A moda flertou com a arte pela primeira vez, possivelmente, a partir de 1860, quando inglês Charles Frederick Worth não apenas resolveu costurar, mas desenhar, modelar, cortar, escolher tecidos e imprimir sua assinatura em criações que o elevaram ao patamar de “pai da alta-costura”. Empenhadíssimo em dar mais vida a essas imagens de moda, contratou fotógrafos da época que retrataram suas peças como verdadeiras obras de arte, revelando o artista por trás do costureiro e imortalizando roupas que até hoje inspiram pessoas. De lá para cá, essa barra seguiu tão alta quanto a de uma calça com bainha italiana, com a relação entre moda e arte sempre funcionando. Assim, o MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) apresenta as criações da terceira temporada do MASP Renner, projeto que convida duplas de artistas e estilistas para criarem, desde 2018 e de forma colaborativa, looks para integrar a coleção de moda do museu.

“Moda e arte se relacionam diretamente, se manifestando de diversas maneiras”, dispara a diretora de Marketing Corporativo da Renner, Maria Cristina Merçon, que emenda: “Para a Renner, unir cultura, tendência e sustentabilidade é fundamental para estabelecer conexões com diferentes públicos em linha com a cumplicidade e o encantamento que são a essência da nossa marca. Por isso, desde 2019 apoiamos projetos e instituições por meio do selo Renner Cultural. Ficamos muito felizes em lançar mais uma temporada do MASP Renner e contribuir para dar visibilidade ao trabalho de tantos artistas brasileiros singulares.”

Novo match de estilistas e artistas plásticos incrementa o acervo de moda do MASP.
“Moda e arte se relacionam diretamente e se manifestam de diversas maneiras. Para a Lojas Renner, unir cultura, tendência e sustentabilidade é fundamental para estabelecer conexões com diferentes públicos, em linha com a cumplicidade e o encantamento que são a essência da nossa marca. Por isso, desde 2019 apoiamos projetos e instituições por meio do selo Renner Cultural. Ficamos muito felizes em lançar mais uma temporada do MASP Renner e contribuir para dar visibilidade ao trabalho de tantos artistas brasileiros singulares”, afirma a diretora de Marketing Corporativo da Renner, Maria Cristina Merçon

Nesta temporada, foram convidadas nove duplas de artistas e estilistas de diferentes gerações, compostas por Aline Bispo e Flavia Aranha; Criola e Luiz Claudio Silva (leia-se Apartamento 03); Edgard de Souza e Jum Nakao; Larissa de Souza e Diego Gama; Lidia Lisbôa e Fernanda Yamamoto; No Martins e Angela Brito; Panmela Castro e Walério Araújo e Randolpho Lamonier e Vicenta Perrotta. O programa desenvolveu 76 looks, que refletem a diversidade cultural do acervo de obras de arte da instituição, bem como uma pluralidade de temas e linguagens. Confira quem deu close nessa nova coleção do acervo de moda do MASP!

