Se, há poucos dias, durante a NYFW, os novos talentos foram ofuscados pelo tino comercial das marcas maiores, na Semana de Moda de Londres, que terminou esta semana, a história foi outra, Berço de nomes como Alexander McQueen, Mary Quant, Gareth Pugh, Vivianne Westwood e John Galliano, entre outros, a passarela londrina foi destaque pela capacidade de dar o espaço merecido a novos nomes — marcas menores e cada vez mais pautadas por uma moda livre das amarras que o negócio pede. Não é de hoje que a fashion week inglesa prioriza a criação, sabemos, mas justamente por não se render aos imediatismos das redes — sempre vulneráveis às modas bobas, a core da vez e, portanto, fugazes —, evidenciar o design norteou a temporada terminada nesta última terça-feira (20/2).
É essa imagem irreal atrelada à realidade que faz da LFW um pródigo celeiro de talentos efervescente, cujos trabalhos reverberam de uma forma muito mais orgânica e sincera no vai-e-vem das estações. Da mesma forma com que nomes como McQueen, Galliano e Stella McCartney mexeram com as estruturas da moda (e com a nossa visão do que é a roupa), foi nessa estação que essa poesia ou excesso assertivo (chamem como quiser), que guia nossa própria sobrevivência neste planeta, marcou a saída do vanguardismo desse lugar de inacessibilidade para a tomada das ruas, da vida. Duvida? Confira o Top 5 destaques da London Fashion Week!

Roksanda
O passeio artsy que a Roksanda de Roksanda Ilincic guiou para o autumn/winter 24 é, de fato, aquele delírio necessário em meio ao banal. Abrindo o desfile com uma série de marrons escuros, drapeados, volumes, franjas, texturas e pontos de cor em consonância com outras marcas para além das macrotendências, a etiqueta ajustou as referências necessárias para mesclar o passado ao presente e assim vislumbrar um futuro nada tedioso. Os casacos amplos, com os ombros arredondados fora do eixo, em sincronia com as sobreposições de saias e calças, funcionam bem com o toque elegante das modelagem, escolha de tecidos e paleta de cor nada convencionais.
As estampas triunfais nos vestidos finais fazem uma ponte discreta com o abstracionista Ivan Serpa e modernista Burle Marx (sob o nosso ponto de vista), mas bebem diretamente da fonte criativa do arquiteto e urbanista Le Corbusier, nascido na Suíça e naturalizado francês. E mais: além das referências concretas, Ilinic mira em sensações — brisa do mar, toque da terra, perfume do Mediterrâneo. Um mergulho no universo de inspirações que a tornam nome relevante na LFW.

Simone Rocha
Após sua comentada e elogiada coleção para Jean Paul Gaultier durante a Semana de Alta Costura de Paris (leia aqui), Simone Rocha está soltinha. Mantendo seu viés romântico intensificado, a estilista apresentou na sua marca homônima peças que conversam diretamente com a haute couture que ela apresentou para JPG. Os vestidos, antes amplos e ultra volumosos, agora ganham uma silhueta mais enxuta marcada por laçadas, flores e bordados sedutores. Aliás, desde a temporada de inverno, o bordado assumiu um lugar de honra nas coleções da irlandesa. Além disso, a cartela de gamas contempla o vermelho da vez, dourado, prateado e um azul profundo lindo de doer!

Dilara Findikoğlu
Quem é vivo sempre acontece! O retorno da estilista turca-britânica Dilara Findikoğlu à LFW é desses momentos que causam furor no mundinho fashion. Por quê? Bem, a moça, que já vestiu de Margot Robbie à Cardi B, havia encerrado sua participação na semana de moda inglesa por falta de patrocínio. Um tanto impensável considerando que ela já foi pupila de gente graúda como John Galliano na sua fase pós-cancelamento, além de ser criadora de imagens poderosas como o famoso vestido faqueiro, lembram? Pois é, seu retorno à passarela se deu bem no climinha dramático da última apresentação do seu ex-chef na Maison Margiela Artisanal, com direito a corpo de modelos ensaiado para entregar bem os vestidos, calças, tops, corsets, camisas e outras peças de alfaiataria desconstruídas. Não só agradou como iluminou um caminho de boas possibilidades para Dilara e a mulher clássica-moderna que ela quer continuar vestindo.

Emilia Wickstead
Famosa por evocar com maestria essa nostalgia romântica pelas coleções noventistas, a estilista Emilia Wickstead apresenta sua marca homônima na LFW há mais de 12 anos. Essa experiência faz com que o seu tom saudoso costume vir atravessado ao valor comercial que a plataforma deseja alcançar. Na soma do clássico ousado e do moderno maduro, ela recorta camisas, deixa os vestidos leves por meio de tecidos transparentes e ainda consegue usar com facilidade padronagens de jacquard em casacos e mini-vestidos. O resultado não poderia ser diferente de uma moda desejável, que sai do campo do real sem apostar por alucinações fashionistas impraticáveis, o que justifica sua clientela abraçar essas criações sem pestanejar.

Richard Quinn
Holambra venceu! Representante absoluto do maximalismo na Semana de Moda de Londres, Richard Quinn não tem medo da corda bamba. Aliás, para ele o importante é instigar ao máximo as noções de desejo que guardamos dentro de nós. Se a vontade é sair envergando um vestido com rosas mais graúdas do que as plantadas por Iracebeth em “Alice no País das Maravilhas“, ele tem esse produto. Se o caso for reinterpretar a tendência “coquette girl” para a mulherada mais segura, ele também vai saber o que oferecer. Agora, se o desejo é apostar num look black-tie moderno, ele tem o jumpsuit ideal idem. As famosas estampas florais invadem o seu outono-inverno novamente. Mas, dessa vez não se limitam a uma peça única, já que em alguns looks a proposta monocromática vem com força total. São calças, tops, capas e luvas que dividem espaço com a delicadeza poderosa da série de vestidos de noiva para que curte o visual opulento. Stravaganza define!

*Por Andrey Costa
Foto destaque: Divulgação
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