Acabou chorare! As semanas de moda de NY, Londres, Milão e Paris terminaram. A sensação? Ideias trabalhadas em estações anteriores requentadas. Sim, ainda é assunto. Mesmo que essas fashion weeks tenham a intenção de antecipar desejos decretando tendências, o momento atual continua pretendendo trazer ao diálogo assuntos como veganismo, aquecimento global, etarismo e outros tópicos geralmente arranhados por um segmento que se apresenta como registro de uma época e seus comportamentos. O método? Focar na manutenção da própria essência para conservar a relevância.

Passando pelas trocas nas direções criativas de Alexander McQueen e Ann Demeulemeester, a temporada parisiense demonstra postura pautada no fortalecimento do DNA das marcas, evitando que as redes sociais e o consumidor de Tik Tok pautem o estilo de etiquetas famosas por anteciparem o desejo antes da real concepção dessa vontade. Confira o Top 7 destaques da Paris Fashion Week (PFW) elencado pelo ÁS!

Louis Vuitton / Semana de Moda de Paris (Foto: Divulgação)

Miu Miu

Não falar da Miu Miu e sua influência nítida em todos os desfiles da temporada seria se deslocar da realidade. A marca comandada por Miuccia Prada mais uma vez realizou o feito de apresentar os hits instantâneos da primavera-verão 24. Não acredita? Basta conferir as sobreposições do momento (leia aqui!), também presentes na passarela da marca, os sapatos baixos e abertos que, assim como os tops curtos e o underwear da vez, que pretendem vestir o consumidor em plena ebulição climática que o planeta vivencia.

Dando sequência a essa exploração de uma silhueta triangular invertida, os casacos de couro, blazer e camisas sob polos e casacos demonstram a pertinência da forma. Assumindo a bolsa como ferramenta essencial, a etiqueta a inseriu em 70% dos looks desfilados, justamente para (pros)seguir com a ideia de transição e movimento que os clientes da marca adoram. Se na Prada a estilista bota os pés no chão e filtra o que ela entende como certo para esse cliente arrojado, mas um pouco mais tradicional que o da Miu Miu, aqui ela brinca com as possibilidades de redefinição do status quo do que entendemos como roupa para as estações mais quentes.

Miu Miu / Semana de Moda de Paris (Foto: Divulgação)

Loewe

A macarronada deliciosa de referências e estilos ainda funciona na Loewe de Jonathan Anderson. Explorando materiais elementares na casa espanhola, como couro, lã, sarja e seda, ele reafirma a sua íntima vontade de desconstruir essa silhueta disforme que transita entre modelagens ora justas, ora maximalistas, beirando o surrealismo. O combo de texturas também é destaque, visto que ele domina esse mix de superfícies lisas e carregadas de informação de uma vez só. A camisa polo com o tingimento que lembra um tie dye repensado é exemplo desse mojo que ele emprega em peças lidas como básicas e nada essenciais, a convertendo em outro hit instantâneo da estação.

Loewe / Semana de Moda de Paris (Foto: Divulgação)

Undercover

A Undercover de Jun Takahashi foi outra que seguiu a conversa da alfaiataria tradicional com influências do streetwear. Os ternos clássicos, blusas e moletons cobertos por organzas, em tons respectivos ou similares, resultaram em propostas vanguardistas e prestidigitáveis, que geram interesse justamente pela incompreensão e estranheza das peças. O approach maximalista e as sobreposições ultrachiques também dialogaram com a sequência de apresentações que destacaram sobre o minimalismo do quiet luxury de outrora. Famosa por suas apresentações dramáticas e suas abordagens cult, como poesias impressas em convites, a marca trouxe série final com vestidos que envergavam terrários na parte inferior, com borboletas reais em meia às flores; um apontamento sobre o luto e a dicotomia entre vida e morte. No final, as borboletas foram soltas. Será que, desprotegidas, essas flappers resistirão ao mundinho da moda?

