Racismo, homofobia, “Deus, pátria e família”. É sob essa atmosfera que a Itália vivencia momentos obscuros para o fator humano. “Ui!”, como diria a editora de moda Regina Guerreiro. Da linha radical traçada pela nefasta Giorgia Melani à sucessiva desistência e afastamento dos primeiros-ministros no país, o clima é pesado mesmo com o cenário de beleza implacável que emoldura a Itália. Como a moda é catalisadora das mudanças e melhor registo do tempo, as marcas que se apresentam na Semana de Moda de Milão equilibraram tendências otimistas com as necessidades do dia a dia, sem perder a qualidade, elegância e luxo atemporal que marcam a fashion week italiana, tudo para lembrarmos que nos dias adversos podem ser ressignificados. Enquanto o mundo não vira Mad Max, confira os destaques!

Versace
Quem esperava por uma Versace ultra sexy e escorada em cores sedutoras, ganhou, mas não levou. Como? Para a primavera-verão 25, a marca comandada por Donatella Versace veio ultra sexy e com cores sedutoras, ok? Mas com referências, modelagens e inspirações menos óbvias. Parece que o equilíbrio entre o arrumado-despojado ainda vai render, como aconteceu em NY (veja aqui!) e aqui não foi diferente. Entre casacos de alfaiataria confeccionados em malhas com as costuras expostas, cardigãs nada básicos com estampas geométricas em tons de lilás, amarelo, marrom (tudo setetinha!), a mulher Versace está menos embalada a vácuo, mais interessante em termos de composição de tecidos, cor e caimentos e, claro, mais confortável na verve sedutora de sempre.

Prada
A moda intelectualizada da Prada de Miuccia e Raf Simons está serelepe. Afinal, diversão em tempos de queimadas na floresta, guerras, mudança climática e outros problemas criados pelos homens, até que ajuda a não pirar de vez. Ou atrapalha? Bem, na coleção provocativa da marca para a próxima estação, o norte é questionar as nossas noções de realidade: do casaco com gola de pele estampada à minissaia com paisagem praiana estampada, passando pela silhueta e suas variações, assim como as saias metalizadas com buracos espalhados, que também se desdobram em suéteres e vestidos, as dicotomias estão espalhadas pela passarela da marca.

Anteprima
Novidade com tradição, assim podemos definir a coleção “Anima” feita pela Anteprima de Izumi Ogino. Em parceria com a artista japonesa Mika Tajima, Ogino se debruçou na relação homem-natureza, construindo uma imagem de moda que explora, formas, cores, texturas e percepções individuais de mundo. Tendo o chiffon como a matéria-prima destaque, a transparência, leveza e essa sensação libertária – alinhada ao trabalho de Tajima – desdobram-se lindamente em vestidos, camisas e casacos. As calças também perdem a estrutura, mas ganham volumes que compensam essa mulher que busca a calmaria, mas sabe que a força é indispensável para encarar o dia a dia.

Gucci
Comercial de doer, a Gucci feita pelo diretor criativo Sabato de Sarno segue dando o que falar. Tem quem deteste, tem quem entende e tem quem ame. Mas é inegável que ela segue sendo assunto, afinal são poucas as marcas que, após o desfalque da cadeira mais importante de uma label tem, mantenha-se na roda de conversa. Basta observarmos o que aconteceu com a Maison Margiela pós-John Galliano. Ficaram sabendo de algo? Não? Nem a gente. Por aqui o assunto são os maxi-casacos vermelho Ancora, os conjuntinhos de couro que voltaram com força total, mesmo no verão e os brilhos repensados para ganharem o dia. Tudo isso misturado com as regatinhas lisas com vieses coloridos e as calças jeans largas, que complementam essa mistura entre o luxo e o descontraído.

Fendi
Suavizada e quase irreconhecível, a Fendi, que abriu a fashion week milanesa, fecha nosso Top Destaques da Semana de Moda de Milão. O estilista Kim Jones, que vem reposicionando a marca que é sinônimo de luxo ostensivo, praticou o exercício do menos e mais e, assim como pede a estação, não pesou a mão na hora de criar para a mulher Fendi. Prestes a completar 100 anos, a casa italiana teve como inspiração nessa coleção a fundadora da marca, Adele Fendi. Sendo assim, era óbvio que a silhueta dos anos 1920 daria as caras com força, muitos brilhos e franjas para as flappers da vez, que misturam esse glam com o sportswear dos calçados e bolsas, “roaring twenties” com aquela pitada moderninha que Jones curte temperar suas criações, sabe como?

*Por Andrey Costa
Foto destaque: Divulgação
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