Alguns encontros marcam tanto um determinado momento, que a partir dele já não é possível seguirmos sendo os mesmos. Um encontro de dois grandes mestres da moda, então, serviu para nos mostrar que mesmo com as adversidades que marcam o percurso de quem vive da criatividade no Brasil, a mistura de repertórios ainda é transformadora. Que encontro foi esse? Nada mais, nada menos do que Ronaldo Fraga, designer mineiro que toca sua marca homônima desde 1996, e Luiz de Freitas, estilista preto, gay e fundador da emblemática marca carioca Mr. Wonderful, esquentaram o final de tarde de uma Ipanema chuvosa, a última terça-feira (10/12) na Pulsa, multimarcas de luxo de Paula Furtado.
A conversa entre o mineiro e o carioca, armada pelo produtor cultural Alexandre Schnabl, que mediou o encontro com o curador de arte Sergio Zobaran, discorreu sobre a importância de se registrar a história da dita moda brasileira em livros. O get together dessas duas lendas da moda nacional foi promovido pela marca carioca Frankie Amaury, resgatada por Renata Veras, e a paulista Aluf, que já abriu temporada no SPFW, contando com a presença da diretora Nayara Roriz vindo diretamente de São Paulo.
Para Paula Furtado, “É preciso homenagear quem fez o Rio acontecer. Se a gente não começar a registrar com afinco o legado desses profissionais, muito da História da Moda Carioca vai se perder nos próximos anos. Temos pouco tempo. Daí a importância de celebrar Luiz de Freitas, sendo o destaque do ano com o lançamento do livro ‘Eu, Mr.Wonderful‘, motivo de romaria à Livraria da Travessa nesse semestre. Nada como juntar Luiz e Ronaldo, um dos autores mais prolíficos do segmento”. Para Ronaldo Fraga, “Luiz é mais que um carioca. É um dos nomes mais importantes da Moda Brasileira e Mundial, assim como Zuzu Angel, única quando falou de política na roupa, assim como Vivienne Westwood”, afirmou, vindo de um almoço organizado às pressas por Hildegard Angel em torno de sua rápida passagem.
“O estilo colorido de Luiz é atemporal, um tapa perfeito no sombrio contexto atual do planeta onde tudo está tão cinza. Luiz foi o primeiro estilista a sorrir, sua marca registrada é a risada. É eterno, somos parte de um mesmo ciclo da Moda Brasileira. Ele é o precursor da passagem do sistema de ateliês de costureiros para o prêt-à-porter, na virada dos setenta, e eu sou do final desse período, explodindo nos noventa”, completa, afirmando: “Tudo muda, tudo passa, é assim. Parei de desfilar porque hoje os fashion shows são chatérrimos, não têm cenário, não tem sonho, tudo massificou. Nem tem mais crítica de moda. Ficou difícil contar histórias. Tem gente que acredita que a moda é mais importante que a roupa. Penso o contrário”.
Já Luiz de Freitas foi categórico: “Parei quando a abertura das exportações trouxe a enxurrada de marcas gringas para competir, todas mais valorizadas por aqui que as nossas. Mas fiz História. Montei estrutura fabril de primeira, com 200 funcionários e até creche para as costureiras ficarem perto dos seus filhos, com dez berços para elas poderem amamentar os recém-nascidos. Tudo em Pau Grande, Magé, onde cresci e me tornei a figura mais conhecida de lá depois do Garrincha. E nunca liguei para preconceito: na minha loja, em Ipanema, recebia feliz os clientes do mundo inteiro que queriam se vestir de uma nova forma mais divertida, mesmo com madames mostrando surpresa por eu ser preto e haters alegando que eu fazia roupa para gay. Não dava bola”.
No final do encontro, Ronaldo convidou Luiz de Freitas para participar de uma das expedições culturais as quais vem se dedicado pelo interior do Brasil, em paragens como o Cariri, e que já arrebataram curiosos como Maitê Proença e a escritora Bianca Ramoneda.
Confira quem passou pelo evento! (Fotos: Leo Marinho/ Divulgação):
*Por Andrey Costa
Foto destaque: Leo Marinho/ Divulgação
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