Quatro séculos e meio… Tempo que o plástico leva para se decompor! Muito tempo, não? Por que, então, em vez de deixá-lo nem lindo nem leve, mas solto, por aí poluindo o meio-ambiente, não transmutamos descarte em beleza? É justamente a proposta da Pirilampos do Planeta, ação tocada a quatro mãos pelo casal Lula Duffrayer e Flávio Carvalho, que transforma artigos de plástico sucateados em luminárias pop arte. A dupla, que sempre trabalhou com comunicação corporativa e toca eventos de grandes clientes como Unilever, Nissan e L’Oréal com sua produtora Conexão Rio, resolveu reservar um tempinho na rotina para contribuir a favor da sustentabilidade planetária. Acabou virando paixão.

As luminárias dos meninos são lindas. Lembram, de certa forma, as divertidas brincadeiras criadas pela Zolo Playsculpture, posta para jogo em 1986 pelo casal de designers novaiorquinos Byron Glaser e Sandra Higashi, que se encantaram com a estética Memphis, contemporânea ao New Wave. A marca, que existe até hoje, é o Lego dos descolados, Playmobil dos hypados. Com suas peças coloridas nonsense, qualquer um pode transformar um kit da grife, repleto de pecinhas gráficas, em exercício lúdico pronto para domar a alma naquelas dias de tédio nos quais nem a Netflix resolve. Precursoras dos toy arts, as criações da Pirilampos do Planeta se conectam com a mesma verve criativa que um brinquedo da Zolo proporciona, com uma grande diferença: enquanto esta injeta plástico para produzir novos produtos, a primeira resgata plástico descartado na natureza para traduzi-lo em luminárias. E dá-lhe lixo, considerando a quantidade de itens do dia a dia que o mercado desova, no início do processo, nas prateleiras de artigos para o lar, em pontos de venda como Lojas Americanas ou Casa & Vídeo. Haja balde de polipropileno, escumadeira de silicone, cabide de poliestireno e potinho de PVC, só para citar alguns, rebaixados a dejeto toda vez que a moda troca o pantone por outro da vez, forçando consumidores a a aposentarem esses produtos em prol de outros na nova cor do ano. Como diz o ambientalista Ailton Krenak, “Precisamos todos despertar… Hoje estamos todos diante da iminência da Terra não suportar a nossa demanda.”

A Pirilampos está com uma campanha de financiamento coletivo para a retirada de 50 mil descartes deste tipo e sua transformação em peças que vão virar uma exposição interativa para falar de sustentabilidade, voltada especialmente para crianças e adolescentes de comunidades e escolas municipais. Além disso, existe um forte trabalho de valorização da auto estima dos profissionais que atuam na coleta seletiva, promovendo a possibilidade de geração de renda extra para eles. “Precisamos dar visibilidade ao projeto, é importante para o fomento. Quanto mais pessoas souberam da campanha, melhor! No mais, lixo transformado em arte é sempre assunto dramático”, pontua Lula Duffrayer.

Através da aproximação com as associações de catadores, os “pirilampos” detectaram que as tampas das embalagens plásticas são separadas como um material de segunda linha – ou seja, representam o descarte dos descartes. Por isso, os rapazes decidiram fazer bom uso delas, desenvolvendo a partir daí a linha de luminárias, produto de fácil confecção com grande parte da matéria-prima à disposição e de fácil comercialização.

“Muito mais que uma plataforma, somos uma rede de mais de meio milhão de pessoas que estão reinventando a forma como produzimos, consumimos, criamos e nos relacionamos. Realizar ou apoiar uma campanha é acreditar na
potência das pessoas e das nossas relações, e valorizar a criatividade humana, o cuidado coletivo e o fazer
junto. Num mundo cada vez mais dividido, a ação de reconexão é revolucionária”, define Lula. “Transformamos o lixo em arte e renda. Cuidar do planeta é cuidar da vida. Venha fazer parte dessa corrente de luz!”, completa Flávio. Vai perder esse convite?

Segue aí: @pirilamposdoplaneta
*Por Ana Beatriz Lyra
Foto destaque: Robert Schwenck/Divulgação
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