Terminadas as semanas de moda de NY, Londres, Milão e Paris, os holofotes se voltam ao funil de tendências que podem ser aproveitadas daqui à primavera-verão 23, correto? E as semanas de moda prestes a começar por aqui, certo? Na virada do mês temos mais uma rodada do salão de negócios do Minas Trend e, de 16 a 20 de novembro, 48 grifes desfilam no SPFW. A moda, além de retratar uma época, traz na carne o papel de ser adaptável a realidades distintas. Se a crise econômica é realidade no pós-pandemia e o bolso aperta, impedindo a barganha de um casaco de couro da Louis Vuitton ou das silhuetas de sereia apocalíptica Y2K da Blumarine, o resultado é encarar o problema, levantar, sacudir a poeira. Em suma, dar a volta por cima. Quiçá, fazer várias limonadas com limõezinhos fashionistas.
Para a próxima estação as labels buscaram peças e estilos em alta nas últimas temporadas, como a camisa branca e os anos 2000. Assim, requentou-se tendencinhas com uma pitada de inventividade. Da aposta em matérias-primas sustentáveis, como vimos na Stella McCartney e Chloé, passando pelas coleções utilitárias que traçam um paralelo com o universo em desencanto da guerra entre Rússia e Ucrânia, as opções surgem enviesadas em alertas necessários. “Fure a bolha!”, gritaram semioticamente marcas, como Loewe, na tentativa de alertar o consumidor de moda sobre as transformações intrínsecas que o setor precisa passar. Confira s lista de tendências selecionadas pelo ÁS para 2023!

HANDMADE
Uma das sacadas mais certeiras das marcas é recorrer ao trabalho feito à mão nos ateliês. Mesmo com uma forte inclinação para um minimalismo sexy nessa temporada, as etiquetas que arremataram as peças com um handmade esperto saíram na frente. Talvez o luxo despretensioso siga em alta e, consequentemente, pode aparecer através de bordados, tramas, crochês e tricôs, sejam com o efeito metalizado que vimos na Chloé ou torcido, como apresentado na Balmain. O fato é que o fator humano será dificilmente substituído por máquinas incapazes flertar com um resultado tão individual.

ALFAIATARIA DESCONSTRUÍDA
O ensaio de repensar modelagens clássicas segue em evidência para a próxima estação. Nele, nada passou ileso: do blazer Stella McCartney, que vira macacão deluxe ao maxi-colete enxugado Raf Simons, que ganha o público masculino, tem opção inusitada ou conceitual para todo mundo.

CAMISARIA
De fato, a camisa branca tradicional surgiu repaginada e, já que todo mundo tem uma no guarda-roupas, fica fácil aderir à peça. Seja a versão Carolina Herrera, sequinha no corpo e bufante nas mangas, ou na opção com patch divertido da Stella McCartney, o coringa ganha mais vida se utilizado com interferências de styling. Aliás, essa inclusão da peça no dia a dia é cartada certa, já que o home office é realidade. Portanto, tirá-la do armário para outras finalidades, que não apenas o trabalho, tem tudo a ver.

UTILITÁRIOS
Em ano de guerra na Ucrânia, o senso comum pede por bom senso e, por isso, evita o uso de referências militares óbvias. Porém, com o advento da guerra seguindo sem maiores resoluções diplomáticas, a moda reciclou os utilitários da vez e tentou incluí-los no radar fashion, sem flerte militar, literalmente, na possibilidade de comparações. A Louis Vuitton turbinou os bolsos, modelando-os em shorts, vestidos e blusas, tudo em harmonia com uma paleta que passa pelo verde, marrom, preto e branco. Na Off-White, a bolsa surge acoplada às modelagens, facilitando o mochilão de quem não perde tempo na hora de vestir uma roupa e botar o pé na rua.

PUNK DE BOUTIQUE
O eterno flerte da moda com o rock sempre rende. De NY à Paris não foi diferente. Do tubinho cheio de transpasses ao combo jaqueta + saia-jaqueta Alexander McQueen, a turminha trevosinha está bem servida. A única ressalva é a do preto como escolha nada básica, já que, mesmo com o minimalismo ensaiando um retorno potente, o espaço para o avant-garde está garantido. Na Balenciaga feita pelo georgiano Demna Gvasalia, a motorcycle bag foi reconstruída em um vestido longo que cruzou a passarela enlamaçada. Mais punk de boutique impossível.

Y2K
Quem não poderia ficar de fora da listinha de tendências do ÁS? Ele mesmo! O Y2K, estilo que vem sendo revisitado por algumas marcas há algumas estações. Dessa vez ele ressurge na Givenchy, que criou bermuda com bolso cargo em tweed, arrematando-a com uma t-shirt básica e alguns acessórios de resina transparente. Passa pela sereia subversiva da Blumarine e deságua no sexy, nada vulgar da Victoria Beckham. Mais anos 2000 do que isso, apenas a cintura baixa, popularizada por Alexander McQueen na virada do século, retornando com tudo pelas mãos da mesma etiqueta, comandada por Sarah Burton desde a morte do seu criador.
Para a primavera-verão 2023, as modelagens justíssimas estão mescladas com esse desejo de compreender o turbilhão de fenômenos atuais — guerra, pandemia, economia, política, etc — e imprimir sentimentos relacionados a ele, como liberdades individuais, representatividade e feminismo. Nada mais justo do que, dessa vez, o tom ser dado por uma estilista mulher.

*Por Andrey Costa
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