Quatro séculos e meio… Tempo que o plástico leva para se decompor! Muito tempo, não? Por que, então, em vez de deixá-lo nem lindo nem leve, mas solto, por aí poluindo o meio-ambiente, não transmutamos descarte em beleza? É justamente a proposta da Pirilampos do Planeta, ação tocada a quatro mãos pelo casal Lula Duffrayer e Flávio Carvalho, que transforma artigos de plástico sucateados em luminárias pop arte. A dupla, que sempre trabalhou com comunicação corporativa e toca eventos de grandes clientes como Unilever, Nissan e L’Oréal com sua produtora Conexão Rio, resolveu reservar um tempinho na rotina para contribuir a favor da sustentabilidade planetária. Acabou virando paixão.

A Pirilampos do Planeta ressignifica lixo em design e arte.
Coidealizador da Pirilampos do Planeta, Lula Duffrayer transforma em adereço instagramável uma de suas luminárias produzidas com sucata plástica. (Foto: Robert Schwenck/Divulgação)

As luminárias dos meninos são lindas. Lembram, de certa forma, as divertidas brincadeiras criadas pela Zolo Playsculpture, posta para jogo em 1986 pelo casal de designers novaiorquinos Byron Glaser e Sandra Higashi, que se encantaram com a estética Memphis, contemporânea ao New Wave. A marca, que existe até hoje, é o Lego dos descolados, Playmobil dos hypados. Com suas peças coloridas nonsense, qualquer um pode transformar um kit da grife, repleto de pecinhas gráficas, em exercício lúdico pronto para domar a alma naquelas dias de tédio nos quais nem a Netflix resolve. Precursoras dos toy arts, as criações da Pirilampos do Planeta se conectam com a mesma verve criativa que um brinquedo da Zolo proporciona, com uma grande diferença: enquanto esta injeta plástico para produzir novos produtos, a primeira resgata plástico descartado na natureza para traduzi-lo em luminárias. E dá-lhe lixo, considerando a quantidade de itens do dia a dia que o mercado desova, no início do processo, nas prateleiras de artigos para o lar, em pontos de venda como Lojas Americanas ou Casa & Vídeo. Haja balde de polipropileno, escumadeira de silicone, cabide de poliestireno e potinho de PVC, só para citar alguns, rebaixados a dejeto toda vez que a moda troca o pantone por outro da vez, forçando consumidores a a aposentarem esses produtos em prol de outros na nova cor do ano. Como diz o ambientalista Ailton Krenak, “Precisamos todos despertar… Hoje estamos todos diante da iminência da Terra não suportar a nossa demanda.”

Só para iniciados: brinquedo de adulto, a Zolo explodiu nos anos 1980 como ícone da criatividade latente na Década Perdida, ainda se mantendo em atividade, mas nunca conseguiu sair da bolha cult para atingir a grande massa. (Foto: Reprodução)

A Pirilampos está com uma campanha de financiamento coletivo para a retirada de 50 mil descartes deste tipo e sua transformação em peças que vão virar uma exposição interativa para falar de sustentabilidade, voltada especialmente para crianças e adolescentes de comunidades e escolas municipais. Além disso, existe um forte trabalho de valorização da auto estima dos profissionais que atuam na coleta seletiva, promovendo a possibilidade de geração de renda extra para eles. “Precisamos dar visibilidade ao projeto, é importante para o fomento. Quanto mais pessoas souberam da campanha, melhor! No mais, lixo transformado em arte é sempre assunto dramático”, pontua Lula Duffrayer.

Flávio Carvalho assume sua porção performer ao vestir uma de suas luminárias. (Foto: Robert Schwenck/Divulgação)

Através da aproximação com as associações de catadores, os “pirilampos” detectaram que as tampas das embalagens plásticas são separadas como um material de segunda linha – ou seja, representam o descarte dos descartes. Por isso, os rapazes decidiram fazer bom uso delas, desenvolvendo a partir daí a linha de luminárias, produto de fácil confecção com grande parte da matéria-prima à disposição e de fácil comercialização.

A Pirilampos do Planeta ressignifica lixo em design e arte.
Sutileza: como num jogo de montar, o encaixe das tampinhas e outros componentes das luminárias equivale à ludicidade de um Lego. (Foto: Robert Schwenck / Divulgação)

“Muito mais que uma plataforma, somos uma rede de mais de meio milhão de pessoas que estão reinventando a forma como produzimos, consumimos, criamos e nos relacionamos. Realizar ou apoiar uma campanha é acreditar na
potência das pessoas e das nossas relações, e valorizar a criatividade humana, o cuidado coletivo e o fazer
junto. Num mundo cada vez mais dividido, a ação de reconexão é revolucionária”, define Lula. “Transformamos o lixo em arte e renda. Cuidar do planeta é cuidar da vida. Venha fazer parte dessa corrente de luz!”, completa Flávio. Vai perder esse convite?

A Pirilampos do Planeta ressignifica lixo em design e arte.
Tipo mapa genético: as curvas das luminárias da Pirilampos do Planeta remetem às complexas cadeias de DNA. No jogo de significações, a semiótica do projeto embarra na vocação para sanear o meio-ambiente. (Foto: Robert Schwenck / Divulgação)

Segue aí: @pirilamposdoplaneta

*Por Ana Beatriz Lyra

Foto destaque: Robert Schwenck/Divulgação

Deixe seu comentário

Seu email não será publicado.