o reverencia durante o Grito Pelo Planeta (Foto: Lucas Montedonio)

Para Nina Braga, diretora do Instituto-E – que tem como missão promover e posicionar o Brasil como país do desenvolvimento humano sustentável –, é visível o descaso geral: “Se olharmos para Mariana, Amazônia e até Paris, fica clara a desconsideração e um ódio à vida. E queremos com o Grito pelo Planeta enaltecer esses valores benéficos para toda humanidade”.

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A diretora do Instituto-E Nina Braga alerta para “o descaso geral com o planeta”, seja na Amazônia, em Mariana (MG) ou nos recentes ataques terroristas na capital francesa (Foto: Zeca Santos)

A bombástica presença de Christiane Torloni – atriz que transcende o espetáculo para se engajar naquilo que importa – foi recebida com entusiasmo pela plateia. No evento, ela compartilhou com o ÁS seu mais recente insight: “Fui apresentada a uma palavra que me despertou: florestania. Cada vez mais venho me apropriando deste termo, e hoje é um mantra na minha vida”. Perguntada sobre o acidente ambiental de Mariana, ela bebe na fonte: “A verdadeira catástrofe está no Planalto!”, vaticina.

Também sem medir palavras, Oskar Metsavaht – cabeça por trás da Osklen e fundador do Instituto-E – é categórico: “Tentar tapar o sol com a peneira é uma completa falta de respeito aos brasileiros. Para as instituições, não existe nenhuma responsabilidade pelo controle de toda segurança ambiental no Brasil. Aliás, não só ambiental, mas educacional, tecnológica, medicinal…”

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Para Oskar Metsavaht, questões como o acidente ambiental de Mariana e o desmatamento da Amazônia são “falta de respeito em um país onde as instituições não se responsabilizam”. Já para Cristiane Torloni, “a verdadeira catástrofe está em Brasília” (Foto: Lucas Montedonio)

Ao opinar sobre o acidente em Mariana, o representante da tribo Poyanawa Puwe Luis estabelece a conexão entre o futuro do Brasil e as relações de poder: “As pessoas não estão pensando mais para frente. Não são apenas os seres humanos que foram atingidos em Mariana, mas muitas espécies de seres vivos, e isso atinge seriamente o ambiente. Isso é muito preocupante para todos nós, pois afeta tanto o presente quanto os tempos que estão por vir. Não podemos nos privar dessa questão, fingindo que tudo está bem. Existe um desequilíbrio na classe dominante, sobretudo quanto aos privilégios concedidos a essas pessoas que hoje governam nosso país”.

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O poyanawa Puwe Luis alerta para um desequilíbrio tão perigoso quanto o ecológico: “Não podemos fechar os olhos para as relações de poder entre o integrantes da classe dominante.” (Foto: Lucas Montedonio)

Para Claude Mollard, presidente do Espace Krajcberg – centro cultural em Paris que expõe as obras do artista e fomenta a conscientização do público acerca da preservação do planeta através das relações com a expressão artística – faz menção aos índios quando opina sobre a catástrofe de Mariana: “Eles costumam dizer para se tomar cuidado com a terra e ter atenção aonde for construir qualquer edificação. Acho que eles estão certos”.

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O presidente do Espace Krajcberg cita a sabedoria indígena na hora de comentar sobre a catástrofe ambiental de Mariana: “Eles dizem que é preciso saber onde construir sobre a terra” (Foto: Lucas Montedonio)

Rodrigo Medeiros, vice presidente da Conservação Internacional do Brasil, busca promover o bem-estar humano fortalecendo a sociedade através do cuidado responsável e sustentável para com a natureza. Sobre a recente tragédia em Minas, ele afirma: ” Olhando para Mariana, podemos concluir sobre o quanto é pequena nossa capacidade de fiscalizar e controlar empreendimentos que oferecem risco. Esse fato ocorrido é inaceitável e, sem dúvida, trata-se do pior acidente ambiental já visto no Brasil. Demonstra nossa falência e quanto devemos repensar sobre a forma de licenciar esse tipo de empreendimento”.

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Para o presidente do Conversação Internacional do Brasil, Rodrigo Medeiros, “a fiscalização desse tipo de empreendimento é incipiente e precisa ser discutida” (Foto: Zeca Santos)

O diretor do Museu do Meio Ambiente, José do Nascimento Júnior, é objetivo em sua visão prática: “Esse decreto do governo é uma tentativa de resolver problemas, ampliando sua ação através dessa declaração. No final das contas, acho positivo, pois o que importa é a solução e nem tanto a discussão. O foco deve estar na resolução dessa grave realidade”.

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O diretor do Museu do Meio Ambiente José do Nascimento Junior vê com pragmatismo o decreto de Dilma: “Ele amplia a possibilidade de ação do governo nessa crise e o importante é resolver essa grave situação ambiental” (Foto: Lucas Montedonio)

A jornalista ambiental Paula Saldanha é fã de carteirinha de Krajcberg e concorda com o artista, lamentando a avareza humana: “A triste realidade é que o homem causa grandes catástrofes. Talvez não o homem, mas a motivação pelo lucro a curto prazo. No momento, está tudo muito estranho e o próprio Papa Francisco afirma que o capitalismo não é compatível com preservação do planeta.”