Novo match de estilistas e artistas plásticos incrementa o acervo de moda do MASP.
Randolpho Lamonier e Vicenta Perrotta, 7 Encruza, 2022 – O artista Randolpho Lamonier e a estilista Vicenta Perrotta partem de materiais, em especial têxteis, que são garimpados ou já usados por outras pessoas, para construírem estandartes e roupas, respectivamente. Qualquer referência aos parangolés de Hélio Oiticica são bem-vindas, é claro! Uma das criações da dupla, Casa Transcomunal, é composta por uma saia-barraca de poliéster sobre a qual foram aplicadas camisetas de movimentos sociais pelas causas LGBTQIA+, por moradia, igualdade racial, de gênero, reforma agrária, entre outras questões prementes no mundo atual. Nas mangas da jaqueta jeans na parte superior foram aplicados guarda-chuvas e, nos ombros, evocando ombreiras, bonés vermelhos também de movimentos sociais. Ao utilizarem materiais que já têm história e foram recolhidos ao longo do desenvolvimento do look, a dupla discute a dimensão coletiva e política das práticas artísticas, bem como a preservação da memória desses grupos. O uso de materiais usados também levanta discussões sobre consumo, reaproveitamento, entre outras questões ecológicas. (Foto: Cassia Tabatini/ Divulgação)
Novo match de estilistas e artistas plásticos incrementa o acervo de moda do MASP.
No Martins e Angela Brito, Rainha, 2022 – O artista No Martins e a estilista Angela Brito partem de suas histórias pessoais para discutir questões como história, divisão de poder e os sistemas raciais na sociedade. Martins produz pinturas e objetos que discutem as experiências de populações jovens negras no mundo contemporâneo, enquanto Brito cria peças de alfaiataria marcadas pela assimetria, um aspecto recorrente no vestuário cabo-verdiano. Juntos, produziram três roupas que se complementam por suas formas e cores. Baseados em elementos do jogo de xadrez, como a síntese geometrizada das figuras e a alternância entre peças pretas e brancas, os looks também surgem de uma série de referências africanas, desde divindades egípcias até aspectos da moda e da cultura contemporâneas no continente, o que se reflete, em especial, no uso de aplicações douradas bordadas na parte superior e nos chapéus das montações, vistas com destaque na mostra do MASP. (Foto: Cassia Tabatini/ Divulgação)
Novo match de estilistas e artistas plásticos incrementa o acervo de moda do MASP.
Panmela Castro e Walério Araújo, Vestido siamês, 2022 – Vestidos produzidos para serem usados por duas mulheres são recorrentes na produção da artista e grafiteira Panmela Castro, levantando discussões sobre performance de gênero e as relações de irmandade e afeto entre as pessoas desse grupo social. Sororidade é palavra constante no vocabulário afetivo da carioca Panmela, que costuma emocionar o público com belos afrescos, como o mural da Rua do Lavradio, na Lapa carioca. Vestido siamês foi produzido pela artista em parceria com o estilista Walério Araújo, trazendo aspectos conceituais do trabalho de Castro, como o interesse pela noção de dororidade, relações entre mulheres que compartilham os mesmos ideais e, no caso, com ênfase nas lutas de mulheres negras contra as intersecções entre machismo e racismo. As experimentações de modelagem, o interesse por tecidos brilhantes e a paleta de cores, no entanto, são típicas da produção de Araújo, demonstrando os pontos de contato e diferenças da dupla. (Foto: Cassia Tabatini/ Divulgação)
Lidia Lisbôa e Fernanda Yamamoto, A noiva, 2022 – Uma das intercessões entre a artista Lidia Lisbôa e a estilista Fernanda Yamamoto é a produção de formas orgânicas marcadas por diferentes texturas resultantes de intenso trabalho manual sobre os materiais. Sobressai nessa mostra do MASP o look A rainha é feito por diversos materiais em tons de branco, com uma primeira camada em poliéster modelada como um quimono, peça recorrente nas coleções de Yamamoto e que remete à sua ancestralidade oriental. Sobre os ombros e o colo, uma série de botões, miçangas de pérolas e pedaços de tule foram bordados em múltiplas camadas e alturas, em alusão às séries de esculturas Cordões umbilicais e Tetas que deram de mamar ao mundo, nas quais Lisbôa faz uso desses materiais. (Foto: Cassia Tabatini/ Divulgação)
Larissa de Souza e Diego Gama, Uniforme de Domingo, 2022 – A artista Larissa de Souza e o estilista Diego Gama trabalham a partir das histórias de suas famílias: ela com pinturas de uma paleta serena e figuras sintéticas em narrativas sobre o cotidiano de famílias negras e migrantes; ele a partir da atuação de seus antecessores como jogadores de basquete. Uma de suas criações, o Moletom Cajueiro possui um tom alaranjado pastel, recorrente no trabalho de Souza e a presença de cajus, que, para a artista, são símbolos de suas origens nordestinas. A dupla fundiu as castanhas dessa fruta em resina pigmentada e os adornos foram bordados por todo o look. A modelagem é baseada em conjuntos de moletons de manga longa, roupas usadas para a prática de esportes, mas agora feita em silicone – elemento frequente nas criações de Gama. Completando as associações culturais, afetivas e geracionais que os conecta, Souza e Gama produziram um chapéu de algodão feltrado com látex modelado no formato de uma panela, remetendo ao personagem Menino Maluquinho, criado pelo cartunista Ziraldo nos anos 1980. (Foto: Cassia Tabatini/ Divulgação)
Criola e Luiz Claudio, ORI, 2022 – A dupla formada pela artista Criola e o estilista Luiz Claudio produziu para o acervo do MASP três looks predominantemente feitos de kanekalon (cabelo sintético) e miçangas. O uso desses materiais está associado às práticas de cuidados com os cabelos nas comunidades negras, como na aplicação de tranças e alongamentos ou de adornos, como os laces e apliques. As peças se conectam pelas franjas em suas laterais, formando uma tríade que relaciona padronagens e figuras de mulheres negras. Criola é reconhecida por suas pinturas em murais que representam figuras negras, em especial mulheres, repletas de motivos baseados na cultura urbana e nas religiões afro-brasileiras; já o estilista tensiona a construção meticulosa de roupas de alfaiataria com cores e padrões vibrantes, contrastando materiais nobres, como seda e cetim, com outros inusitados, como plástico ou palha. (Foto: Cassia Tabatini/ Divulgação)
Aline Bispo e Flavia Aranha, Cio da Terra 2, 2022 – A artista Aline Bispo e a estilista Flavia Aranha comungam do interesse por plantas medicinais e simbólicas, cujos aproveitamentos são transmitidos pela tradição oral na cultura brasileira. Bispo trabalha com ilustração digital e pintura a óleo, enquanto Aranha utiliza materiais orgânicos e pigmentação natural para o desenvolvimento de suas roupas. Uma de suas criações foi Cio da Terra 2, um vestido com alças feitas com sementes de jarina, também conhecida como marfim-vegetal e explorada nas práticas de desenvolvimento sustentável na região amazônica, especialmente na produção de biojoias, como as da carioca Maria Oiticica. No corpo do vestido, Bispo pintou uma imagem livremente baseada no abacaxi de jardim, uma planta ornamental, utilizando pigmentos de pau brasil, urucum, crajiru e catuaba, que produzem uma coloração rosada e avermelhada. (Foto: Cassia Tabatini/ Divulgação)

*Por Andrey Costa

Foto destaque: Divulgação

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