Desde que se tornou viral na internet em 2017, após ter sua apresentação gravada para a rádio France Musique (hoje com quase 10 milhões de visualizações no Youtube), em que ele aparece cantando de shorts, tênis e correntinha no pescoço, acompanhado de um pianista de chinelo e bermuda, o contratenor Jakub Józef Orliński segue atraindo o olhar do público pela sua autenticidade no ofício do canto. Em passagem inédita pelo Brasil, com apresentações na São Paulo e Rio de Janeiro, o rapaz confirma haver motivos para os louros a ele lançados e, em retorno, nos oferta como um presente dos deuses o seu talento ímpar.

Nascido na Polônia, frequentou a Universidade de Música Fryderyk Chopin, em Varsóvia, e se formou pela ilustre Juilliard School of Music, em Nova York, no mesmo 2017 que o catapultou à fama repentina. E, reunindo um total de três álbuns lançados, ainda soa como uma caixinha de surpresas: da sua delicadeza no canto lírico à postura normativa no break-dance, ele mescla paixões com a leveza de quem, com a mesma mão, poderia construir as carreiras de confeiteiro e neurocirurgião simultaneamente.
Porém, aqui, o instrumento de trabalho que gera esse fascínio sobre o artista é seu vasto domínio de voz, uma raridade se comparado à artistas do século 17 que, para tal ofício, eram castrados para não perder a agilidade nos agudos, daí então a classificação castratti.

Nesta última sexta-feira (05/08), o palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro recebeu o artista junto ao septeto Il Pomo d’Oro, especialista em música antiga presentes nos três álbuns de estúdio do artista. Dessa vez, passando pelo segundo álbum de estúdio de Jakub, intitulado “Facce D’amore” (2019), revisitaram clássicos de Boretti à Cavalli, revigorando o repertório com a contemporaneidade na interpretação do polonês, que prova por A + B não ser apenas um rostinho insuportavelmente lindo.
Confira o videoclipe de Jakub Józef Orliński – Bononcini: “Infelice mia costanza” (Aminta), que
integra o álbum “Facce D’amore” (Reprodução):
Ao abrir o programa com a ária de “La Calisto”, de Cavalli, a acústica do Theatro Municipal se faz presente e nem o ranger das cadeiras do espaço secular, nos distraem frente ao uníssono produzido por Jakub e Il Pomo D’oro. Em seguida, tracks como “Infelice Mia Costanza”, de Giovanni Bononcini e “Odio, vendetta, amor”, de Francesco Bartolomeo Conti, impregnaram o espaço com o absurdo controle dos volumes nos graves e agudos do polonês.

Quase transportados à uma Europa barroca, o septeto regido pelo cravista Maxim Emelyanychev, transitou lindamente pelas árias através dos poderosos violinos de Lucia Giraudo e Zefira Valova e pela teorba de Dolores Costoyas, arrematados pelo contrabaixo de Ismael Camarero Nieto, pela viola de Giulio d’Alessio e pelo cello afiadíssimo de Ludovico Minasi. Encerrando a noite, os artistas brindaram ao público com um bis de três canções seguidas, incorporando o sentimento coletivo de que pelo menos ali, a noite não parecia querer terminar.

*Por Andrey Costa
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