O início da quarentena começou um pesadelo para Victor Dzenk. Além da interrupção das atividades, o estilista foi pego pelo pé: “Quando vi, estava mal, com falta de ar. Um horror. Fiz exame no meio de março. Deu negativo, mas tive que ficar em observação. Havia mais cinco suspeitos de contaminação por coronavírus no mesmo espaço de isolamento, no hospital, quando fui internado. Filme de terror. Aquela tarde foi um susto!”, contas o designer ao ÁS, emendando: “Voltei para casa ainda com crise de respiração, recluso e pilhadíssimo. Fiz até consulta on-line com psiquiatra para segurar a onda. Comecei a tomar remédios, no meio-tempo aproveitei para fazer aquilo que todo mundo faz: pus a leitura em dia. Daí, comecei a melhorar…”.

Pantera negra: Victor Dzenk fez a ponte aérea Lagoa Santa-sítio para se recuperar da internação, planejar os passos da grife homônima diante do coronavírus e alimentar o espírito. No alvo, obras na fábrica que vão ampliar a qualidade de vida dos funcionários (Foto: Victor Dzenk)
Quando ficou bom, Victor meteu o pé. Saiu de Lagoa Santa, onde mora em Belo Horizonte, rumo ao sítio na companhia dos pais. Nada como comer comida de mãe numa hora dessas. “Aconchego, sabe…”, dispara. “Estou me redescobrindo. Um segundo Victor, entende? Já estava menos baladeiro, indo só mesmo a festas das feiras, de eventos ligados ao business. Agora, acho que vou aderir a esse novo formato mais caseiro. Parei até de fumar e beber”.
Climinha de “Êta, mundo bom!”. O empresário conta: “Ando aproveitando esses dias no sítio para desintoxicar a alma. Faço trilha, companhia para minha mãe, monto arranjos com as flores daqui. Me meto na cozinha e preparo comidinhas. Esse período de tensão tem sua serventia, é bom para desopilar”, comenta, revelando, na sequência, seus novos amigos de infância – livros que o acompanharam nessa jornada à roça: “A gente não para de pensar em moda, né? Ando às voltas com ‘Grès‘, de Laurence Benaïm [da série Mémoire de la mode, da Editora Assouline], ‘Rock and Royalty: Gianni Versace‘ [Editora Leonardo Arte] e um de design de mobiliário, ‘Sergio Rodrigues‘, [de Adélia Borges, Viana e Mosley Editora]”.

Ikebana tropical: na buasca pelo equilíbrio na era corona, o estilista Victor Dzenk anda se dedicando ao contato com a natureza (Foto: Victor Dzenk)
À parte do pessoal, Victor não parou. Apesar da sua estrutura estar fechada desde o início do confinamento, continua serelepe: “O showroom vai para dentro da fábrica. A casa foi vendida para um empreendimento imobiliário que pega um pedaço grande do quarteirão. Aí, aproveitamos essa contingência sanitária para mexer na fábrica. Antecipamos a devolução do imóvel, estivemos em obra para receber melhor nossa equipe. Novos tempos. Na volta, os funcionários vão encontrar o refeitório transformado num misto de sala de tevê com área de entretenimento”, entrega em ritmo de Dzenk lounge. “E a minha casa, a VD House, vai receber outro braço da empresa, local para projetos especiais, peças sob encomenda”.

Victor Dzenk capitaneou ação de confecção de máscaras para proteção da pandemia em Belo Horizonte (Foto: Victor Dzenk)
Sobre a coleção de primavera-verão, que seria fotografada no início de abril, o estilista fala sobre o cancelamento das feiras: “Houve ruptura. Só abri a fábrica nesse tempo duas vezes: para uma ação social de confecção de máscaras e a obra. Hoje, estaria saindo do Veste Rio para aterrissar no Minas Trend, todo frenético. Agora vou ter que ver como vai ficar. A coleção parou quando já estava 95% pronta. Não sei como vão ficar os eventos. O Veste até foi remarcado para o meio de junho, mas é perto dessa loucura toda, né? Tem que ver… Acho que desfiles e ações com aglomeração vão levar um tempinho para rolar. Talvez até as feiras, quem sabe? A bússola aponta a rota do digital, com muito network, chamadas, videoconferências…”
Sobre a estratégia para se adaptar ao novo contexto causado pela pandemia, Victor Dzenk aposta numa reestruturação digital. Para ele, não adianta mais só lançar look book. “Precisaremos de novas ferramentas virtuais. Mais que nunca, vai ser necessário operar remotamente”.
Ele dá a dica da próxima temporada que, quem diria, traz muitas fibras naturais, conforto e atemporalidade. #póspandemiamodeon. “A nova coleção foi pensada na cultura maia, na Riviera Mexicana com seu poder curativo das águas. O mito do beija-flor, esculpido a partir de uma flecha de jade, é o alicerce dessa história. Lenda linda, sobre o mensageiro da alegria e da felicidade, saca? Coincidência ou não, teremos uma estação que dialoga holisticamente com esse momento que estamos vivendo. Espero que a gente consiga trazê-la para esse pós-covid19”.
Celebrado pelas estampas, Victor vai direto ao pote: “Se fosse criar agora um print que sintetizasse aonde o rio dessa crise vai desaguar, seria um com muito azul e verde, natureza pura. E flores do campo”.
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