“Um é pouco, dois é ótimo e três vai ser maravilhoso porque o futuro pertence a Deus e aos orixás”, dispara a esfuziante Ju Ferraz, quando desafiada sobre como vai ser esse seu segundo ano comandando o Camarote N°1 na Sapucaí, pouco antes de anunciar a presença de Gisele Bündchen no espaço VIP, no próximo domingo, como peça de resistência de um cardápio que vai contar, nos três dias mais importantes da avenida, com Sabrina Sato pelo quinto ano, a influenciadora Silvia Braz pelo segundo, a super top Izabel Goulart pela primeira vez, a professora de português Cíntia Chagas, a influenciadora Jordana Maia e a tiktoker Vanessa Lopes, e ainda homenageia Alcione. Haja mulher!
“A Marrom celebra 50 anos de carreira. Vai estar na 32ª edição do camarote full time com sua família, sua trupe. Fico feliz de não deixar o samba morrer com essa desbravadora do empoderamento, apesar de continuar pedindo passagem com muita humildade os cariocas. Sabe, estou segurando um senhor rojão, porque todo bis implica em mais desafio, mais dedicação, mais entrega. Não é fácil. Fico ligada não apenas em dar o meu melhor, mas também em não perder o prumo porque é facinho se deixar levar pelo sucesso. Tenho paúra disso, me controlo”, confessa Ju no divã da fama, afirmando que essa é momentânea: “Tudo passa, tudo passará, já dizia Nelson Ned. Só de estar viva, já está valendo após uma pandemia.”

Não é para menos. Nesse primeiro grande carnaval após o ápice da covid-19 – a folia fora de época, em maio, é fichinha perto do que 2023 promete -, as vendas para o N°1 estão estouradas. Primeira vez que isso acontece. Com pique de socióloga, Ju Ferraz analisa o fenômeno, tipo um Domenico De Masi baianão, para quem o ócio criativo é produtivo desde a rede na varanda, numa espécie de óxenti acadêmico: “Dessa vez o desejo de festar é imenso. A demanda reprimida por conta dos dois anos de isolamento está levando todos à loucura. Sabe, três semanas antes, os ingressos para o camarote já estavam esgotados. Isso nunca rolou antes. Fico até bolada de não poder atender a todo mundo. Entra aí a Ju sofrida, que se remói com essas coisas, que pede passagem, mas não é onipotente, sabe?”, faz o mea culpa, mesmo sem se dar conta de que não há orixá que controle a demanda. Afinal, a Praça Castro Alves é do povo.

“Veja bem, esse esgotamento coletivo de convites é reflexo de que hoje todos querem viver o presente depois de tudo o que passamos”, analisa a ruiva, que mudou o tom das madeixas para um mais acobreado a fim de dar um tapa na pantera. “Olha, vou te falar, se a gente for comparar esse carnaval pós-pandemia com aquele momento dos anos 1920, após a 1ª Guerra e a gripe espanhola, quando o povo pirou, o jazz e o samba explodiram, os vestidos subiram, as mulheres cortaram os cabelos curtinhos, o rapé tomou conta dos salões e o champanhe borbulhou, com o agora só posso dizer uma coisa: a turma enlouqueceu de última hora, depois da Copa do Mundo e das eleições. Se tocou tardiamente que existe vida a ser vivida.
Ela define o Zeitgeist atual: “A ideia é festar como se não houvesse amanhã. Não é Paris que é uma festa, é o carnaval daqui, meu Deus! Hemingway é aqui porque a euforia é imensa, as pessoas estão alucinadas. Não tenho convite nem mais para patrocinador!”, metralha a moça, que anda se considerando não uma empreendedora, mas catalisadora: “Sou uma ponte para que as pessoas recuperem sua alegria depois de tanta coisa punk nos últimos tempos!”

Para libertar seu coração, Ju Ferraz quer muito mais que o som da marcha lenta. Quer o novo balancê: “José Victor [Oliva, fundador do Banco de Eventos e idealizador do Camarote N°1] vai estar aqui, mas hoje o espaço está nas minhas mãos, aos 42 anos, nas do Flávio Sarahyba, com 45, e nas do filho do Zé, o Antonio Oliva, com 25. Somos seis sócios, mas com os dois toco o dia a dia do camarote. Então, tem essa coisa da responsabilidade de apresentar o N°1 às novas gerações, de perpetuar esse legado. Daí puxar tiktoker para engrossar o caldo do time de beldades que são madrinhas do espaço. E de estender a marca para outras ações o ano inteiro, como a collab com a Brisa, da Arezzo, de lançar os óculos de sol sustentáveis TUC N°1, que estamos pondo para jogo nesse projeto lindo de fazer extrapolarem as fronteiras da Sapucaí. Isso é muita responsa, sabe?”, confessa a moça, que se diz imbuída da missão de levar adiante a trabalho que a promoter Alicinha Cavalcanti, morta ano passado, tocou anos à frente da lista VIP do camarote: “É coisa muito séria porque, lá atrás, a Ju adolescente, aos 14, já queria ser amiga da Alicinha quando a viu pela primeira vez numa festa da Lícia Fábio [promoter e personalidade baiana], em Salvador, muito antes de sair por aí para ganhar a vida”.

Para aguentar o pique antes de cair na pica da folia, Ju andou seguindo o fluxo da bandeira branca. Meteu o pé na marcha à ré semanas antes. Faz sentido: se for pra andar de carro velho, amor, que venha. “É lenha”, diz, deixando claro que foi necessário emular Caetano antes de fruir no ritmo de Ivete: “Precisei me desconectar antes de mergulhar fundo no carnaval”, confessa, se referindo à viagem que fez para Cartagena das Índias com sua mãe, no final do ano, e o mini período sabático, pero no mucho, que passou na capital baiana, no início do mês, para reencontrar amigos de infância, rever seu irmão e comemorar seu aniversário. Fez tudo o que pode para enxaguar a alma, de lavagem da escadaria do Senhor do Bonfim a capitanear barquinho com palma de Santa Rita, na praia, em dia santo.
“Esse resgate foi vital para conseguir juntar forças antes de tocar o terror no carnaval. Tem a ver também com aquele medo de não me deixar levar pelo sucesso. Muita coisa acontecendo: coluna na Forbes, livro saindo do forno, o movimento Body Positive. Tudo isso mexe com a cabeça. Precisei me recolher pra não me deixar levar. Agora estou aí pro que der e vier. Me vejo assim: alguém que dá a cara a tapa para trazer potência à folia, holofotes ao carnaval do Rio”, finaliza.
*Por Alexandre Schnabl e Andrey Costa
Foto destaque: Divulgação
Deixe seu comentário