Ao lançarmos um olhar para as mulheres no Brasil, ainda esbarramos com um cenário de disparidade com os homens no que diz respeito a salário, visibilidade e oportunidades. Se a lupa é direcionada para a situação das mulheres imigrantes e refugiadas, esse contexto ganha contornos de opressão e desigualdade em nosso país. É inegável que a dinâmica ainda funciona assim em muitos casos, mas iniciativas potentes continuam emergindo para mudar o jogo, como felizmente acontece no projeto Mulheres do Sul Global. Planificado por Emanuela Farias a partir de 2014, após o retorno de um ano sabático na Índia, foi em 2017 que o MSG se materializou por meio de um grupo de mulheres refugiadas angolanas e congolesas que, sob a mentoria de Emanuela, começaram a alinhavar uma história linda de muita persistência e coragem, que no último domingo (10/03) chegou ao ID:Rio Festival 2024.
Em parceria com o Istituto Europeo di Design (IED-RJ) e com curadoria de Claudio Silveira, a ONG apresentou a coleção “Mulheres do Brasil by Mulheres do Sul Global“, que contou com uma plateia calorosa, formada por integrantes do projeto. Produzida com materiais têxteis que a indústria da moda descartaria, a coleção apresenta a dicotomia do olhar que — devido aos moldes capitalistas — é ensinado a classificar como um bom produto aquele que não teve a necessidade de pautar seu processo de fabricação em descartes da cadeia produtiva e o encantamento por um produto feito a partir dar capacidade de renovação dos materiais. Dualidade que a moda explora bem, como já sabemos.
Através das modelagens atuais, bem construídas e até inventivas, encabeçadas pelo designer de moda Bira Godoy, do IED-RJ, que também assumiu a modelagem do desfile da Lecia na última sexta-feira (8), as roupas não só falam por si, como também refutam qualquer opinião que pudesse vaticinar previamente o que seria apresentado. Seguindo um esquema de cor bem definido, entre brancos, crus, um verde musgo lindo, terrosos e fechando com uma série deslumbrante de pretos, a passarela foi redonda, preenchida pelo trabalho afetuoso e bem treinado de mulheres que aplicam suas potências num segmento que dialoga de frente com o sonho, o desejo e as tais oportunidades mencionamos no começo da matéria.
Teve alfaiataria clássica, mas também teve aquele olhar para o consumidor, que entende o que funciona, mas que curte uma desconstrução aqui e ali, sabe como? Na mesma direção, a coleção também aplicou os tecidos nobres em terceiras peças, como coletes e casacos, passando pelas fibras naturais que reinaram na camisaria. Os comprimentos também tiveram uma atenção, já que na roda atual, versatilidade é o que importa. Aí entraram os vestidos mini super contemporâneos, as calças xadrez que prometem ser hit (caso a coleção ganhe desdobramentos comerciais, como esperamos!), as maxi-saias statement e os longos de festa forjados no brilho, bordados e na fluidez, afinal, pesquisa de tendência é essencial, principalmente numa apresentação forte, sofisticada e necessária.
Confira o desfile Mulheres do Brasil by Mulheres do Sul Global no ID:Rio Festival 2024:
*Por Andrey Costa
Foto destaque: Divulgação
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