Ao seu lado, o cinegrafista, Fabio Serfaty se manifesta antes mesmo do início da mesa de debate com seu grito pelo planeta: “Não foi acidente!”. O moço afirma conhecer a fundo as leis ambientais e disseca: “Toda essa situação é absurda, verdadeiro crime de proporções gigantescas! A construção de uma barragem desse tipo já é delito e é inaceitável o armazenamento desse tipo de resíduo em cima de uma bacia hidrográfica gigantesca, como a do Rio Doce”.

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A documentarista Paula Saldanha apela para o Papa Francisco quando o assunto é a depredação do meio-ambiente pela ganância humana: “Sua Santidade afirma que o capitalismo é incompatível com as causas ecológicas”. Já o cinegrafista Fabio Serfaty é contundente: “O que está acontecendo em Mariana é crime!” (Foto: Zeca Santos)

Artista plástica e designer, Luciana Araujo Lumyx prega a cataquese: “Até fiz um post sobre isso. É o fim da picada esse ‘escamoteamento’ da verdade sobre o meio ambiente; precisamos sair de pequenos espaços de pregação, como esse evento, e agirmos para valer, compartilhando a mesma energia e acreditando na transformação”. Ela pretende provocar essa mudança em caráter global: “Devemos levar o conhecimento do que está acontecendo para o mundo inteiro”, idealiza.

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A artista plástica Luciana Araujo Lumyx acredita na divulgação do acidente de Mariana em proporções globais como possível caminho para a transformação: “É preciso levar esse assunto adiante” (Foto: Lucas Montedonio)

Produtora, escritora e professora, Ângela Pêssego vai no “xis” da questão: “Ai, ai, a Dilma tem uma enorme dificuldade em se expressar, desde sempre! É uma trapalhona. É verdade, foi erro humano. Estamos cercados de políticos que sobrevivem vivendo às custas de grandes empresas que financiam suas eleições e de um público ingênuo, que vota neles. Isto é uma falha terrível, pois estes indivíduos e empresas permanecem na impunidade diante de uma catástrofe dessas”.

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A escritora e professora Ângela Pêssego atribui a relação entre poder e iniciativa privada nas eleições como motivo para Dilma decretar o rompimento da barragem em Bento Rodrigues como acidente natural: “É um círculo vicioso e os políticos se mantêm nos cargos graças ao dinheiro das empresas” (foto: Lucas Montedonio)

Diretor vice-presidente do SindRio, Cello Macedo revela sua veia empreendedora: “Dilma demorou a se manifestar. O que aconteceu em Minas foi muito grave e o governo deveria ter agido de maneira muito mais enérgica. Ficou claro que, se se existisse um trabalho preventivo mais sério e mais honesto, nada disso teria acontecido. Por outro lado, meço minhas palavras, sou a favor do desenvolvimento. É preciso também tomarmos cuidado para isso não isso virar uma histeria eco-chata”.

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Para o vice-presidente do SindRio Cello Macedo, “Dilma demorou a se manifestar numa situação emergencial, onde ficou claro que não existem medidas preventivas”. Por outro lado ele é a favor do desenvolvimento e acha que não se deve embarcar numa “histeria eco-chata” (Foto: Lucas Montedonio)

Ana Luisa Anjos, dublê de ambientalista ferrenha e produtora de eventos, solta na lata: “A presidente é uma anta! ‘Catástrofe natural’? Ah, por favor! A responsável é a maior empresa do Brasil, a Vale do Rio Doce. Só temos a lamentar por termos elegido uma presidente como essa, mas agora vamos ter que aturá-la. Afinal, foi o povo brasileiro que a colocou no poder”. A morena continua e manda ver, encapetada: “Dilma precisa entender que punições devem ter aplicadas, mesmo que nenhum dinheiro possa recuperar a natureza agonizante, nem a dor que essa tragédia está causando nas pessoas”.

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A ambientalista Ana Luisa Anjos é radical no cumprimento de punições: “Medidas devem ser tomadas, pois a natureza agoniza e a população da região sofre” (Foto: Lucas Montedonio)

Foto: Lucas Montedonio

Em tempo: entre as mesas redondas e exibições que rolaram no Grito Pelo Planeta, destaque para o curta-metragem de Paula SaldanhaKrajcberg, o Grito da Natureza – Expedições“, e o debate Desafios climáticos, ambientais e culturais da proteção da Floresta Amazônica e dos direitos dos povos indígenas“, mediado pela atriz Christiane Torloni. O painelPerspectivas internacionais de engajamento entre arte e ação ambientalreuniu Frans Krajcberg, Ernesto Neto, e Oskar Metsavaht.

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Os conferencistas no Giro Pelo Planeta: providências ambientais urgem (Foto: Lucas Montedonio)

(**) Nascido na cidade imperial de Petrópolis, o pianista amador ganhou o mundo ainda adolescente quando fez intercâmbio nos Estados Unidos. Nessa época sua terceira visão despertou e o moço se entregou ao budismo tibetano. Pura estratégia para dominar a vaidade interior. Estudou comissaria de bordo, mas preferiu o jornalismo e, hoje, entre retiros espirituais com rinpoches, encontros com lamas e entrevistas espevitadas, o sagitariano usa sua vocação para o tietismo como contraponto à eterna busca do santo nirvana.

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