Dá gosto ver estilistas e grifes amadurecendo e solidificando o trabalho, ainda mais em momentos difíceis como esse vivido pelo Brasil de hoje. Neste primeiro dia da edição inverno 2016 do Minas Trend, Lucas Magalhães e Faven mostraram que nada como o tempo para frutificar esforços. Se o designer, surgido no Rio Moda Hype, no Fashion Rio de 2011, criou coleção pensando no seu início e fez bonito na passarela, a Faven retomou o rumo após um verão abaixo do seu potencial, que havia decepcionado sobretudo se comparado com a excelência de um inverno anterior deslumbrante. Dessa vez, o fantasma da temporada passada faz as pazes com a marca, como se fosse a consciência de Ebenezer Scrooge no final do clássico de Dickens, “Um conto de Natal“.
Agora, em comum nas duas grifes vem a inspiração nas artes plásticas. Lucas lacrou nesta nova coleção, criada a partir de epifania típica de criador, após visita ao Whitney Museum, Nova York, onde se viu estimulado pelas obras de baluartes como Frank Stella e Frank Kline. Já a Natalia Pessoa e Hingrid Sathler – a dupla que dá cabo do estilo da Faven – se volta para um passado um pouco mais remoto e revisita o movimento Bauhaus através do seus tricôs. Nem é preciso ressaltar que os grafismos predominam em ambos os desfiles e, pelo andar da carruagem (e dos outros desfiles do dia), devem vir mesmo com a corda toda ano que vem.

Inspiração nos pintores em exibição no Whitney Museum: Lucas Magalhães se destaca na edição inverno 2016 do Minas Trend (Foto : Danilo Grimaldi/ FOTOSITE / Divulgação)

Inspiração nos pintores em exibição no Whitney Museum: Lucas Magalhães se destaca na edição inverno 2016 do Minas Trend (Foto : Danilo Grimaldi/ FOTOSITE / Divulgação)
Mesclando tricô, couro e alfaiataria, Lucas procura encontrar o peso certo da mão, algo bastante significativo para ele desde quando sua brand passou a integrar a holding de Patricia Bonaldi. Por isso, é notório esse olhar para dentro de si quando introduz couro e zippers, impregnando o resultado contemporâneo com alguma pegada rocker. De levinho, okay, mas fato! Assim, ele busca conciliar uma mulher mais madura com esse espírito jovial, se esbaldando nos vestidos e saias rodadas com prints de teclado de piano, uma graça! E, numa coleção onde a base é preto, o moço equilibra bem as cores fortes e salpica o branco no conjunto da obra em dose certa.

Minimalismo + grafismo: Lucas Magalhães mostra amadurecimento na coleção inverno 2016 do Minas Trend (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Pianinho: estampa de teclado impressiona no desfile Lucas Magalhães no Minas Trend (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Alicia Kuczman incorpora James Dean: para o inverno 2016, Lucas Magalhães procura introduzir pitada de jovialidade no estilo da cliente mais madura que se identifica com a holding de Patricia Bonaldi (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Shape seco: na contramão daquilo que foi visto no primeiro dia de desfiles no Minas Trend, Lucas Magalhães investe em silhueta mais seca para o inverno 2016 (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Mix de prints: seguindo tendência forte para o próximo inverno, Lucas Magalhães aposta nas misturas (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)
De dar água na boca: os oxfords bicudinhos, com mega fivela na gáspea, em lézard rosa, prata ou preto. Será que vai ter tamanho de homeeeeem?
Tratando roupa como quem faz arquitetura, a Faven dá vazão às assimetrias as quais tanto curte e agrada tanto às clientes quanto os formadores de opinião. Ela brinca com jacquards, desconstrói a alfaiataria, enfatiza sobreposições, valoriza nervuras e ainda acentua o militarismo sem arroubos literais. E ainda há espaço para amarrações, um obi aqui e ali, uma referenciazinha de japonismo, tudo a contento de um stylist que ama tudo isso e um pouco mais: Daniel Ueda. E, como sempre, a cartela de cores é destaque: o verde-exército bonitão contracena com bordô, marinho, tangerina, marinho e azul e rosa clarinhos.

Grafismo com toque japonista: Faven apresenta o inverno 2016 no Minas Trend (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Grafismo com toque japonista: Faven apresenta o inverno 2016 no Minas Trend (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Grafismo com toque japonista: Faven apresenta o inverno 2016 no Minas Trend (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Grafismo com toque japonista: Faven apresenta o inverno 2016 no Minas Trend (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Grafismo com toque japonista: Faven apresenta o inverno 2016 no Minas Trend (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Grafismo com toque japonista: Faven apresenta o inverno 2016 no Minas Trend (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Grafismo com toque japonista: Faven apresenta o inverno 2016 no Minas Trend (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)
A Vivaz continua em seu périplo para renovar a roupa de festa e atualizar brilhos com brilhantismo. Afinal, é preciso apresentar algo novo, mas não se pode deixar de considerar aquilo que vende. Então, de quem forma? Bom, dessa vez o tema eram cavalos, mas esse lado equestre – a despeito do belo exemplar manga larga que apareceu no boca de cena no final do desfile – foi o que menos importou, salvo um bloco de peças em marrom, no meio do desfile, que envelheceu um tantinho o grosso daquilo apresentado na passarela.

