Sim, aconteceu. O Casa Shopping testemunhou algo incomum: arquitetos discutindo emoções ao invés de plantas baixas. Letícia Monteiro, uma espécie de “Lina Bo Bardi dos lares cariocas”, transformou a Criare em divã particular, provando que uma residência pode ser muito mais que um endereço, mas também um retrato falado da nossa psiquê. Ao lado da paisagista Ana Veras, que trouxe a biofilia para o diálogo (sim, suas samambaias realmente te amam), o badalo explorou as conexões insuspeitas, mas profundas, entre psicologia e design.

Letícia Monteiro e Ana Veras (Foto: Leo Marinho/ Divulgação)

“Ter uma conexão real com a casa nos deixa mais seguros e confiantes, nos ajuda a lidar com nossos sentimentos e a relaxar”, compartilhou Letícia, revelando seu método singular, assumindo essa verve oráculo-baguá. Através da associação livre e escuta ativa, a moça é tipo esfinge: decifra (mas não devora!) lembranças que moldam suas concepções profissionais,  como aquela varanda que reproduz o quintal da infância ou o azul que remete às férias na praia.

“Para que essa relação entre morador e casa seja profunda, é necessário o cliente se conhecer”, explica Leticia com a propriedade de Jung, enfatizando que um simples objeto herdado pode se tornar o elemento central de um cenário.

Cá entre nós, maravilhoso em tempos de banalização de minimalismo, quando os clientes de decoradores, sem saber o que pedir e com receio de se exporem, acabam solicitando mais do mesmo, apelando para ambientes frios com cadeiras assinadas, deixando as casas todas iguais, com tanta personalidade quanto uma salada de acelga com aspargos. Sig Bergamin e Matthew Williamson odiariam…

Letícia Monteiro (Foto: Divulgação)

“Da mesma maneira que cada pessoa é única, seus ambientes também devem ser”, afirma a especialista com a segurança de quem transforma espaços em narrativas íntimas. Suas criações dispensam os manuais de tendências para abraçar o que chama de “geografia emocional” – vale aquela cadeira desgastada que se torna trono de memórias, azulejos que transportam para as tardes na casa da avó, a luz que dança nas paredes como nos verões da infância. Cada escolha é uma palavra nesta autobiografia espacial que escreve com seus clientes, como aquele prato simples que lembra o rango na casa da vovó e encantou o feroz crítico de gastronomia no desenho animado “Ratatouille“, da Pixar.

Convidados assistem à palestra promovida por Letícia Monteiro (Foto: Divulgação)

A experiência se encerrou virou epifania coletiva, tipo um ayahuasca decorativo: “Abrir a porta de casa deve ser como aquele abraço que aquece a alma depois de um dia difícil”. Enquanto os convidados se dispersavam, levavam nos olhos a revelação de que o verdadeiro lar não se mede em metros quadrados, mas na capacidade de nos reconhecer em cada detalhe. E as plantas de Ana Veras, cúmplices silenciosas daquela tarde, sussurraram com suas folhas aquilo que todos sentiam: a arquitetura que realmente importa é aquela que nos veste como uma segunda pele, confortavelmente nossa.

Confira abaixo quem deu o rolê no agito (Fotos: Divulgação):

Ana Veras, Rodrigo Kaled e Letícia Monteiro (Foto: Leo Marinho/ Divulgação)
Eva Taquechel e Ana Veras (Foto: Leo Marinho/ Divulgação)
Philipa Fontenelle, Karla Ortiz e Eva Taquechel (Foto: Leo Marinho/ Divulgação)
Erika Maranhão (Foto: Leo Marinho/ Divulgação)
Carol Nunes e Nina Tavares (Foto: Leo Marinho/ Divulgação)
Isabela Couto e Renata Conde (Foto: Leo Marinho/ Divulgação)
Letícia Monteiro (Foto: Leo Marinho/ Divulgação)

*Por Luana Murakami

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