Undercover / Semana de Moda de Paris (Foto: Divulgação)

Louis Vuitton

A Louis Vuitton foi outra marca que manteve sua essência e não se rendeu às investidas de uma moda impessoal e com cara de uma fast fashion famosa. Ponto para Nicolas Ghesquière, que deu segmento aos elementos que marcam a LV que ele construiu. Intrigante e cheio de mecanismos para replicar clássicos da marca sem datar, o diretor criativo explorou acessórios como o maxi-cinto transpassado, que carrega o famoso monograma da casa francesa em um fundo marrom, com símbolos como a flor-de-lis e o trevo, mas que surge agora em versões lisas e quadriculadas. Os vestidos longos, sobrepostos por saias amplas e arrematadas pelos tais cintos, ganharam mais presença através das padronagens xadrez, listradas e bicolores. Um jogo de direções que resultou numa entrega impecável e até divertida para a marca.

Louis Vuitton / Semana de Moda de Paris (Foto: Divulgação)

Ann Demeulemeester

A ode de Stefano Gallici ao traço inconfundível de Ann Demeulemeester foi aquele resgate necessário na temporada das coleções pasteurizadas. Se o antecessor diretor criativo, que durou apenas uma coleção na marca, Ludovic de Saint Sernin, não compreendeu a importância da manutenção desse estilo, Stefano mostrou que conexão tem a ver com tradição. Ah, engana-se quem pensa que para manter um estilo você precisa estagnar.

Nos designs alongados e monocromáticos do estilista, o equilíbrio entre o esconde-revela que faz parte do DNA da marca se fez presente, mas em nada se assemelham ao sexy banal de Ludovic. Nessa versão da marca para a primavera-verão 24, a elegância discreta e o hibridismo de gênero são palavras de ordem.

Ann Demeulemeester / Semana de Moda de Paris (Foto: Divulgação)

Litkovska

A alfaiataria virou caminho sem volta na moda. Até dado momento atrelado às ocasiões mais formais ou ao workwear, o estilo foi ressignificado na pandemia e esse pós-isolamento social revela uma gama de possibilidades. Vale apostar nas composições com saias fluidas, blusas de seda e tricôs oversized, como a Litkovska sugeriu durante sua passagem na PFW. Sua fundadora, a ucraniana Lilia Litkovska, dona de uma alfaiataria precisa, silhuetas estruturadas e uma sofisticação inesperada dentro da sua criação orgânica, que obviamente respinga no contexto atual do país de origem da estilista, que protagoniza uma guerra. São peças com recortes que entregam nas modelagens e no próprio styling esse imediatismo, fuga e força, munindo mulheres de poder na adversidade, ou seja, uma apresentação urbana e muito autêntica.

Litkovska / Semana de Moda de Paris (Foto: Divulgação)

Alexander McQueen

Ah, as despedidas! Há quem nunca se acostume, porém, no atual momento da moda, a dança das cadeiras, no que compete à direção criativa das grifes, é realidade constante. A última “vítima” desse movimento, que visa angariar mais clientes ou uma abordagem atual para as labels, é a estilista Sarah Burton. Após 26 anos dentro da Alexander McQueen, 13 desses anos no comando da brand, Sarah se despede com uma coleção que é pura síntese do trabalho que desenvolveu durante todos esses anos: roupa produzida com maestria, que não renuncia às artesanias e recursos filosóficos para uma entrega satisfatória.

Do vestido de casamento da princesa Kate Middleton em 2011 ao fortalecimento do braço masculino da marca pertencente ao grupo Kering, são inúmeras as conquistas que a colocam no patamar das grandes criadoras do nosso tempo, cujo talento e personalidade low profile foram essenciais para não a colocarem à sombra do saudoso Lee McQueen. Já estamos morrendo de ansiedade para saber quais serão os próximos passos de Burton.

Alexander McQueen / Semana de Moda de Paris (Foto: Divulgação)

*Por Andrey Costa

Foto destaque: Divulgação

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