* Com Dani Lachter e Guilherme Junqueira Foti 

Pode ser uma lufada para combater certo esgotamento momentâneo nesta fase que o Brasil vive. Pode ser um caminho. Trazer as artes plásticas para a coleção, para a passarela, talvez se configure num ato de resistência da moda, quando a pulverização pelas mídias sociais e a difusão via globalização tornam tudo tão parecido. Assim, não é de hoje que o diálogo entre estilo e arte tem tomado conta das temporadas de lançamento. Houve até estações inteiras nas quais a principal influência era artsy. E a gente vai levando,vai gostando. Nessa edição da SPFW, várias labels embarcaram nessa onda de pinceis, telas, riscos, aguadas. Confira!

Lenny Niemeyer (esq.) embarcou no abstracionismo geométrico de Emma Kunz e Hilda af Klint; a Iódice (centro) não evocou nenhum artista específico, mas apostou no clima artsy: sua coleção esfuziante se chama Tropical Art; e a Osklen (dir.) brazucou: bebeu na fonte do Modernismo de 1922, printando os abaporus de Tarsila do Amaral (Fotos: FOTOSITE /Divulgação)

Quando a Iódice acerta é uma beleza! ÁS tem enorme simpatia pela grife de Valdemar, que segue na contramão das invencionices de passarela, sempre fiel àquela cliente que gasta as pencas para se montar dos pés à cabeça na sensualidade, investindo nos vestidos sexies da label.             

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Por isso, como uma flapper que quer bater as asinhas, a marca às vezes perde a mão no voo, na hora de conciliar conceito com vendas e nem sempre acerta, despencando dos céus como um bem-intencionado Ícaro das agulhas. Daí que é delicinha ver a Iódice nefelibatar numa coleção que, apesar de feita para causar, é comercial, equilibrando-se com pompa artística na mescla de estampas, no jogo de paetês e sedas, no panejamento sensual. Com um resultado digno de curador do MOMA.

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Iódice desfila no SPFW N44 (Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Iodice desfila no SPFW N44 (Foto: Marcelo Soubhia / FOTOSITE / Divulgação)

Tão fiel ao essencial quanto a Iódice à exuberância, a UMA de Raquel Davidowicz mergulhou em Edward Parker “Cy” Twombly (1928-), baluarte da pintura, escultura e fotografia que pertence à mesma geração de gênios como Jasper Johns e Robert Rauschenberg. Esse tipo de garimpo cool é a cara da brand e da sua cliente: cerebral, que gosta de causar mais com design que com cruzada de pernas e no máximo considera uma parceria entre Anitta e Pabblo Vittar boa de se conferir à exata distância da Via Láctea a Alfa Centauri.

Desfile do verão 2018 da UMA no SPFW N44 (Foto: Ze Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Tela de Cy Twombly (Foto: Reprodução)

As referências ao artista não se resumem as rabiscos usados como estamparia localizada. A marca considera Cy “uma mente clássica alimentada por um intelecto globalizado”. Óbvio que essa convergência é combustível para Raquel apresentar seus lisos em preto & branco, tirando proveito ao máximo do aspecto cosmopolita de sua arte abstrata. E ainda inserir uma série de looks em laranja, que ela chamou de damasco, aludindo aos belos borrões laranjinhas e coral que vez por outra o pintor sobrepunha à tela. Moda é assim: às vezes é um mero detalhe que inspira.

Desfile do verão 2018 da UMA no SPFW N44 (Foto: Ze Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

Desfile do verão 2018 da UMA no SPFW N44 (Foto: Ze Takahashi / FOTOSITE / Divulgação)

“Lemmons”: fotografia de Cy Twombly (Foto: Reprodução)

Tela de Cy Twombly (Foto: Reprodução)

Igualmente “do mundo”, a carioquíssima Osklen sabe olhar para um Rio único, cosmopolita, de metrópole que é praiana, mas foi capital da Colônia, Império, República. Assim, é a cara de Oskar Mestavaht e sua fiel escudeira Juliana Suassuna imergir na herança modernista de Tarsila do Amaral se cair na pieguice brasiloide ou e brasilidades étnicas. Livre da herança do Brasil olímpico que consumiu a label direta ou indiretamente nas últimas temporadas, a Osklen retoma a boa verve de quem já até criou flertando com Inhotim.  Uma das melhores coleções dessa edição.

