*Por Ana Beatriz Lyra

Num país onde as salas de cinema são majoritariamente ocupadas por blockbusters hollywoodianos, chega a ser surpreendente conferir a estreia de uma animação recheada de cultura nacional: o brasileiro “Tarsilinha” (PinGuim Content, 2021), que entra em cartaz nesta próxima quinta-feira (17/3), percorre com charme o universo da pintora Tarsila do Amaral., destaque na Semana de Arte Moderna de 1922, cujo centenário anda sendo comemorado.

Não se trata de uma produção só para crianças: a diretora Celia Catunda, que dirige a animação ao lado de Kiko Mistrorigo, entrega “um segundo nível de leitura” para o filme, tangenciando temas significativos como apropriação e abordando o tema da memória cultural. “Você pode se deixar levar pela questão da assimilação de culturas diferentes na criação de novas coisas ou, ainda, pela memória”, explica. Já Kiko enfatiza a importância de “Tarsilinha” mergulhar na obra de um dos nomes brasileiros mais relevantes das artes plásticas, ainda mais nesses tempos de banalização desenfreada: “A coincidência de datas é uma grande oportunidade para mostrarmos a artista para as novas gerações e como ela estava à frente do seu tempo”, opina.

Confira abaixo o trailer oficial (Divulgação):

Não se trata de uma biografia; na verdade, a produção nem sequer menciona a artista. O foco está na obra de Tarsila do Amaral, e não na sua pessoa. O roteiro é calcado nas suas pinturas, trazendo-as à vida através de seus personagens, que participam da narrativa tanto quanto como o próprio cenário do filme, extraído de suas obras, reproduzindo seu inconfundível traço.

“Tarsilinha” não exalta apenas o legado da artista modernista (e vanguarda do feminismo), mas também a cultura brasileira, em geral, e até mesmo a latina. Sua trilha sonora, por exemplo, se ancora na cultura musical dos países do Cone Sur, com destaque, é claro, para a música brasileira. Tem até macaco tocando pandeiro enquanto Tarsilinha se rende ao ziriguidum. Fofa!

Um alerta: é possível ter criança chorando na sala de projeção. Em algumas sequências, sons e personagens parecem vindos de um filme de terror. Essa escolha se revela curiosa nessa realização, e talvez seu filho nem vá até dormir direito após assistir “Tarsilinha”. Pode ser até que ele fique traumatizado com a Cuca [da canção de ninar], mas a longa-metragem vale o ingresso.

Foto destaque: pôster do filme. Divulgação.

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