*Por Andrey Costa

Chega ao fim mais uma temporada de desfiles internacionais, numa época em que os desfiles estão assim, so so boring. Acabou a Paris Fashion Week e todo mundo já percebeu que nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, já dizia Lulu Santos. Não é de nos admirar que todos os olhares estejam mesmo pautados na manutenção do planeta. Fashion é trombar com uma Greta Thunberg, a ativista sueca de 16 anos que, em protesto, matava aulas para denunciar descasos em massa contra nossos ecossistemas. Em plena virada da década, os sinais de que a mudança de comportamentos é realidade absoluta já são o suficiente para que todos os setores se adequem às novas gerações, que não estão nem aí para quantas horas uma artesã voraz bordou um top de continhas de cristais, mas preocupados em saber se a mesma bordadeira trabalhou alimentada e em boas condições, se a origem dos materiais é ecológica. Ou se a peça vai de fato durar mais do que seis meses para não ser esquecida no fundo guarda-roupão descartável quanto o armário de mdf da Toque a Campainha, não é mesmo, queridinha(o)? Hora de conferir os destaques da season no Top 5 do ÁS!

Louis Vuitton / Semana de Moda de Paris – primavera-verão 2020 (Foto: Reprodução)

Louis Vuitton

A Louis Vuitton, que fechou a temporada europeia de desfiles, abre o Top 5 da Semana de Moda de Paris do ÁS toda trabalhada em história. Apresentada por Nicolas Ghesquière, a coleção é lufada considerável de referências à Belle Époque e, assim como o movimento que durou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, apresenta consideráveis transformações culturais, mas na moda de vestir. Para a temporada de primavera-verão 2020, assim como a última coleção Cruise Collection da LV, o estilista abriu novamente a sua máquina do tempo. Soltou na passarela suas fadas do tipo gravura do ilustrador francês Edmund Dulac (que andou aparecendo na nova coleção da Cris Barros), temperadas também pelos anos 1970: mix de modelagens, cores e formas, que renderam à marca uma alquimia sedutora de peças artsy-boho-chic, embora esse mote já tenha rendido o suficiente (zzz). São jaquetinhas de couro com florais pintados à mão, padronagens e estampas psicodélicas, vestidinhos geométricos, saias-tulipa, ombros armados que, mesmo sob uma atmosfera clown, pendem mais para o decorativismo Art Nouveau.

Louis Vuitton / Semana de Moda de Paris – primavera-verão 2020 (Foto: Reprodução)

Maison Margiela

Na esteira de coleções que revisitaram o passado, a Maison Margiela de John Galliano foi tapão na cara da sociedade: estamos em guerra e não percebemos? Bem, a face dada à nova coleção da lendária marca francesa segue sendo. Qual? Ora, a do pensamento crítico ligado ao que acontece ao nosso redor, assim como a coleção passada (veja aqui), mas agora de uma forma bem mais literal. Seu comunicado oficial à impressa foi claro: “Histórias de esperança, heroínas e libertação são esquecidas à medida que a história se aproxima cada vez mais da repetição.”. Aviadores, enfermeiras, religiosos, agentes secretos, personagens de uma evidente influência no que foram esses profissionais no pré, durante e pós Primeira Guerra Mundial, formando um exército atualizado a cruzar um salão do Grand Palais. Storytelling, sabe? 

Blazers de brim, couro em jaquetões, vestidos elegantes, sempre com detalhes cortados à laser, vazados, rasgados, como que saídos de um combate. Fechou o desfile o modelo Leon Dame, que causou aplausos e furor num galope emburrado, remetendo aos catwalks mais ferozes e dramáticos dos tempos de Galliano para Christian Dior. ÁS queria um beijo tipo Robert Doisneau, mas não rolou…  

Maison Margiela / Semana de Moda de Paris – primavera-verão 2020 (Foto: Reprodução)

Nina Ricci

Divertida e colorida. A dupla Rushemy Botter e Lisi Herrebrugh criaram para Nina Ricci uma coleção que evoca lembranças alegres: chapéus que viram bolsas, remetendo àqueles baldinhos que as crianças costumavam levar à praia para construir castelinhos de areia, sabe? Tão efêmeros quanto a moda, né? Poesia? Quiçá. Tudo isso enquanto os designers brincam com cores, sem deixar que o lado lúdico e alegrinho da proposta interferisse na feminilidade das peças. Um tom pastel aqui, uma candy colorzinha ali, um neonzinho acolá pincelam as roupas da alfaiataria primorosa da marca fundada em 1932, que foi realçada por ombros elevados e mangas que explodem em volume e texturas.

Nina Ricci / Semana de Moda de Paris – primavera-verão 2020 (Foto: Reprodução)

Celine

Como não amar a nova Celine depois de Hedi Slimane atender a pedidos (ou a um puxão de orelha de virar o Dumbo, do Bernard Arnault lá na LVMH) e se dar à oportunidade de exercitar aquela mulher Celine. Aquela, sabe qual é? Aquela com acento no “e”! Será que agora então ela está satisfeita com a nova roupagem que ele pretende seguir criando? Bom, agora mesmo, o estilista recomenda um bom jeans, uma boa camisa e uma boa jaqueta. Causa no brilho, vai do combo infalível de chemises e cintos que deixam a cintura mais fina que a de uma vespa, à moda setentista, sem deixar a atmosfera hiponga. É vintage e é chique. É a nova Celine, amor. É bom ir se acostumando…

Celine / Semana de Moda de Paris – primavera-verão 2020 (Foto: Reprodução)

Stella McCartney

Hora da estrela: mais sustentável do que nunca, Stella McCartney é destaque da temporada com coleção 75% ecológica. Logo elazinha, que nunca foi uma militante de telão. De fato, sempre buscou criar coleções coerentes com o seu conceito de marca e ideologias de vida, então botou na sua passarela peças artesanais bem cortadas, bufando as modelagens sem pesá-las ou deixar escapar a elegância que a moça ama apresentar. Fez uso de tecidos como eco-nappa, viscose sustentável, poliéster reciclado, algodão orgânico, tecido regenerado Econyl (oi, Levh!) e ráfia sustentável. Provando por A + B, que moda sustentável não precisa parecer menos glamorosa, ne feita de papel picado, de dejetos, mas, sim, mais inteligente.

Stella McCartney / Semana de Moda de Paris – primavera-verão 2020 (Foto: Reprodução)

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