Ela é uma espécie  de Hera Venenosa do bem. Ou lembra Melisande, uma das sete esposas de Barba Azul, aquela que cuida dos jardins do cruel duque em alguma versões do conto de fadas e, de tanto conversar com vegetais, acaba se transformando numa espécie de mulher-planta. Responsável pelo paisagismo nos lounges da São Paulo Fashion Week, Ana Claudia Ethel vai além da jardinagem e é uma terapeuta de plantas que precisam de carinho para não entrarem em estado vegetativo. “Sou uma jardinista”, se autodefine a moça, contando que suas amigas verdinhas podem precisar até de banho de descarrego.

Formada em arquitetura pela Escola de Belas Artes/SP, ela já tinha convívio com as terapias zen desde criança, pois a mãe costumava lhe fazer acupuntura. E, mais tarde, caiu de amores pelas plantas a partir do convívio com o mestre Pai Ling  (um guru oriental, tipo o Pai Mei de “Kill Bill”) e depois pelo seu filho, Mestre Liu. Com eles se iniciou na radioestesia, no feng shui e em otras cositas más: “As plantas são como nós, também amam e sofrem, são vulneráveis ao meio ambiente. Aqui na SPFW é barra, viu, porque elas sentem o clima quando está pesado”, vaticina. “Tipo fogueira de vaidades?”, pergunta ÁS. Ana Claudia não se faz de rogada: “Exato”.

Nesta temporada, ela cuidou dos lounges da In-Mod, da Quem e da Marie Claire, além de se encarregar de imprimir uma levada verde na sala de imprensa, normalmente árida por conta da correria dos jornalistas para cobrir o evento. “Na In-Mod pude planejar com tempo, mas na Quem/Marie Claire, recebi o convite da Andrea [Dantas, diretora de grupo da Editora Globo] em cima do laço e só tive de domingo à segunda para por tudo de pé. Por isso vim todos os dias na SPFW de manhã para borrifar arruda nas ‘meninas'”, confessa.

Além de montar os arranjos com plantas que funcionam para este ou aquele projeto, Ana Claudia curte mesmo lidar com a energia delas, como uma espécie de guru clorofílica: “Vegetais são como nós; querem ser cuidados. Converso com as árvores na rua, lá no Planalto Paulista, onde moro. Sobretudo com os pés de jambo. Volta e meia sou chamada de maluca. Mas é importante até conversar com os legumes e as verduras que comemos”, entrega. “Isso tudo vale a pena; na minha varanda tenho até uma macieira que dá frutos”.

Ela conta que é adepta do panc – plantas comestíveis não convencional. E dispara que, para cuidar delas, são necessários os mesmo cuidados que tem com as decorativas, como as que compõem os espaços vips na SPFW: “Todo dia de manhã venho aqui no evento borrifar tônicos. Spray de arruda é ótimo para limpar; o de sal grosso [marinho] é mais forte ainda. E o spray de alecrim é revigorante, relaxante”, revela, deixando claro que cuida também dos jardins em shopping centers como o Shopping Metropolitano.

“Montei um viveiro lá área externa desse mall que é uma verdadeira clínica de reabilitação. Não faz sentido pegar as plantas, jogá-las no ambiente sem cuidados e deixá-las à míngua até a morte. Isso é contra minha filosofia de vida. Daí o viveiro. Mas, claro, acabei ganhando a inimizade de vários fornecedores de plantas, para quem é mais interessante relegar os arranjos aos “deus-dará”, intensificando o comércio de reposição. Essa turma não quer plantinha saudável… ”

Ana Claudia fecha o papo dizendo que parte do seu conhecimento vem dos muitos cursos que acaba fazendo pelo mundo. Já estudou umbanda e fez até curso de poções e bruxaria vegetal em Salém, Nova Inglaterra, lugar intimamente ligado a um passado exotérico na época da colonização dos EUA. “A única coisa que não dá para fazer aqui é o feng shui, que vira enganação por conta dos hábitos brasileiros, muito diferentes dos orientais. Já viu brasileiro ficar sem tomar banho com o calor que faz aqui, por conta de uma orientação do feng shui? Baleeeela…”.

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