“Para tornar-se presença, precisa aceitar o risco da ausência”. Foi durante a estreia da peça “Recém-nascido“, de Diego Braga, que essa passagem do livro “O Pequeno Príncipe“, de Antoine Saint-Exupéry, permeou alguns dos sentimentos vivenciados. Um presente a todos escrito e interpretado por ele mesmo, segundo o próprio Diego, que apresenta ao público um homem disposto a romper o silêncio imposto pelo patriarcado em uma esperançosa fala sobre masculinidade e paternidade. De fato, um presente que aponta não apenas para a importância dessa discussão, mas, principalmente, sinaliza em direção às inúmeras mães-solo que, no ofício da maternidade, executam tarefas que passam despercebidas, quase banalizadas, quando comparadas às mesmas realizadas por um homem.

Num espaço intimista – a Sala 2 do Estação NET Botafogo, lugar onde se concentra uma mini sala de cinema -, Diego lança luz numa conversa que toca a todos com temas capazes de se desdobrar em conversas mais profundas. Assim como o Pequeno Príncipe – uma alegoria distante, mas que dialoga com a peça em questão -, o ator expande o ambiente enxuto através de luminárias reveladoras e uma cadeira de pé alto que vislumbra mais do que permitido pelos olhos, além de um carrossel e um móbile musicais que inebriam adultos e crianças num resgate de memórias.

Tal como a lua do clássico infantil de Exupéry, que possui três vulcões (dois ativos e um extinto), o rapaz revisita no minúsculo no palco montado traumas, alegrias e histórias que atravessam seu pai o qual, assim como a alegórica vermelha rosa do autor francês, se revela orgulhoso e cheio de caprichos, pronto para ter seus desejos atendidos pelos que o amam.
“Minha vida foi radicalmente modificada depois que as crianças chegaram. Quando você vive uma experiência desse calibre, você quer falar, quer entender o que se passa dentro de você, quer saber se acontece exatamente assim com os outros. É essencial saber quem você está se tornando. Eu faço o “Recém-Nascido” quase como uma missão”, se entrega Diego, que completa: “Para mim, sempre foi muito mais do que teatro. É uma chama viva de transformação.”

Diego apresentou o texto para atriz e comunicadora Mariana Xavier, que prontamente se propôs a ser a produtora da peça: “É impossível vislumbrar um mundo mais justo e pacífico sem romper as amarras do machismo, que violenta toda a nossa sociedade, inclusive (talvez em primeira instância e muitas vezes sem se darem conta) os próprios homens. ‘Recém-Nascido’ convida o público a uma reflexão urgente sobre o exercício da masculinidade e da paternidade. É um espetáculo de grande potencial transformador, nos âmbitos individual e coletivo. Uma iniciativa que a Trampo Produções não podia deixar de incentivar”, aposta a moça.

Na medida em que embarca na jornada do ator-personagem, o público é convidado a observar seu próprio percurso até os dias atuais, daí o caráter ao mesmo tempo pessoal e universal deste projeto artístico. Em foco, pais ausentes e negligentes, homens que, no direito da escolha, negam direitos essenciais para o crescimento de seus filhos. A catarse é certeira. Quem não possui alguém assim em em casa ou na sua roda social? Aquele homem que nega o papel do pai pavimentando traumas e inseguranças a longo prazo na vida do filho, cujo direito de escolha também lhe cabe: repetir o vício ou romper o ciclo? No geral. é bom material textual que engrossa o caldo da questão, mesmo a tornando digerível. Diego sabe contagiar, mesmo quando o tom sensível excede o palatável.

* Por Andrey Costa
Serviço:
“RECÉM-NASCIDO”
Temporada: 14 de outubro a 12 de novembro
Apresentações: Sextas e sábados
Horário: 20h
Local: Sala 2 do Estação NET Botafogo
Endereço: Rua Voluntários da Pátria, 88 – Botafogo
Informações: (21) 2146-7892
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
Vendas antecipadas: www.sympla.com.br
Lotação: 33 lugares
Duração: 50 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
Instagram: @recemnascidoespetaculo e @diegobragaator
Ficha técnica:
Idealização, Atuação e Texto – Diego Braga
Direção – Lorena Lima e Daniel Leuback
Audiovisual – Cavi Borges
Trilha Sonora Original – Guilherme Miranda
Iluminação – Adriana Ortiz
Cenografia – Gabriel Naegele
Figurino – Leo Thurler
Designer Gráfico – Yas Campbell
Fotos de cena, Making-off e Teaser – Lorena Lima
Assessoria de Imprensa – Marrom Glacê Assessoria – Gisele Machado e Bruno Morais
Assistente de Produção – Emerson Gol
Produção Executiva – Essegaroto Aouila – Marcelo Aouila
Direção de Produção – Mariana Xavier
Coprodução – Fértil Produções
Realização – Trampo Produções
Músicas:
“Pais e Filhos” – Renato Russo, Marcelo Bonfá e Dado Villa Lobos – interpretado por ALVA.
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