Amazonas delicadas: a família Faria – clã que toca a Vivaz – irrompe passarela adentro com o Manga Larga ao fundo na edição inverno 2016 do Minas Trend (Foto : Marcelo Soubhia/ FOTOSITE / Divulgação)
Em geral, a cartela de cores suave, mesclando tons pastel chiques com azuis bacanudos, ajudou a rejuvenescer a marca. Na prática, houve mais alusão a fadas, ninfas e princesas do que aos equinos: a Vivaz aposta em looks longos, midi e curtinhos com mangas, punhos e ombros com jeitinho de mocinha de conto de fadas. Rapunzel? Brumas de Avalon? Sansa Stark de “Game of Thrones“? Ou seria a elfa Galadriel de “O Senhor dos aneis“? Nada disso importa. O que vale é que, nessa busca da renovação do estilo, a grife soube manter a identidade e ainda conseguiu abdicar da predominância art déco que, presente de forma mais ou menos clara nas últimas coleções, já estava começando a cansar. Mesmo com os belos bordados com desenhos simétricos que ainda comparecem em alguns vestidos, herança do sucesso de coleções anteriores.

Fadas, ninfas e princesas dignas de conto de fada: Vivaz renova a roupa de festa no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Fadas, ninfas e princesas dignas de conto de fada: Vivaz renova a roupa de festa no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Fadas, ninfas e princesas dignas de conto de fada: Vivaz renova a roupa de festa no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Fadas, ninfas e princesas dignas de conto de fada: Vivaz renova a roupa de festa no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)
Para tanto, os pulls em veludo molhado com saias godê, os florais miudinhos, a alfaiataria em azul metalizado e as anáguas de tule completando os barrados dos vestidos ajudam a situar a grife num patamar que pode atender tanto as mais velhas quanto as mais jovens…

Fila final no desfile da Vivaz: fadas adocicadas tomam conta da passarela na edição 2016 do Minas Trend (Foto : Carolina Vianna/ FOTOSITE / Divulgação)
As meninas da Anne Est Folle têm talento. Começaram a despontar no concurso Ready TO GO, realizado pelo Minas Trend há algumas edições para fomentar novos criadores. Dessa vez, o que se viu na passarela foi uma delirante viagem, na qual o excesso de maxi estampas quase sempre colaborou a favor. Quase sempre porque, embora lindas, com cores vistosas e padronagens gráficas exuberantes, no final do desfile o todo já havia cansado e o resultado beirou um tantinho o exagero. Pode ser um erro de edição de moda e de sequencia de looks. Pode. Ou coisa de novo designer, ainda que a marca tenha postura de gente grande.
Sim, o mix de prints, as sobreposições e as assimetrias são verdadeiros achados, mas fez falta uma ou outra peça lisa para “acalmar” o conjunto. Mas, no geral, uma coleção bem bonita, na qual uma ou outra derrapadinha não chega a incomodar, mas vira motivo de torcida para a marca ir adiante.

Mix de estampas da Anne est Folle no Minas Trend: resultado quase sempre funciona – Inverno 2016 (Foto : Marcelo Soubhia/ FOTOSITE / Divulgação)

Fila final da Anne Est Folle no Minas Trend: entre tantas estampas boas, faltou um “lisinho” (Foto : Carolina Vianna/ FOTOSITE / Divulgação)
E, no frigir dos ovos, as botas cano alto ou 7/8 estampadíssimas funcionam bastante para conferir personalidade à proposta, mesmo com uma ou outro sobrinha de pano. Mas, por outro lado, a falta de acabamento nos cabelos e o make não condizem com o potencial da marca. Na próxima, o quesito beleza precisa ser revisto com mais carinho…

As botas gráficas da coleção: detalhe bacanudo da Anne est Folle no
Minas Trend – Inverno 2016 (Foto : Marcelo Soubhia / FOTOSITE / Divulgação)
Tudo azul com Fabiana Millazzo , que resolveu apostar na alfaiataria. Abandonou os vestidos de badalo chique? Claro que não. Mas, na sua empreitada para continuar criando algo diferente daquilo que pode ser considerado a “roupa de festa mineira”, ela prefere investir em uma coleção quase toda índigo, com sweaters bordadíssimos, calças e saias godê em tecido metalizado e até paletó trabalhado usado com hot pants. Entre longos e curtinhos, a vibe é dar o toque esportivo no todo, mesmo que as aplicações rebatidas continuem de vento e popa.

Azuis predominam na moda festa rejuvenescida de Fabiana Milazzo no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Azuis predominam na moda festa rejuvenescida de Fabiana Milazzo no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Azuis predominam na moda festa rejuvenescida de Fabiana Milazzo no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Azuis predominam na moda festa rejuvenescida de Fabiana Milazzo no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)

Azuis predominam na moda festa rejuvenescida de Fabiana Milazzo no Minas Trend – Inverno 2016 (Foto : Ze Takahashi/ FOTOSITE / Divulgação)
Em tempo: ÁS não havia ainda mencionado o desfile-conceito apresentado na noite de abertura do evento (5/10). Em um evento no qual as coleções são vistas na passarela com graça, mas dentro de um patamar comercial, faz sentido um desfile-show que introduza de maneira temática as novidades de cada temporada. Okay. O fashion show, a cargo do sempre competente Paulo Martinez (um papa do styling!) estava lindo de doer. Mas essa não é a questão: apesar das belas montagens neo vitorianas ou neo eduardinas – com muita sobreposição e toques militarescos, japonistas ou até indianos (as duas entradas finais) –faltou um panorama mais amplo daquilo que é mais representativo entre as grifes que expõem nos estandes. A edição estava linda? Sim. Os elementos de composição de cena arrebatadores? Yes. A música delirante (a “Toccata Electronica“, do Kraftwerk, com direito a coral ao vivo sobreposto)? De arrepiar! Mas vale repensar esse formato, já que os looks em branco com pitadas de preto ou vermelho não sintetizam a essência daquilo que está nas araras do salão de negócios.
Deixe seu comentário