Osklen desfila na SPFW N44 (Foto: Gregoire Avenel / Marcio Madeira / Divulgação)

Osklen desfila na SPFW N44 (Foto: Gregoire Avenel / Marcio Madeira / Divulgação)

“Abaporu”, obra de Tarsila do Amaral que é emblema do Modernismo brasileiro (Foto: Reprodução)

Osklen desfila na SPFW N44 (Foto: Gregoire Avenel / Marcio Madeira / Divulgação)

Osklen desfila na SPFW N44 (Foto: Gregoire Avenel / Marcio Madeira / Divulgação)

Desfile da Osklen na SPFW N44 (Foto: Marcelo Soubhia / FOTOSITE / Divulgação)

“Manteau Rouge”: autorretrato de Tarsila do Amaral inspirou uma série de looks da Osklen na 44ª edição da SPFW (Foto: Reprodução)

Osklen desfila na SPFW N44 (Foto: Gregoire Avenel / Marcio Madeira / Divulgação)

Lenny Niemeyer caiu de cabeça na obra das artistas plásticas Hilma af Klint (1862-1944) e Emma Kunz (1892-1963). O resultado rendeu não apenas belos prints criados a partir dessa pioneiras do abstracionismo geométrico, mas aplicações com dobraduras, origamis e efeitos artesanais com linhas. A carioca de lifestyle fez o diabo como um pintor que vende a alma a Mefisto para conseguir vender suas telas. Nem precisava, porque a moça já é sucesso há duas décadas. Mas que é delicinha ver sua interpretação do trabalho dessas pintoras se tornar bem mais que estampa, em grafismos 3D, recortes, dobras e relevos, ah… É isso que faz valer uma Semana de Moda, monamur.

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Tela de Emma Kunz (Foto: Reprodução)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Tela de Emma Kunz (Foto: Reprodução)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Tela de Hilda af Klint (Foto: Reprodução)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Tela de Hilda af Klint (Foto: Reprodução)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Lenny Niemeyer desfila na SPFW N44 (Foto: Márcia Fasoli / FOTOSITE / Divulgação)

Paula Raia foi outra que caiu de amores pelo expressionismo abstrato, mais especificamente pelo minimalismo da canadense Agnes Martin (1912-2004). A estilista juntou o útil ao agradável: pôs no mesmo balaio um Pantone da moda, Rosa Millennial, e o toque cabeça traz a inspiração no trabalho da artista feminista, esquizofrênica e tida como homossexual pelos amigos.

Vai dizer que isso não conferiu aura artsy à coleção de Paula, mais simplificada nas formas e texturas que de costume? Agora é ver se funciona na venda e, como diria Julio César, Alea jacta est (A sorte está lançada)…

O Verão 2018 de Paula Raia desfilou na SPFW N44 (Foto: Divulgação)

Tela de Agnes Martin (Foto: Reprodução)

O Verão 2018 de Paula Raia desfilou na SPFW N44 (Foto: FOTOSITE / Divulgação)

O Verão 2018 de Paula Raia desfilou na SPFW N44 (Foto: FOTOSITE / Divulgação)

O Verão 2018 de Paula Raia desfilou na SPFW N44 (Foto: FOTOSITE / Divulgação)

Tela de Agnes Martin (Foto: Reprodução)

O Verão 2018 de Paula Raia desfilou na SPFW N44 (Foto: FOTOSITE / Divulgação)

O Verão 2018 de Paula Raia desfilou na SPFW N44 (Foto: FOTOSITE / Divulgação)

O Verão 2018 de Paula Raia desfilou na SPFW N44 (Foto: FOTOSITE / Divulgação)

O Verão 2018 de Paula Raia desfilou na SPFW N44 (Foto: FOTOSITE / Divulgação)

O Verão 2018 de Paula Raia desfilou na SPFW N44 (Foto: FOTOSITE / Divulgação)

Sem evocar nenhum artista específico, mas um movimento inteiro, a Apartamento 03 recriou o Modernismo na passarela. E que modernismo. Aspectos vitais da corrente artística como funcionalidade, geometria e ausência de decorativismo caem como uma luva na elegância minimal do Luiz Claudio, que também se rendeu às poesias de Elizabeth Bishop. Coisa cabeça.

Lima, lavanda e celadon iluminam pretinhos básicos numa fornada de peças de alfaiataria e as calças clochard são destaque. As mais bonitas da temporada. O trabalho do estilista parece agora menos rebuscado, mas só à primeira vista. Mesmo com modelagens menos endiabradas, um olhar atento percebe de cara que o cuidado com a elaboração permanece igual, ainda que em shapes mais simplificados.

Apartamento 03 desfila na SPFW N44 (Foto: Rafael Chacon / FOTOSITE / Divulgação)

Apartamento 03 desfila na SPFW N44 (Foto: Rafael Chacon / FOTOSITE / Divulgação)

Apartamento 03 desfila na SPFW N44 (Foto: Rafael Chacon / FOTOSITE / Divulgação)

Apartamento 03 desfila na SPFW N44 (Foto: Rafael Chacon / FOTOSITE / Divulgação)

Apartamento 03 desfila na SPFW N44 (Foto: Rafael Chacon / FOTOSITE / Divulgação)

Apartamento 03 desfila na SPFW N44 (Foto: Rafael Chacon / FOTOSITE / Divulgação)

Apartamento 03 desfila na SPFW N44 (Foto: Rafael Chacon / FOTOSITE / Divulgação)

Apartamento 03 desfila na SPFW N44 (Foto: Rafael Chacon / FOTOSITE / Divulgação)

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