Espaços vazios têm o mesmo significado da avalanche de informações? Na Semana de Moda de Paris esse questionamento encontra seu respostas pelo viés do luxo enviesado em coleções forjadas na usabilidade. Se antes as coleções tinham esse viés inacessível ou mirabolante, há algumas boas estações essas impressões têm mudado, resultado de uma busco por atender às demandas de um cliente que quer se diferenciar e, ainda assim, equilibrar sua preocupação com questões sociais e ambientais com seu estilo.

Sabendo que o Fall/Winter do hemisfério norte engloba elementos clássicos, vez ou outra propondo revisitas e desconstruções destes, para 2025/26 esse twist surgiu através da revisita e da implementação de estilos menos formais: do sportswear deluxe da Lacoste ao retrofuturismo emulado na Louis Vuitton, a oferta está interessante e realista dentro das possibilidades. Vale conferir e se inspirar para as próximas estações que se aproxima. Veja o Top 5 Ás na Manga dos destaques da PFW!

Louis Vuitton / Semana de Moda de Paris / Outono-Inverno 2025-26 (Foto: Divulgação)

Valentino

Para lá da utopia, a Valentino de Alessandro Michele paira sobre a vanguarda e a reação. A nova coleção do estilista italiano mantem vivo o DNA irônico e mágico que o alçou ao posto de estilista queridinho do público durante sua passagem pela Gucci. Dono de uma linguagem direta, mas que pretensiosamente parece fugir da realidade, ele acaba vestindo o desejo coletivo quando o assunto é moda: encarar o dia a dia, sem perder essência. Ou seja, transpõe suas referências mundo para qualquer lugar em que a vida aconteça.

Valentino / Semana de Moda de Paris / Outono-Inverno 2025-26 (Foto: Divulgação)

Dessa vez ele nos levou para o toalete. E nada de número dois, amor. Com Michele é de dez para cima! As peças, que intrinsecamente já são nostalgia pura, cruzaram um banheiro todo vermelho, com direito a cabines, pia, barulhinhos inesperados e a atenção aos detalhes é válida. Na construção das roupas, as sobreposições não são as literais de sempre — fruto do fácil exercício de styling que ele não abre mão —, mas surgem na composição de bolsos em tecidos, cores e texturas diferentes da base, além da minuciosa confecção de vestidos e saias com transparências diferentes. Eterno morde assopra da moda, ele continua transformando em arte a prática banal de vestir-se para a vida.

Lacoste

Metamorfose do sportswear, quem diria? Mais ainda, quem diria que essa transformação brotaria da Lacoste? Pois bem, se o segmento inteiro costuma esbarrar em vários estilos ao longo das décadas, foi no Fall/Winter 2026 da marca francesa que vimos desabrochar em um campo inóspito o mais perfumado arranjo entre a roupa esportiva e o luxo atemporal. O melhor da coleção? A perfeição já conquistada no ensaio, pois precisamos concordar que ao explorar a mais alta e a baixa cultura quando o assunto é roupa, é receita para o desastre ou, com muita sorte, uma leve estranheza.

Lacoste / Semana de Moda de Paris / Outono-Inverno 2025-26 (Foto: Divulgação)

No caso da estilista Pelagia Kolotouros, esse mix não é novidade. Ex-Adidas e North Face, a designer entende a fórmula que repagina o look quiet luxury com elementos esportivos e utilitários e vice-versa, e nessa temporada ela apresentou dudunes poderosas em seda, tricots bordados, blazers com o icônico crocodilo vertido em broche e segundas peles em cashmere. A série de macacões e casacas arrematados pelo print “Rene”, em homenagem ao fundador da label, também merece destaque, pois assume novas possibilidades para a turma que curte envergar elementos visuais de fácil identificação de marca.

Zimmerman

Existencialista inveterada, a diretora criativa e co-fundadora da Zimmermann, Nicky Zimmermann, é exemplo de quem não se rende às tendências para bombar em vendas. Sua mais recente coleção de outono-inverno é a prova de que a autenticidade que molda os pilares da marca segue rendendo hits. Inspirada pelo filme australiano “Piquenique na Montanha Misteriosa (Picnic at Hanging Rock)” (1975), dirigido por Peter Weir, a liberdade das formas e a leveza dos tecidos forjaram a atmosfera bucólica que a virada de estação pede e encantaram pela praticidade de boa parte das etéreas criações.

Zimmerman / Semana de Moda de Paris / Outono-Inverno 2025-26 (Foto: Divulgação)

Abrindo o fashion show numa sequência de looks acinturados por faixas de seda formando laços lânguidos, ela estrutura essa imagem com as cartucheiras de couro no maior estilo Boho Chic da vez, antes de seguir com as silhuetas soltinhas, com direito a blazer sem nada por baixo para elas. Falando de blazer, a alfaiataria também brilhou na atmosfera romântica da coleção, os coletes usados de top e as calças pregueadas com o volume necessário deixaram tudo mais especial.

Dando continuidade, as versões em jeans das propostas ultra elegantes funcionaram perfeitamente com as rendas e tricôs dramáticos, os bordados florais delicadíssimos e os animal prints impactantes, que ganharam um mood opulento ao final da passarela, reiterando que essa temporada promete cultivar o lado espirituoso e corajoso da moda.

Louis Vuitton

Formas expressivas sempre marcaram os designs de Nicolas Ghesquière para a Louis Vuitton. Para o outono-inverno 2025, o tom abstrato ganha contornos cubistas e dimensões espaciais pelas mãos do estilista, mas tudo temperado pela usabilidade de tecidos tecnológicos dos casacos statement que Ghesquière ama brincar de inventar. A cartela de cor também foi um importante elemento nessa jornada de possibilidades, tendo o vermelho como unanimidade entre os looks.

Louis Vuitton / Semana de Moda de Paris / Outono-Inverno 2025-26 (Foto: Divulgação)

Xadrezes, estampas botânicas, listras e figuras geométricas são apenas algumas das inúmeras investidas da LV para repaginar clássicos de inverno, além dos volumes exagerados, rufos arrematados por fitas de veludo e aquela farofa de texturas que o francês domina. Novamente, vemos que o estilo é fluido, cada vez menos cartesiano e mais libertário, permitindo que um vestido floral de seda possa ser usado com um casaco de couro com plumas nas mangas e, ainda assim, ficar lindo arrematado com tênis.

Undercover

Que o espírito da Undercover se divide entre a crítica e submissão, já sabemos. Porém, Jun Takahashi está cada mais imerso na dicotomia que é fazer moda num mundo em eminente colapso. No auge dos seus 35 anos, a marca famosa entre a turma mezzo cool, mezzo easy na maneira de vestir, acaba de apresentar roupas que transbordam o desejo por peças que se aproximam de obras de arte ao mesmo tempo em que parecem uma sobreposição caótica de estilos e referências.

Undercover / Semana de Moda de Paris / Outono-Inverno 2025-26 (Foto: Divulgação)

Para a apresentação, um tablado, na passarela, um squad plural de modelos; todos transitando graciosamente, sem jogo de cena exagerado ou sons trepidantes. As peças revelados são familiares: cardigãs, calças jeans, camisas brancas, saias amplas, jaquetas, e tudo que um catálogo de marca precisa, como chapéus, bolsas, saltos, cintos e lenços.

Porém, a reviravolta é o que seduz: dos bordados florais impressionantes em calças básicas, drapeados dramáticos nos cardigãs e casacos, saltos encrustados de pedrarias usados com calças moletom, além do styling nebuloso da marca, que sempre brinca com elementos lúdicos, mostrando que a contradição da vida sempre será refletida no palco da moda.

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