* Com Dani Lachter e Guilherme Foti
É o triunfo da cartela pantone. Logo de cara, montagens em cor única parecem dominar as passarelas da 44ª edição da São Paulo Fashion Week. Tendência? Minimalismo noventinha? Comunicação visual facinha, na veia, como estratégia para encher os olhos dos consumidores em tempo de vacas magras, substituindo investimentos em estamparia? Preguiça na edição de moda, da mesma forma que o styling-cópia de look de desfile anda se tornando chavão nas publicações de moda? Quem sabe, tudo junto e misturado…
Rubra moda
O púrpura já foi a cor dos bem-nascidos romanos, tradução de realeza chancelada por Deus, símbolo de distinção espiritual incorporado pelo alto clero e até sinônimo de clamor sexual quando o decadentismo tirou a mulher do posto de vestal asséptica para inseri-la nos desígnios da sociedade de consumo, como uma sedutora vamp à véspera da Belle Époque. Sua verve aristocrática encontra raiz no custo elevado do pigmento nos primórdios da civilização ocidental. Hoje, é impacto, veículo para quem quer causar.
A Osklen trouxe púpura para celebrar Tarsila do Amaral. Vanessa Moe usou sofisticadamente a cor para evocar a ancestralidade aborígene da Oceania. Água de Coco deu um tempo em etnias e folhagens, pelo menos em parte, para cair de boca no tom. E até João Pimenta, que costuma se entregar a pretos, brancos, azuis, pastel e terrosos para renovar o masculino, só faltou se render ao hit noventista de Marcia Freire: “Meu coração é vermelho! Hei,hei,hei, de vermelho vive o coração…”
Amiga Fanta
Para desmistificar a cor do seu significado corrupto: se depender da SPFW, laranja não é mais sinônimo de testa de ferro em negociata ilícita. Variações de todas as gamas tomaram de assalto os desfiles, mas no bom sentido. Ao traduzir em roupa o estilo agressivo e elegante da obra do artista plástico Cy Twombly, Raquel Davidowicz iluminou pretos e brancos em sua UMA com o que chamou de damasco. E Lilly Sarti usou a cor como metáfora para a luz solar que esquenta a pele durante o verão. Saindo do alaranjado para cair no ocre, mas ainda caliente, a Iódice comemorou 30 anos de estrada – exemplo de tenacidade em um Brasil cruel também para a moda – com lampejos de tropical art.
Tudo azul sem pecado e sem juízo
Fabiana Milazzo curte mesmo flertar com azuis, e não é de hoje. Como Baby do Brasil fazia na música nos idos de 1980. Dessa vez, ela usou tons clarinhos para personificar seus sonhos mais profundos na catwalk. Literalmente, nada de sentido figurado. Lenny Niemeyer foi outra que lavandou. Lilly Sarti também teve um bloco assim. E a 2DNM, que reforçou seu DNA jeans com a presença no estilo da ótima Karen Fuke – ex-Triton – apostou na mono tanto no look índigo total quanto combinado com tecido plano listradinho.
Quando millenial é mimo, e não geração que não liga para grife
Metafísica, Paula Raia apelou para incenso e cristais, foi aquela que explicitou no pantone: recebeu de novo em petit comité para mostrar performance em rosa millenial, inclusive no seu próprio look. O happening não agradou a todos, como a editora sênior da Elle Vivian Whiteman, que questionou a atuação superficial das modelos. Mas o brinde – um robe em linho na cor –, se transmutou em objeto do desejo após algumas temporadas de jejum de brinde bom. Virou até post na Vogue, se transformando em chocalho das chiques. Índio quer apito.
Fio terra
Neutros e terrosos também viraram monocromias espertas na semana de moda. A Osklen trouxe cru, areia e cáqui para eles e elas. E até Oskar Metsavaht vestiu a camisa. Aliás, camisa e calça. Fabiana Milazzo investiu num amarelinho quase creme, tipo farinha láctea. Ou Leite Ninho. No Brasil nativo-praiano da Triya há espaço para um verde folha que, no frigir dos ovos, é quase um cáqui verde. Ou charuto esverdeado. Você escolhe. Mas, a praia de Paula Hermanny é outra: sua Vix praia tem off-white.
Deixe seu comentário