Destaque no último Festival de Veneza, “Priscilla(idem, American Zoetrope e The Apartment, 2023) – cinebiografia baseada no livro de Priscilla Presley que relata sua visão sobre a relação com o astro Elvis Presley, “Elvis e Eu” (1985) –, teve sessão de gala no Cine Odeon, neste último sábado (14/10), no Festival do Rio. A produção, que estreia no final de dezembro no Brasil, se afina com a visão da diretora Sofia Coppola de apresentar narrativas nas quais seus protagonistas se encontram deslocados nos ambientes que habitam. Soma-se a isso, o fato da história oferecer ao público mais uma mocinha na flor da idade, muito jovem, que se sente de alguma forma inadequada ao seu entorno, como na produção inaugural da cineasta, “As virgens suicidas” (1999) e no óbvio “Maria Antonieta” (2006).

Confira abaixo o trailer oficial de “Priscilla” (Divulgação):

A produção engloba o período que vai da festa onde a então adolescente Priscilla conhece Elvis, em 1959, quando ele servia como soldado na Alemanha na mesma base militar para qual o pai dela havia sido transferido, passando pelo casamento em 1967 até o seu término, em 1973. A sensação de deslocamento de Priscilla, de imediato encantada pelo ator e cantor neste processo de descoberta tanto da sexualidade quanto do amor, se intensifica pela desproporção física entre seus intérpretes, a miúda Cailee Spaeny, 1,50m, e agigantado Jacob Elord, com 1,96m.

Filme que fechou a 25ª e~dição do Festival do Rio, cinebiografia estreia no Brasil em dezembro.
Bodas com jeito de festa de debutante: “Priscilla” é uma das muitas produções que oferecem uma trajetória de empoderamento presentes nesta edição do Festival do Rio. (Foto: Divulgação)

De fato, Elvis Presley (1,82m) era muito alto que Priscilla (1,63m), mas Coppola é feliz ao intensificar essa diferença como forma de expressar a fragilidade da moça diante da grandeza do artista. Incomoda ao público esse disparate – e as cenas em que os dois circulam abraçados ou muito próximos se encarregam de acentuar esse aspecto –, ao mesmo tempo em que revela um Elvis que, apesar das enormes dimensões (física e artística), podia se mostrar bastante frágil, carente pela morte precoce da mãe, mas anacrônico naqueles tempos  machistas e chauvinistas.  

Filme que fechou a 25ª e~dição do Festival do Rio, cinebiografia estreia no Brasil em dezembro.
Em setembro, durante a première no Lido, no Festival de Veneza, a diretora Sofia Coppola (à esq.) posou ao lado de Priscilla Presley, 78 (segunda à esq.) e Cailee Spaeny, todas evidenciando a altura avantajada do coprotagonista Jacob Elord (dir.), imensamente mais alto. A produção era uma das mais aguardadas do evento italiano, mas não se compara ao exagerado, mas impactante “Elvis“, até mesmo porque a cineasta não teve a permissão do espólio do cantor para usar suas músicas no filme. (Foto: Reprodução)

É nesse jogo de afetos e receios, regado a alternância entre a segurança e a insegurança de ambos, que a trama se desenvolve descambando numa série de abusos que Elvis acaba cometendo, tanto por conta do ambiente tóxico em que vivia quanto pela esmagadora máquina do star system que o obriga a uma rotina exaustiva que, para a sua sobrevivência, implica no consumo de barbitúricos.

Filme que fechou a 25ª e~dição do Festival do Rio, cinebiografia estreia no Brasil em dezembro.
Lolita lollipop: a jovialidade teen de Cailee Speany contribui para a impressão do público do quanto era desconfortável para a inexperiente Priscilla Presley transitar no universo do astro do rock, a começar pela opulenta Graceland, a mansão onde Elvis morava com a família em Memphis. (Foto: Divulgação)

Não há como esse universo hostil não afetar a relação de ambos. Nesse rolo compressor, a maneira delicada com que ele cuida da relação com Priscilla, desde o primeiro encontro, quando ela tinha 14 anos e ele 24, vai aos poucos se esfacelando na mesma cadência com que Priscilla amadurece para se tornar independente emocionalmente, na contramão do papel de bibelô que Elvis, sua família e seu staff haviam lhe reservado. Uma narrativa de empoderamento feminino que, não por acaso, se assemelha de certa forma à de “Pobres Criaturas”, obra-prima que foi destaque no primeiro final de semana desta edição do Festival do Rio, e a “Meu Nome é Gal”, outra produção dessa fornada que apresenta o processo que transformou a bossa-novista Maria da Graça Penna Burgos Costa no furacão tropicalista Gal Costa.

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