Terminou nesta sexta (8/4) a 12a edição do Veste Rio, que dá o empurrão para a leva de lançamentos de moda que começa na próxima semana, com o Minas Trend (19 a 22/4), em Belo Horizonte, e termina com o Festival DFB (25 a 28/4), Fortaleza, passando pelo SPFW, que deve acontecer no meio desse período em data ainda não divulgada.

Em sua segunda rodada na área de eventos do Village Mall, para onde se mudou na edição de novembro, o salão de negócios se mostrou um pouco menos tímido, ainda que os efeitos da pandemia continuem sendo sentidos no reduzido número de expositores, no pouco público circulante e na diminuição dos investimentos. Foi-se o burburinho, o verniz se resume ao visual merchandising das áreas de convivência – espartano, mas com charme (assim como em todos os eventos presenciais de moda desde outubro) – e à multiplicação de backdrops para render selfies.

O mais importante: o evento resiste e muitos expositores se revelaram (apenas) razoavelmente satisfeitos, apesar do porém, acreditando na necessidade retomada. É o caso de Isio Feldman, da Afghan: “Estamos voltando ao atacado, depois de um período de enxugamento. O esforço para a volta à normalidade é importante. Comparado com a edição anterior, ainda traumatizada pelo medo da pandemia, já é visível o avanço. Mas precisamos trazer mais compradores, reforçar esta questão.”

Insular, mas espetacular: a coleção de primavera-verão 22/23 da Afghan celebra o Rio à beira-mar, do ponto de vista das ilhas da orla. mas show-bizz mesmo é a sobrevivência da marca após 34 anos, numa cidade que perdeu grandes marcas para a recessão, desde 2008. “Resiliência e amar o que faz, Esse é o segredo”, afirma Isio Feldman. (Vídeo: Divulgação)

Continuam suspensos os desfiles comerciais e o bazar que dava movimento de público, no qual as grifes participantes podiam queimar seus estoques, a preço de banana, da estação que estava terminando. Esse canto do cisne da temporada em curso era ótimo porque, além da óbvia função de saldão, gerava o bochicho do grande público (órfão do antigo Top Fashion Bazar) que, alheio ao salão de atacado para lojistas, rumava ao VR alegre e faceiro, pronto para garimpar aquele achado de milhões por aquela merreca. Muitos dos maiôs da Lenny Niemeyer envergados hoje por meros mortais, vistos nas praias da vida fora do seu habitat bon chic bon genre, podem ter vindo direto dessa democrática ação.

Tudo isso – mais as happy hours com shows que rolavam nos bons tempos de Marina da Glória ou Píer Mauá (alô, Paula Toller, saudade!) – encorpava o Veste Rio, tirando a moda do gueto “somente para iniciados” para inseri-la no cotidiano plural da cidade, cumprindo a sua natural vocação para espaços abertos. E ainda diluía qualquer carão blasê demodê, imprimindo identidade singular ao agito, então carioquíssimo, único no Brasil quando se considera que ia do preview da estação vindoura, no atacado, à queima de estoque da coleção em curso, no varejo, promovendo a moda circular. Uma pena que esse formato não tenha voltado e que, com a saída de patrocinadores como o Santander, o bunker do Village Mall se imponha. Bonjour tristesse!

Esse aprisionamento do Veste Rio, por contingências, no caixote do galpão de eventos do Village acabou reverberando em efeito cascata: potencializou a tendencinha de a cobra morder seu próprio rabo, se fechando em si e esquecendo do fluxo da vida, que hoje é feita de colaboração. Umbigos em riste. Se até o Oscar luta para sobreviver, abrindo o leque geral para votantes da Academia e tateando de tudo o quanto é forma, na celebração, para atingir novos públicos enquanto os índices de audiência despencam (apesar de tudo, o rompante de um impulsivo Will Smith foi fundamental para a premiação dar o que falar), por que o Veste Rio precisa cada vez mais se fechar em si mesmo? Old fashioned.

Exemplo: alardeados como novidade da vez, os shootings de editoriais de moda realizados ao vivo e à cores, enquanto o salão progredia, deixaram de cumprir seu papel de espetáculo (cereja do bolo para substituir o glacê dos desfiles; hello Guy Debord) para se confinarem em um puxadinho visível ao público, pero no mucho. Podia ser praça pública, central, com destaque, mas a ágora virou apêndice para pouquíssimos, enfiada num canto, assim como os talk shows, como se a menção nas redes sociais das publicações das Organizações O Globo fosse suficiente para fazer a roda girar. O motivo? Falta de aprofundamento na concepção da ação? Arrogância? Ou o conhecimento de que, se o público estava escasso, o aproveitamento maior acabaria sendo mesmo colorir as redes sociais dos realizadores Ela O Globo e a Vogue? Bom, hermetismo nunca foi estratégia para promover expansão…

Confira abaixo alguns destaques do Veste Rio:

Para Alessa Migani, da Alessa, “A vida é feita de escolhas”. Para ela, “O fluxo andou baixo pelos corredores da feira, mas tudo é questão de encarar os desafios e seguir adiante. Adaptações de cenário fazem parte da vida. O Veste Rio é importante”, filosofa.

A paulistana Sophia Hegg já toca sua marca homônima há oito anos, após 14 de desenvolvimento de coleção na Daslu. Foi a primeira vez que participa do Veste Rio: “Já vendo para França, Portugal, Estados Unidos, Dubai Londres, onde morei. As vendas aqui no evento estão mornas, mas estamos fazendo contatos preciosos que vão render fruto.”

Assim como a Serotonina, que ofereceu belos vestidos em malha 100% algodão (cores lindas!), a Oh, my godê brinca com a surpresa. Daí a bem-humorada corruptela de “Oh, my god” no nome, tudo a ver. Enquanto a gente confere as peças super plurais, a vendedora Angel Fernanda, que começou como modelo de prova na marca, entrega o jogo: “Nosso segredo é a amplitude da modelagem. O GG, por exemplo, veste do 44 ao 52”, dispara, animada com as vendas que começavam a sair. “Olha, o macacão, um dos nossos carros chefes, consegue vestir em cada número uma diversidade enorme de corpos”, completa.

Highlight desta edição e prestes a completar 50 anos de estrada, a Blue Man teve a maior visibilidade da feira com a presença da topíssima Izabel Goulart na campanha, com imagens gigantes que decoravam o estande. Segunda geração à frente, Sharon Azulay comenta sobre o momento atual: “Quando fizemos 40, falamos das décadas. Aos 45, da fábrica. Agora, caímos na nossa história. Daí, por exemplo, a brincadeira que fizemos com os diferentes redesigns do nosso logotipo ao longo do tempo e sua atualização para o selo comemorativo. É momento de recriação, depois da renovação causada pela pandemia. Então, olhamos para o nosso percurso. Focamos no Pará, terra do meu pai e fundador da label, no mix de avô com origem no Peru e avó, com pé no Marrocos. Chamamos a Izabel pra clicar porque um shooting com modelo poderosa potencializa a visibilidade da marca e puxa venda.”

O mineiro Victor Dzenk permanece em seu périplo para criar moda à base de estampas exóticas e tecidos esvoaçantes. Ele ama e sua clientes fieis também. Dessa vez, os florais contracenam com cores luminosas, mas suaves, que parecem saídas das aguadas botânicas da aquarelista Margaret Mee, ao lado de outras mais fortes, com destaque para verdes, carmins e corais.

*Por Alexandre Schnabl e Ana Beatriz Lyra

Foto destaque: Reprodução/Instagram/@eduardo_uzal e @fabiocordeirofoto.

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