A risada larga, a voz potente e a alegria de viver não seriam um combo se não viessem na companhia das suas decisões certeiras. Na hora de fazer o evento rolar, é a empresária Ju Ferraz – 41, baiana de Salvador e esfuziante como uma parada lúdica na Main Street da Disney – quem sabe, como ninguém, fazer uso dos seus atributos na construção de uma semiótica pessoal, tão envolvente quanto eficaz na hora de botar o picadeiro de pé e o circo na rua. Foi assim que subiu o degrau (sem jamais precisar descer nas tamancas, diga-se de passagem; ÁS apurou e everybody loves Raymond) à condição de sócia de José Victor Oliva, há dois anos, no Holding Clube, empresa que engloba a produtora de live marketing Banco de Eventos, na qual começou há quatro anos como diretora de novos negócios.
“A passagem foi o cão. Precisei me adaptar à função de empreendedora, após anos atuando como executiva”, dispara com a verborragia firme de um marechal de guerra, a entonação límpida de uma contralto e o carisma de um performer de teatro de rua, para quem encantar o respeitável público é questão de vida ou morte. Agora, a moça aterrissa na Cidade-Maravilha, com seus cabelos dignos de comercial de xampu, para tocar a folia, de 20 a 30 de abril, no mais tradicional e badalado espaço da Sapucaí, o Camarote Número 1, e, na sequência, o Baile da Vogue, dia 29 de no Copacacabana Palace.
Triângulo das bermudas: de Salvador para Sampa e de lá para o Rio, Ju Ferraz promete incendiar o carnaval carioca no final de abril. (Foto: Reprodução)
Foi tipo Wim Wenders (tão perto, tão longe!). ÁS entrevistou Ju à distância, num call de mais de uma hora, enquanto ela dava um perdido no casamento da amiga, a agente de artistas Piny Montoro, num resort chique de Angra, nesse último sábado (19/3). Mas, tranquilize-se: deu tempo de ela pegar o bonde do amor. “Foi quase uma micareta”, confessou depois, deixando entender que o bolo da festa, recheada de celebrities, pode ter tido cobertura de glacê com rapé. Durante o bate-papo, gargalhadas imperaram numa vibe tamanha que Fafá de Belém teria tido convulsões, caso se enfronhasse.
Nossa missão: destrinchar como vai ser a presença da (hoje) loura, que acaba de assumir a frente da folia carioca, depois de dois anos meio na moita (quase porque, óbvio, não perceber Ju é impossível, né, amor?), sem aparecer tanto, e dois de covid. “Vamos ter uma novidade incrível, uma senhora musa esse ano na avenida, Nada mais fashion que ela”, despista sobre o camarote, fazendo misteriozinho capaz de caber na Mistery Machine, a van do Scooby Doo, sobre um carnaval que é pós-carnaval de um carnaval não foi carnaval num ano em que a pandemia ainda carnavalizou o ziriguidum.
Papo-cabeça com direito a arranjo: sócia do Banco de Evento, Ju Ferraz se materializa no carnaval carioca pronta para deixar sua digital nessa volta da folia física. Além do Camarote Número 1, a moça põe para jogo o Baile da Vogue. (Foto: Repeodução)
“Comecei a por o bloco na rua, no Banco de Eventos, com o Réveillon de Itacaré, pouco antes de a covid dar as caras por aqui, né?”, manda na lata, deixando claro que esses anos de isolamento atrapalharam, mas seu nome não é bagunça. “Agora, depois desse tempo todo, a folia vai ser pra valer. Sabe, tivemos tempo para preparar tudo. E eu numa tripla função: passar para o posto de sócia, reestruturar o trabalho e entender comunicação, como experiência, de uma nova forma, nesse retorno presencial, depois do digital imperar geral nesse período. Durante o auge da pandemia, em 2020, 99% foi online.”
Ju revela: ainda sente frio na barriga quando põe evento de pé, da mesma forma que modelo boa tem tremelique antes de pisar na passarela. “Dá pra imaginar como estou indócil essas semanas, né? Ganhei espaço na empresa, mas não deixo a peteca cair, viu? Sou baiana, amor! De Oxum com Ogum. Gosto de dourado, mas tenho garra pra fazer o brilho acontecer. Tomo banho de pipoca, tapo o umbigo, acendo vela, uso guia”, entrega o receituário, completando: “Sou devota de Iemanjá, entende? Vou à casa dela, em Rio Vermelho [Salvador], pedir luz e discernimento”. Faz sentido. Afinal, Ju é do ar, mas gratina no vapor; é Aquário com Áries. #pirotecniamodeon
Suave veneno & antídoto para a mesmice: adepta de sorrisos e gargalhadas, a realizadora de eventos Ju Ferraz se prepara para fazer do carnaval 2022 uma inesquecível experiência. No radar, “pessoas reais e espontaneidade fora do padrãozinho”, revela. (Foto: Reprodução)
Sua tenacidade tem história nessas quase duas décadas de labuta. Sobrinha da cineasta Monique Gardemberg (“Uma segunda mãe”, repete, repete, repete…), Ju Ferraz comeu o sourdough que o cramulhão amassou na levedura quando, novinha, caiu de tobogã no mercado corporativo paulista. Penou. Era gordinha, se vestia diferente, não tinha o physique du rôle da turma. Afinal, paulista tem seus próprios códigos. “Por mais competente que seja, se não se inserir nessa forma, o pão não assa. O bolo sola, meu bem”, conta Ju, imersa numa digníssima filosofia gastronômica. Platão com Troisgros. Solução-tampão para começar: a tia madrinha-mágica Monique socorreu. “Ela me pegou pelo braço, saímos pra um shopping e montamos um guarda-roupa pra eu entrar no idioma da pauliceia”, confessa. “Tem ideia do que é sofrer esse tipo de preconceito no meio?”, rodopia.
Por isso, idealiza uma utopia comportamental: “Precisamos ser livres. O mundo quer pessoas reais, éticas, de valores. É vital valorizar outras experiências, a beleza da vida, a capacidade de entrega. E necessário que sejamos especialistas em pessoas. Isso implica em ser plural. Nada de formato-padrão limitando seres humanos”, quase finaliza para ser desafiada por ÁS: “E por que investir dessa forma no Rio, quando o carnaval em Sampa cresceu tanto nos últimos anos?”, perguntamos. Ela não titubeia, flanando na segurança: “Rio é Rio. É porta e imagem do Brasil. E vou estar lá dando meu máximo!”
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