Catarse define. A segunda edição do MITA Festival foi pura emoção! Se a adrenalina do dia anterior deu o tom através de apresentações de Flume, Planet Hemp e Jorge Ben Jor (leia aqui!), uma atmosfera nostálgica tomou conta do segundo dia da edição carioca, antes do evento rumar a São Paulo. Podia-se notar o público em a pele em riste. Uma certa energia no ar. O motivo? Talvez a certeza de que aquele era o último dia do agito em solo carioca, antes de o circo partir rumo a São Paulo. De fato, foi senso comum de que não teve houve um único show que causasse indiferença ou que não marejasse os olhos até do fã mais empedernido.
Após a apresentação da carioca Scracho, que carrega na alma o fato de ter integrado a trilha sonora de boa parte da geração millennial, outra banda de apelo muito afetivo retornou aos palcos: o NX Zero. Oriundos o movimento emo, que tomou conta das rádios em meados dos anos 2000, os rapazes foram os responsáveis por, provavelmente, o show mais lotado do Palco Deezer. A homenagem ao cantor Chorão, falecido em 2013, provocou um dos momentos mais emotivos da apresentação, rivalizando apenas com a apresentação da música “Cedo ou Tarde“, escrita pelo guitarrista da banda, Gee Rocha.

Seguida pelos hinos “Razões e Emoções” e “Só Rezo“, sua presença de palco se mostrou mais afiada do que nunca, confirmando que o repertório oferecido no MITA tem tudo para lotar casas de espetáculos por aí. Até o momento, 18 shows pelo Brasil já estão agendados e turnê, todos com ingressos disputados.

Projeto de Omar Rodríguez-López e Cedric Bixler-Zavala que lançou um álbum de inéditas após 10 anos de hiato, o The Mars Volta, foi uma das presenças mais viscerais do segundo dia edição carioca do MITA. A estranheza do som mesclada ao domínio de vocais chamou atenção até de quem não conhecia a banda. A canção “Graveyard Love” levantou o público, que cantou em coro e, em seguid e com direito à rodinha punk, a banda vaticinou seu “Esperamos voltar logo!”.

É verdade: todo mundo já foi baixinho um dia. Fato. Agora, quando um baixinho vira estrela pop alternativa e pode render homenagem aos ídolos da infância, é certo que tudo fica mais divertido. Foi assim que as irmãs Haim abriram seu show. Por isso, foi show quando Este Haim, uma das irmãs desse intrépido trio que se divide entre os vocais e instrumentos, fez questão de render homenagem à Xuxa. Segundo ela, desde que era bebê, as canções da eterna rainha dos baixinhos guiavam seus passos.

Em versões em português e em espanhol, o hitão “Ilariê” integrou o setlist das moças, despertando curiosidade entre os desavisados de plantão. Considerando que esta edição do MITA foi repleta de convidados, teria sido gol de placa se a própria Xuxa aparecesse no palco. Na sequência, ainda mantendo sua leveza, as multiartistas apresentaram “Don’t Save Me” e “Gasoline“. E, usando biquinis amarelos com a bandeira do Brasil estampada, mantiveram a vibe anos 2000 em alta, pavimentando o terreno para a viagem no tempo que seguiria com a headliner Florence Welch.

Última apresentação da noite, Florence and the Machine abriu o show com “Heaven is Here” em versão acústica. Totalmente inebriada pelo som da bateria, Florence Welsh, que adora os instrumentos percussão, socava e flanava pelo ar como uma maestrina passional, regendo sentimentos variados e causando fascínio. Para revalidar o mood alternativo, a vocalista pediu aos fãs que desligassem os celulares antes de dar início à música que a projetou no mainstream: “Dog Days Are Over“. “Queria que todas as pessoas deste festival deixassem o celular de lado. Vamos fazer as pessoas na transmissão pensarem que estão assistindo a um show dos anos 1990”, pediu a ruiva.

Para delírio da plateia, na esteira vieram “Dream Girl” e “Big God“, dando prosseguimento ao tom libertário da apresentação. Com um setlist muito mais equilibrado entre os álbuns da carreira, “Cosmic Love“, do álbum “Lungs” (2009) e “Never Let Me Go“, do “Cerimonials” (2011) também foram cantados a plenos pulmões. A cara de cantora setentinha também ajuda a perpetuar essa estética fadinha art nouveau que sabe brincar com o glam desconstruído: vestido diáfano de lamê dourado apagadinho e pés descalços.

Vívida e com o instrumento vocal cada vez mais cirúrgico, Florence Welch enfeitiçou o público como seria de esperar de uma fada. Foi comunhão. O sentimento de prazer se refletia tanto na artista quanto nos fãs, principalmente durante impressionante interpretação da canção “Shake It Out“, amarrada em “Rabbit Heart“, outro smash hit do início da carreira. O fato é que a desenvoltura da artista, que revelou recentemente estar sóbria do álcool e do abuso de substâncias há nove anos, pode ser sentida em plenitude no palco.

*Por Andrey Costa
Foto destaque: Divulgação
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