Anunciado como o canto do cisne de Hugh Jackman no papel que o consagrou, Logan” (idem, de James Mangold, Twentieth Century Fox e outros, 2017) é filmaço. A afinidade do diretor com o ator – que já foi dirigido por ele em Wolverine: imortal (2013) e em Kate & Leopold (2001) – só contribui para a eficácia da produção, amplificada pela intimidade que Jackman e Patrick Stewart têm com os mutantes mais famosos dos quadrinhos/cinema, já vividos por ambos em várias outras películas.

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Ciclo da vida: em metáfora para a ininterrupta roda das gerações que é a própria existência, “Logan” apresenta ao público tanto a última aventura de Hugh Jackman como Wolverine nas telas quanto revela uma nova fornada de jovens mutantes (Foto: Divulgação)

Confira abaixo o trailer oficial (Divulgação):  

Alardeado com um filme para adulto, ele foge dos clichês óbvios dos acabamentos digitais, mas mantém ótimas coreografias de luta e um excesso de violência digno de Tarantino. Mais que isso, capricha numa fotografia sombria e na ambientação de periferia empoeirada que refletem a psique enevoada do protagonista que engole muitos tragos para segurar a própria onda, após perder a crença tanto na humanidade como em si mesmo.

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Já consagrado como diretor, Clint Eastwood usou o western como alegoria para o ocaso da existência humana em “Os Imperdoáveis” (1992). De quebra, ressuscitou em grande estilo um gênero que andava fora das telas (Foto: Reprodução)

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Dez anos antes de Eastwood, o ex-galã Paul Newman não teve pudor algum em mostrar em o “O Veredito”as rugas no papel do advogado alcoólatra que encontra na luta por uma causa quase perdida uma forma de se redimir. Se saiu tão bem no papel que acabou concorrendo ao Oscar de ‘Melhor Ator’, mas perdeu para Ben Kingsley como Gandhi (Foto: Reprodução)

Obviamente, esse tipo de arquétipo extrapola o gênero “filme de super-herói” e encontra similares em realizações para maiores de 18 como O Veredito” (The Veredict”, de Sidney Lumet, 1982) e Os Imperdoáveis“, (Unforgiven, de Clint Eastwood, 1992). Jackman nada fica a dever aos respectivos intérpretes de cada uma dessas produções – Paul Newman e Clint Eastwood – no clássico papel do anti-herói que, descrente de tudo, raspa a sarjeta colecionando trocados em servicinhos de oitava para poder comprar a próxima garrafa de gim barato.

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Professor Xavier senil: amparado por um Logan alcoólatra, o outrora líder dos X-Men sofre de disfunções cerebrais e precisa viver dopado para não ameaçar a humanidade com seus poderes mentais descontrolados (Foto: Divulgação)

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De Shakespeare para o fundo do poço: ator britânico oriundo do teatro, Patrick Stewart não mediu esforços para se despedir do personagem que viveu nos últimos 17 anos em Hollywood (Foto: Divulgação)

Num futuro próximo nada atraente, no qual os mutantes foram dizimados e não nasce mais ninguém com habilidades especiais, Wolverine e o seu mentor Professor Xavier (Stewart) respiram a própria decadência em um lugarzinho lúgubre no meio do nada, sem algo por que lutar. Pior: com os superpoderes falhando como uma locomotiva velha que, para pegar no arranque, engole litros e mais litros de óleo diesel. No caso, dá-lhe pinga barata.

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Sangue e roupa rasgada: com barba grande no estilo lumberjack, o Wolverine (Hugh Jackman) da maturidade é mero arremedo daquilo que já foi um dia (Foto: Divulgação)

Nessa alegoria da capacidade humana de chegar ao fundo do poço, a novidade fica por conta do surgimento de uma nova mutante, a chicana Laura (Dafne Keen), que tem os mesmos poderes de Logan/Wolverine. Novata com apenas um filme anterior no currículo, a pequena é um achado e rouba cada cena dos veteranos que, apesar dos seus recursos interpretativos vastos, devem ter comido um dobrado no set para não serem apagados pela menina nas tomadas.

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Atriz mirim: no papel de uma mutante pré-adolescente problemática, Dafne Keen faz ótimas caras e bocas em “Logan”, conquistando o público já na sua primeira cena (Foto: Divulgação)

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O típico embate de gerações é ponto alto de “Logan” e também responsável pelo alívio cômico de uma história lacônica com final triste (Foto: Divulgação)

A relação fiial entre Logan e Laura vai se firmando como em outros longas-metragens tipo O Profissional” (Léon, de Luc Besson, 1994, filme que lançou Natalie Portman e tornou Jean Reno conhecido do grande público) e Glória” (Gloria, de John Cassavetes, 1980, com Gena Rowlands), entre muitos tiros, golpes e sangue.

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Em 1984, “O Profissional” apresentou ao mundo a então novata Natalie Portman como uma criança perseguida pela Máfia que acaba protegida de um policial (Foto: Reprodução)

Logan Gloria final

Em 1981, Gena Rowlands concorreu ao Oscar de ‘Melhor Atriz’ como a protagonista homônima de “Gloria”, relutante vizinha de um garoto cuja família foi assassinada pela Máfia. Nem é preciso dizer que a relação de mãe e filho é desenvolvida neste filme dirigido e roteirizado pelo marido da atriz, John Cassavetes (Foto: Reprodução)

O roteiro recria parcialmente elementos da HQ de 2008 Velho Logan” (Old Man Logan), mas, antes de tudo, reproduz uma estrutura narrativa usada às pencas pelo cinema, sem perder nenhum brilho. É cinemão da melhor qualidade que pode agradar tanto aos nerds fãs do personagem quanto a um público diversificado que não está acostumado a prestigiar o estilo atualmente mais rentável de Hollywood.

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Com seu fator de cura falhando a torto e à direita, Logan/Wolverine já não é mais uma Brastemp na produção que se inspira em arco de quadrinhos de quase dez anos atrás (Foto: Divulgação)

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O ótimo Richard E. Grant interpreta o vilão da vez em “Logan”, espécie de médico nazista que não tem pudor em fazer experiências genéticas com menores de idade que são párias sociais (Foto: Divulgação)

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