This is Rio Montreux Jazz Festival! Na segunda noite da 3ª edição brasuca do festival de jazz mais importante do mundo, nem a chuva que oscilou em alguns momentos foi capaz de deter o desejo do público e dos artistas de celebrar. Imparáveis — mesmo com o acesso ao Morro da Urca sendo interrompido por pouco mais de uma hora —, assim que o bondinho voltou à ativa, as pessoas acessaram tranquilamente o espaço, que impressionou pela organização e receptividade do evento. Coisa de quem entende que a experiência não ocorre apenas entre o artista e o público.
A reunião desses importantes nomes da música nacional e internacional, que trazem no viés uma relação direta ou semiótica com o estilo de jazz eternizado pelos incomparáveis Miles Davis, Bix Beiderbecke, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong e outros, segue agitando o Parque Bondinho Pão de Açúcar, no Morro da Urca — endereço principal do Rio Montreux Jazz Festival — entre os dia 11 e 14 de outubro, em dois palcos: Villa-Lobos e Village, com capacidade para receber até 2 mil pessoas por dia de evento.

Com show previsto para 22h30, o headliner João Bosco foi anunciado às 23h13; timing exato do atraso causado pela chuva. Abrindo o show com a clássica “Incompatibilidade de gênios“, parceria com Aldir Blanc na composição, João deu sequência ao espetáculo convidando o gogó potente e cristalina da cantora Vanessa Moreno para dar voz à “De frente pro crime“, que alcunha o segundo álbum de João Bosco, lançado em 1975, e que teve mais da metade de suas faixas regravadas e popularizadas mais tarde na voz da eterna pimentinha Elis Regina.

Na esteira, a complexa execução de “O ronco da cuíca“, com base em ré menor aberto, contou com os demais convidados do artistas: o violoncelista e produtor musical Jaques Morelenbaum e o discípulo de Dominguinhos e Grammy nominee Mestrinho.

A sinergia no palco evidenciou a relação de respeito, admiração e a forte influência do trabalho de João sobre os companheiros de palco. Em “Sinhá“, o público empolgou e fez coro, demonstrando ser parte essencial para a harmonia estética de um show que lança mão do intimismo, mas que não perde a brasilidade empolgada na essência. Essência essa, inclusive, que faz com que o Brasil seja o país com mais participações nas edições do Festival de Montreux original, na Suiça.

Fechando o setlist com a antológica “O bêbado e a equilibrista“, o artista aponta, através dessa nova geração de artistas convidados e do público sempre em transição geracional, para as possibilidades de um país menos romantizado na idealização e com mais perspectivas para os que vivem às margens e merecem ter a manutenção de seus direitos respeitada.
Confira uma das passagens de João Bosco pelo Montreux Jazz Festival, na Suíça, em 2002:
Tudo indicava que a celebração dos 50 anos de carreira de Ney Matogrosso com o show “Sangue Latino” se tornaria um dos momentos mais memoráveis do Rio Montreux Jazz Festival. Obviamente, a previsão se concretizou. Aproveitando o get together, o artista convidou para subir ao palco as cantoras Ana Cañas, Filipe Catto, Duda Brack e Liniker. E, diferente de João Bosco que fez um show enxuto, Ney apresentou ao todo 20 canções, incluindo o bis de “Homem com H“, em troca sincera com as artistas. A dinâmica funcionou a partir do momento que o match rolou de cara, com o show seguindo com os solos das artistas interpretando canções do repertório camaleônico do vetereano.


Já na abertura do show, sob gritos de “gostoso”, “tesudo”, “maravilhoso”, Ney abriu os trabalhos com a enérgica “Rua da Passagem (Trânsito)“, composta por Arnaldo Antunes e Lenine, e emendou com “Roendo as unhas” e “Tua cantiga” antes de convidar a cantora e compositora Ana Cañas para um dos pontos altos do show: em “Como 2 e 2“, de Caetano Veloso, a dupla, que tem um histórico pessoal de amizade e uma jornada na profissão que se cruzou em alguns momentos, entre colaborações e participações nos shows de ambos, entregou toda a dramaticidade que circunda o trabalho de ambos. Após esse primeiro ato, a cantora assumiu os vocais em “Postal de amor” e “Ponta do lápis“, nesta última todo o poderio da cantora com ascendência espanhola veio à tona. Olé é pouco para o que Cañas faz em cena!

Confira uma das participações fulminantes de Ney Matogrosso pelo Montreux Jazz Festival, na Suíça, em 1983:
Para somar à cepa de vozes agudas cristalinas que subiram no palco do segundo dia de festival, Filipe Catto comandou “Mulher barriguda” e “Corista de rock” toda trabalhada no lookinho lamê dourado. Ainda fez questão de interagir com as músicas em performances dignas de um bate-cabelo dos tempos do Ney old school.


Ainda sobre as beldades que animaram a plateia, mesmo com alguns problemas técnicos iniciais, a cantora e atriz Duda Brack foi ode em carne, osso e rosa ao artista. Com um top brilhante arrematado por uma rosa graúda e vermelhíssima e uma calça de maxi-paetês, a gaúcha levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima, mesmo com o retorno de som mutado. Faz parte.

Como artista que se preze não se rende às adversidades, a equipe logo tratou de liberar o retorno do monitor para a musa, que em seguida entoou “Jardins da Babilônia” da saudosa Rita Lee, antes de arrancar suspiros com a nostálgica “Yolanda” de Chico Buarque. Entre beijos e abraços, os artistas emendaram na clássica “O último dia“, antes da cantora Liniker subir ao palco e dar sequências à série de hits de Ney.

A celebração seguiu com “Eu quero é botar meu bloco na rua“, canção que foi feita sucedendo o projeto “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10” que, em um dos períodos mais severos da ditadura militar brasileira, sofreu inúmeros cortes meio à censura e às perseguições políticas.
Amarrando o que seriam as músicas de resistência que o artista sempre hasteou como poucos, como definiu Ana Cañas, sempre foi a poesia a bandeira máxima erguida por Ney, um dos artistas mais importantes do mundo. “Sangue latino“, obviamente, foi outro ápice de uma noite que reitera Ney Matogrosso como arquétipo maximalista que tanto define a nossa brasilidade.

Além de 4 shows diários, o espaço conta também com área de convivência, opções de alimentação, bares e a vista mais espetacular da cidade do Rio de Janeiro. Confira o que ainda vai rolar na programação e garanta seu ingresso!
Rio Montreux Jazz Festival
Parque Bondinho Pão de Açúcar, Morro da Urca
Dia 13 de outubro – sexta-feira
Palco Villa Lobos
22h30 – Hermeto Pascoal & Grupo (A Nave Mãe no Rio Montreux)
00h –Elba Ramalho, Chico César e SpokFrevo Orquestra
(Viva Nordeste)
Palco Village
21h50 – Anders Helmerson Trio (Suécia)
23h30 – Dani Spielmann Choro Trio
Dia 14 de outubro – Sábado
Palco Villa-Lobos
22h30 – Billy Cobham Band
00h – Emicida (AmarElo encontra A Love Supreme)
Palco Village
21h50 – Veronese
23h30 – Anatole Muster (Suíça)
Abertura espaço: 21h
Local: Parque Bondinho Pão de Açúcar, Morro da Urca
Endereço: Av. Pasteur, 520, Urca – Rio de Janeiro – RJ
Classificação etária: Livre.
Menores de 18 anos devem estar acompanhados dos pais ou responsáveis legais.
Venda online: pelo site oficial do evento ou pela Eventim.
*Por Andrey Costa
Foto destaque: Divulgação
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